quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Teoria da Personalidade e Escolha Vocacional de Anne Roe

O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Psicologia de Orientação Profissional com vista a abordar a teoria psicodinâmica de Anne Roe, tem como objectivo explicar as ideias da autora em relação a escolha da carreira que cada indivíduo faz e quais as possíveis influências que as pessoas sofrem neste processo. Para além de Anne Roe, existem outros autores que representam a adaptação do pensamento psicodinâmico à Psicologia Vocacional, contam-se teóricos como Adler (1931); Bordin, Nachmann, & Segal, (1963) e Erikson (1963, 1982).

Esta perspectiva procura descrever o papel da personalidade e dos impulsos no desenvolvimento da escolha vocacional. De acordo com ela, este é um aspecto do comportamento em que a sociedade permite ao indivíduo um compromisso entre o princípio da realidade e o princípio do prazer. Os autores abordaram a infância como período relevante para os resultados de desenvolvimento vocacional do indivíduo.

O trabalho apresenta a seguinte estrutura: a teoria da personalidade e escolha vocacional de Anne Roe, hipóteses de Anne Roe, tipos de orientação, críticas a teoria de Roe segundo Osipow (1973), outras críticas e limitações da teoria, aplicação da teoria de Roe e conclusão. Para a elaboração do trabalho recorreu-se a revisão bibliográfica.










A Teoria da Personalidade e Escolha Vocacional de Anne Roe

Anne Roe, formada em Psicologia Clínica, baseou suas investigações e pesquisa dos traços de eminentes artistas e cientistas, desenvolveu uma teoria chamada teoria do desenvolvimento da carreira.

A teoria de Roe diz que a escolha ocupacional resulta da personalidade, que é produto das relações com os pais na infância. Esta teoria visa aplicar a teoria da personalidade ao comportamento vocacional. Partindo dos trabalhos iniciais de Gardner Murphy relativamente à canalização da energia psíquica e à importância das experiências precoces nas escolhas vocacionais posteriores, e da teoria da motivação de Maslow que diz que todos os seres humanos são movidos por cinco necessidades básicas que estão arrumadas em hierarquia de importâncias: fisiológica, segurança, relações sociais, auto-estima e a auto-realização. A dinâmica de cada etapa está inteiramente relacionada com a forma como as necessidades básicas correspondem à profissão. E explica de que forma as necessidades explicam as actividades profissionais.

Segundo Roe (1956), uma estrutura das necessidades individuais que é grandemente influenciada pelas satisfações e frustrações da infância podem ser satisfeitas pela futura ocupação que esse indivíduo terá, embora a escolha da categoria seja primeiramente uma função das necessidades individuais, o nível de agrupamento dentro da categoria vai de acordo com as habilidades individuais e o historial socio-económico do sujeito.

De acordo com a sua teoria esta autora desenvolveu um sistema de classificação para as ocupações que incluem oito tipos: serviços, negócios de controlo, organização, tecnologia, guarda, ciência, cultura geral, artes e entretenimento. Estes oito tipos dividem-se em dois grupos de quatro ocupações e cada um dos dois grupos enquadra-se num dos tipos de escolha profissional. Cada grupo vai de acordo com o grau de responsabilidade, competências e habilidades requeridas.

Em 1972, Roe modificou seu ponto de vista, tomando a posição de que as primeiras relações entre pais e filhos, combinavam com outras experiências de outros ambientes e influências genéticas para produzir necessidades. Ela sugeriu que a escolha ocupacional depende de como o indivíduo aprende a satisfazer essas necessidades através de dois tipos de actividades: aquelas que envolvem e aquelas excluem interacções pessoais (Yoste & Corbishley, 1978).


Hipóteses de Anne Roe
Para formulação da sua teoria, Roe partiu de duas hipóteses que são:
• A orientação no sentido das pessoas e
• A orientação no sentido das coisas ou não-pessoas.
É com base nestas hipóteses que Roe estabelece dois tipos de orientação, que podem relacionar-se com as experiências precoces e, consequentemente com as escolhas profissionais.


Tipos de Orientação
Para Roe (1956), existem duas orientações básicas:
1. A orientação no sentido das pessoas: os indivíduos que gostam de trabalhar com os outros, foram criados por pais carinhosos e são encaminhados para trabalhar com pessoas por causa da sua forte necessidade de afecto e pertença.
2. A orientação no sentido das coisas ou não-pessoas: as pessoas criadas por pais que lhes negligenciaram ou que os rejeitaram, tem necessidade de segurança, que se mostra pela sua escolha de ocupações singulares.


Críticas a teoria de Roe Segundo Osipow (1973)
A teoria de Roe gerou consideráveis pesquisas, que apesar de tudo, providenciaram poucos suportes para as suas ideias, parcialmente porque na sua crença em diferentes pratica de cuidar ou amar as crianças produzem escolhas vocacionais diferentes é difícil de validar. Muitas das pesquisas testando as hipóteses de Roe, usaram adultos que lembram da sua infância ou crianças que reportaram o clima familiar em termos simpáticos. As habilidades dos adultos em lembrar exactamente e a veracidade dos termos usados pelas crianças são questionáveis (Yoste & Corbishley, 1978).


Outras críticas e limitações da teoria
• Teoria muito simples, hipótese demasiado simples (linear) para um problema demasiado complexo;

• Alguns estudos contrariam o pressuposto de Anne Roe: a maior parte dos estudos não confirmam a teoria de que as primeiras experiências de frustração e satisfação tenham influência na escolha vocacional;

• Fala em núcleo ou ambiente familiar, não há especificação entre as variáveis pai e mãe;

• Não confirmação (não existe evidência empírica) da teoria da escolha vocacional como meio de satisfação das necessidades básicas (fundamentais);

• Os autores de orientação psicodinâmica apontam poucas recomendações acerca das suas teorias no processo de aconselhamento vocacional embora tenha chamado a atenção para aspectos nunca observados antes nas escolhas vocacionais, não deram expressão aos modelos no sentido da sua comprovação.


Aplicação da teoria de Roe
Combinando os resultados desta linha de investigação com as bases teóricas da teoria da personalidade e da teoria da motivação, Anne Roe postulou que são as relações entre a energia psíquica, a predisposição genética e as experiências precoces que moldam o estilo de funcionamento individual. Segundo a autora, a natureza da orientação das pessoas face ao meio é resultado da combinação entre uma predisposição inata para despender energia de determinada forma e as experiências vividas nos primeiros anos de vida. Esta orientação reflectir-se-á nos objectivos vocacionais dos indivíduos, na medida em que estes procurarão satisfazer necessidades de infância que não foram ainda atendidas (Roe, 1956). Neste sentido, Roe procurou tornar explícita a relação entre factores genéticos e experiências precoces de socialização, e os seus efeitos nas carreiras dos indivíduos (Osipow & Fitzgerald, 1996).






Conclusão

De acordo com esta teoria, a escolha ocupacional é influenciada pelas interações pessoais que o indivíduo teve na sua infância. Roe, considera que o indivíduo passa por diversas influências tanto ao nível familiar como cultural e social, também procura explicar como este processo ocorre tendo em conta os factores fisiológicos, psicológicos e sociológicos do indivíduo. Estas influências contribuem para a escolha da futura carreira.

Sendo assim, torna-se importante fazer uma análise profunda das interações tanto ao nível familiar como cultural para se ter uma maior visão do indivíduo. Tendo em conta que o indivíduo não é um produto somente da família ou da cultura, há que ter em consideração todos os aspectos positivos e negativos que em algum momento podem fazer com que um indivíduo opte por uma dada profissão.

Contudo, a escolha vocacional é determinada de forma inconsciente pelas primeiras experiências de satisfação e frustração do indivíduo.















Referências Bibliográficas

Osipow, H. & Fitzgerald, F. (1996). Theories of career development. Allyn & Bacon: Needham Heights.

Roe, A. (1956). The psychology of ocupaction. A Wiley Imprint: New York

Yoste, E. & Corbishley, M. (1987). Career Counseling: a Psychological Approach. A Wiley Imprint: San Francisco.

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