sexta-feira, 15 de abril de 2011

Abordagem Centrada na Pessoa aplicada à Educação

Autor: Fernando Marrengula

Rogers caracteriza o aprendiz, o aluno, como uma pessoa completa e não unicamente um intelecto, um processo cognitivo a ser desenvolvido. O foco da Abordagem Centrada na Pessoa é sobre a pessoa em sua experiência total: de emoção, sentimentos, afectos e valores, bem como cognição. Esta Abordagem apresenta como centro de seus estudos a pessoa que experiência emoções, sentimentos e cognições nas diferentes situações vividas, articulando-as e dando-lhes significado. Para actualização de seu potencial, considerada motivação básica em todos os seres humanos, estes buscam a autonomia, a auto-realização e a integração.
No nosso país a educação está a conhecer uma nova realidade, com a introdução do ensino centrado no aluno, que esta a suscitar uma grande controvérsia em torno do mesmo. Foi em vertude deste panorama que se vive que levo-me a escolher esta temática, visando buscar alguns subsídios para uma maior compreensão desta abordagem aplicada à educação.
O trabalho encontra-se organizado da seguinte forma: introdução, pressupostos fundamentais da Abordagem Centrada na Pessoa, Aprendizagem Centrada no aluno: Princípios e Qualidades, o processo de aprendizagem, criticas à introdução do ensino centrado no aluno em Moçambique, descrição do caso- Instituto Nília, organização da aprendizagem no Instituto Nília, considerações finais.
Para a elaboração da presente trabalho recorreu-se a revisão bibliográfica e uma visita ao Instituto Nília recorrendo a uma entrevista semi-estruturada.


2.Pressupostos Fundamentais da Abordagem Centrada na Pessoa
Psicólogo americano, Carl Rogers foi pioneiro no desenvolvimento de métodos científicos que tinham como objectivo o estudo da mudança nos processos psicoterapêuticos, vindo a criar e a desenvolver um modelo de intervenção que designou inicialmente por Terapia Centrada no Cliente. A Abordagem Centrada na Pessoa foi uma expressão utilizada por Carl Rogers para referir uma forma específica de entrar em relação com Outro, estando implícito um modo positivo de conceptualizar a pessoa humana (Capelo, 2000).
Na sua evolução, as idéias do autor passam do campo exclusivo da Psicoterapia para serem aplicadas em áreas como os Grupos, as Organizações e a Educação (Capelo, 2000).
Progressivamente a filosofia de base humanista, a que está subjacente o quadro conceptual da Abordagem Centrada na Pessoa, foi encontrando eco em pessoas de horizontes profissionais diversos, nomeadamente no domínio da Educação, acabando por se constituir um Movimento que é conhecido actualmente como Abordagem Centrada na Pessoa (Capelo, 2000). Este pode ser definido como integrando três pressupostos de base:

1.Uma concepção do homem alicerçada nos princípios da corrente humanista da Psicologia.
Relativamente ao a este pressuposto Rogers (1989, citado por Capelo, 2000), refere que a Abordagem Centrada tem como principal premissa "uma visão do homem como sendo, em essência, um organismo digno de confiança". Por outro lado, dois conceitos foram desenvolvidos por Rogers, e que são considerados como fundamentais para a compreensão do seu modelo e que são: Tendência Actualizante e a Não Directividade.
Tendência Actualizante
De acordo com Rogers (1989, citado por Capelo, 2000), todo o organismo é movido por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades e a desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento. A tendência actualizante não visa somente a manutenção das condições elementares de subsistência como as necessidades de ar, alimentação. Ela preside, igualmente, actividades mais complexas e mais evoluídas tais como a diferenciação crescente dos órgãos e funções; a revalorização do ser por meio de aprendizagens de ordem intelectual, social, prática.

Não Directividade
A definição de não directividade passa, segundo Rogers(1989, citado por Capelo, 2000), pelo acreditar que o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido. Em oposição a outros modelos de intervenção, Rogers propõe um que acredita na autonomia e nas capacidades de uma pessoa, no seu direito de escolher qual a direção a tomar no seu comportamento e sua responsabilidade pelo mesmo.
De acordo com Gobbi & Missel (1998), a não directividade é, antes de tudo, uma atitude em face do cliente. É uma atitude pela qual o terapeuta se recusa a tender imprimir ao cliente uma direcção qualquer, em um plano qualquer, recusa-se a pensar o que o cliente deve pensar, sentir ou agir de maneira determinada. Definida posteriormente, é uma atitude pela qual o conselheiro testemunha que tem confiança na capacidade de auto-direção do seu cliente.
Neste sentido a Não Directividade pode ser entendida como uma forte subscrição do conceito de Tendência Actualizante na medida em que "É uma confiança de que o cliente pode tomar as rédeas, se guiado pelo técnico, é a confiança de que o cliente pode assimilar insight se lhe for inicialmente dado pelo técnico, pode fazer escolhas Rogers (1989, citado por Capelo, 2000).
A atitude não directiva pode ser transmitida através das respostas reflexo de sentimento ou reformulação, que é a forma que o terapeuta utiliza para acompanhar o cliente, sem o dirigir ou seja acompanhá-lo a partir do seu (cliente) quadro de referência.

2.Uma abordagem fenomenológica que privilegia a experiência subjectiva da pessoa, implicando que o conhecimento que se tem do outro surge a partir da compreensão do seu quadro de referências.
3.Uma forma de entrar em relação que se constitui como um encontro entre pessoas.
Relativamente a estes dois últimos pressupostos Rogers (1989, citado por Capelo, 2000), salientou em particular à forma como a pessoa entra em relação com outra. Assim, enumerou e definiu um conjunto de atitudes que considerou facilitadoras do processo de comunicação inter-humana. No caso específico da temática em referência, a qualidade de relação que se estabelece no contexto pedagógico, nomeadamente as atitudes do professor para com o aluno, determinam não só o nível qualidade da aprendizagem, como também o próprio desenvolvimento pessoal do aluno.
Aceitação positiva incondicional
Esta traduz-se pela aceitação incondicional da pessoa por parte da outra, tal como ela é, sem juízos de valor ou críticas a priori (Rogers, 1985 citado por Capelo, 2000). Desta forma, a pessoa pode sentir-se livre para reconhecer e elaborar as suas experiências da forma como entender e não como julga ser conveniente para o outro. Poderá então sentir que não é necessário abdicar das suas convicções para que os outros a aceitem.
A aceitação positiva incondicional é uma atitude assente na crença no potencial interno humano, derivando do principal conceito proposto por Rogers a Tendência Atualizante (Gobbi e Missel, 1998).

Compreensão empática
Rogers definiu compreensão empática como uma "capacidade de se imergir no mundo subjectivo do outro e de participar na sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal ou não verbal o permite. É a capacidade de se colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê"(Gobbi & Missel, 1998).
Assim podemos dizer que a compreensão empática é um processo dinâmico que significa a capacidade de penetrar no universo perceptivo do outro, sem julgamento, tomando consciência dos seus sentimentos, sem no entanto, deixar de respeitar o seu ritmo de descoberta de si próprio (Rogers, 1985) e a pessoa sente-se não apenas aceite, mas também compreendida enquanto pessoa na sua globalidade.

Congruência
Finalmente, a congruência pretende indicar o estado de coerência ou acordo interno e de autenticidade de uma pessoa, a qual se traduz na sua capacidade de aceitar os sentimentos, as atitudes, as experiências, de se ser genuíno e integrado na relação com o outro (Rogers, 1985)
Rogers defende que, se estas atitudes, que designou condições facilitadoras, estiverem presentes na relação, a pessoa entra num processo de aceitação de si própria e dos seus sentimentos, tornando-se por isso, na pessoa que deseja ser, mais flexível nas suas percepções, adaptando objectivos mais realistas para si própria e, simultaneamente, torna-se mais capaz de aceitar os outros (Rogers, 1985).
Desta forma, uma relação assente nas atitudes acima descritas pode sintetizar-se nos termos seguintes: respeito, confiança, aceitação, autenticidade, tolerância.  

3.Aprendizagem Centrada no aluno: Princípios e Qualidades
Rogers apresenta um modelo educativo mínimo inovador, onde o centro das suas considerações é a pessoa do aluno, em contraste com um modelo tradicionalista em tudo gira à volta da figura do professor (Capelo, 2000). Neste modelo Rogers demonstra as formas mais adequadas de facilitar o processo de aprendizagem.

3.1.Princípios para o desenvolvimento de aprendizagem
Das obras consultadas podemos destacar alguns princípios definidos pelo autor como fundamentais para o desenvolvimento do processo de aprendizagem:
O ser humano contém em si uma potencialidade natural para a aprendizagem (Rogers, 1986).
Não podemos ensinar, apenas podemos facilitar a aprendizagem (Rogers, 1974).
A aprendizagem significactiva acontece quando o assunto é percebido pelo aluno como relevante para os seus propósitos, o que significa que o aluno aprende aquilo que percebe como importante para si (Rogers, 1974).
A aprendizagem que implique uma mudança ameaçadora na percepção do self, tende para a resistência (Rogers, 1974).
As aprendizagens são melhor apreendidas e assimiladas quando a ameaça externa ao self é reduzida ao mínimo (Rogers, 1974).
A maioria das aprendizagens significativas são adquiridas pela pessoa em acção, ou seja, pela sua experiência (Rogers, 1986).
A aprendizagem qualitativa acontece quando o aluno participa responsavelmente neste processo (Rogers, 1974).
A aprendizagem que envolve a auto-iniciativa por parte do aluno e a pessoa na sua totalidade, ou seja, dimensões afectiva e intelectual, torna-se mais duradoura e sólida (Ibidem).
Quando a autocrítica e a auto-avaliação são facilitadas, e a avaliação de outrem se torna secundária, a independência, a criatividade e a auto-realização do aluno tornam-se possíveis (Rogers, 1974).
A aprendizagem concretiza-se de forma plena quando o professor é autêntico na relação pedagógica (Rogers, 1986).
Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o aluno aprenda a aprender, quer dizer que, para além da importância dos conteúdos, o mais significactivo para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem (Rogers: 1986).
Para que estes princípios estejam presentes na relação pedagógica é fundamental que o professor se torne no que Rogers designou por facilitador do processo de aprendizagem. E para que tal aconteça é essencial que haja uma segurança por parte de quem educa que lhe permita acreditar na pessoa do aluno, na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio (Rogers, 1986).

3.2.Qualidades do facilitador
Para além de enunciar os princípios que facilitam o processo de aprendizagem, Rogers propõe também um conjunto de qualidades que considerou como fundamentais para a transformação de um professor num facilitador da aprendizagem. Estas qualidades não são mais do que uma adaptação à educação das atitudes facilitadoras da mudança, propostas pelo o autor no seu modelo psicoterapêutico.

Autenticidade do facilitador é a primeira qualidade que Rogers considerou como a mais básica e que designa como a capacidade de o facilitador ser real, sem máscara nem fachada na relação com o aluno (Rogers, 1986). Desta forma, o autor crítica o ensino tradicional na medida em que o professor é um actor, representando um papel e não pessoa autêntica. A proposta de Rogers traduz-se numa relação de pessoa para pessoa e não de um papel de professor para um papel de aluno.

Aceitação e Confiança é segunda qualidade, de acordo com Rogers, se expressa numa capacidade de aceitar a pessoa do aluno, os seus sentimentos, as suas opiniões, com valor próprio e confiar nele sem o julgar. É uma confiança no organismo humano e uma crença nas suas capacidades enquanto pessoa (Rogers, 1986), ou seja, se os professores aceitam os alunos como eles são, permitem que expressem seus sentimentos e atitudes sem condenação ou julgamentos, planeiam actividades de aprendizagem com eles e não para eles, criam uma atmosfera de sala de aula relativamente livre de tensões e pressões emocionais, as consequências que se seguem são diferentes daquelas observadas em situações onde essas condições não existem(Idem).

Comprensão empática é a terceira e última qualidade que Rogers refere como a capacidade de compreender empaticamente o aluno, ou seja, compreendê-lo a partir do seu quadro de referência interno. De acordo com (Rogers, 1986), a compreensão empática acontece quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as reacções do aluno, tem uma consciência sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao aluno.

4.O processo de aprendizagem
De acordo com Capelo (2000), ensinar é a acção de comunicar um conhecimento, habilidade ou experiência a alguém, com a finalidade de que este o aprenda, utilizando para isso um conjunto de métodos, técnicas e procedimentos que se consideram apropriados
Rogers (1986), definiu aprendizagem como sendo uma "insaciável curiosidade" inerente ao ser humano e que a sua essência é o significado, o que significa que o foco está no processo e não no conteúdo da aprendizagem. O professor deve ter em conta que os alunos aprendem aquilo que para eles é significativo.
Assim, e de acordo com o ensino centrado no aluno, é importante que o professor tente encontrar o fio condutor que orienta o aluno, ou seja, ir ao encontro do que o aluno tenta compreender e, se necessário, reformular conhecimentos e o método de os ensinar. O objectivo primordial deste modelo é o de que o aluno abandone a passividade e adquira um papel activo, de intervenção no seu próprio processo de aprendizagem, o que significa que a aprendizagem deixa de estar centrada no professor, para passar a estar centrada no aluno (Capelo, 2000).
O acto de aprender é sempre um acto individual, o que significa que aquilo que se aprende, adquire em cada pessoa um sentido e um significado próprios (Capelo, 2000). Deste modo, as aprendizagens do aluno serão sempre diferentes, devendo as mesmas ser respeitadas pela pessoa do professor. Quando o foco é o aluno, a primeira coisa a ser reconhecida é que qualquer turma de alunos é constituída por indivíduos com diferentes estilos de aprendizagem. Alguns alunos tendem a focalizar mais factos, dados e algoritmos, com teorias e modelos matemáticos. Alguns podem aprender mais facilmente através de informações visuais, como figuras, diagramas e esquemas, enquanto outros conseguem entender melhor a partir de informações verbais: orais ou escritas. Uns preferem aprender activa e interactivamente, outros se adaptam melhor a uma abordagem mais introspectiva e individual.
Para esta abordagem, aprender traduz-se num processo de construção, no qual o aluno tem um papel decisivo na construção do seu conhecimento e onde o professor será o orientador, ou melhor, o facilitador desse processo, na medida em que o coordena e tutela (Capelo, 2000).
Ensinar requer, assim, e de acordo com o ensino centrado no aluno, um nível de maturidade e segurança por parte do professor, que lhe permita, por um lado, diminuir a assimetria do seu poder enquanto docente, partilhando a responsabilidade do processo de aprendizagem e, por outro, acreditar na capacidade de aprender e pensar por si próprio do aluno (Rogers, 1986).
Aprender é um processo dinâmico, que exige concentração, interesse, empenhamento e motivação, e por tal razão é importante que as relações de cooperação e participação entre professor e alunos estejam presentes (Capelo, 2000).
De acordo com esta abordagem, o aluno passa assim a ter uma participação activa e interventiva na escola. O que não significa que o professor abdique da sua responsabilidade, mas sim que permite ao aluno ter um papel activo no seu processo de aprendizagem, na qual é co-responsável.
A classe poderá, deste modo, transformar-se num grupo de pessoas, deixando os alunos de ter os olhos postos exclusivamente no professor, para passarem a olhar uns para os outros de forma interactiva. Deixam de ser um agregado de indivíduos que estão lado a lado, sem direito a comunicar, para passarem a ser um organismo vivo, em que todos os membros mantêm relações entre si (Capelo, 2000).
Rogers (1986), salienta a diferença na disponibilidade de recursos no processo de terapia e na educação para que a pessoa aprenda. Enquanto na terapia os recursos para que a pessoa aprenda como é são-lhe interiores, na educação existem também muitos recursos que são-lhe exteriores, do conhecimento, de técnicas, de teorias, que constituem a matéria prima a ser colocada à disposição dos alunos, tais como livros, mapas, gráficos, estudo de caso, reais que a vida lhe apresenta, por meio do conhecimento que a educação em seus diferentes níveis lhe disponibiliza.
No que se refere a avaliação, numa perspectiva centrada no aluno, é muito mais coerente seguirmos pela mesma linha de raciocínio. Se é o aluno que se determina a buscar seu conteúdo e a forma como será abordado, logo, ninguém melhor que este para avaliar o conhecimento que adquiriu. Só o indivíduo pode conhecer realmente sua experiência, só pode ser julgada a partir de critérios internos do organismo. O aluno deverá assumir formas de controle de sua aprendizagem, definir e aplicar os critérios para avaliar até onde estão sendo atingidos os objectivos que pretende, com responsabilidade (Rogers, 1986).

5.Críticas à introdução do ensino centrado no aluno em Moçambique
No ensino centrado no aluno, o professor tem como papel principal criar e estimular o ambiente educativo. Nesta abordagem, o ensino tem de se processar ao nível da coordenação e acompanhamento, das informações (conteúdos) devendo fornecer os contextos e o conhecimento base que promova uma verdadeira autonomia aos educandos. Neste sentido, deve, igualmente, haver uma preocupação em colocar os alunos face a problemas que exijam experimentação. Contudo, muitos professores desconhecedores desta realidade ignoram estas inovações, provavelmente por não as conhecerem e não as dominarem. Hesita-se em alterar as estruturas existentes há muito tempo, simplesmente porque as inovações exigem uma formação, uma preparação e uma organização suplementares.
Na altura da introdução deste modelo de ensino, as estruturas superios da educação no nosso país parece que não observaram uma aspecto muito importante que são os materias, que devem estar a disposição dos educandos, que vai possibilitar aos mesmo o desenvolvimento de autonomia, criatividade, responsabilidade por parte dos educandos. Outro aspecto, também não observado, foi a formação de professores capacitados ou mesmo a reciclagem dos professores em exercicio de modo a estarem capacitados para fazer face este modelo de ensino.

6.Descrição do caso- Instituto Nília
O Instituto Nília é uma escola privada, sediada na cidade de Maputo, que lecciona a pré-classe, o ensino básico e o ensino secundário. A secção dedicada a pré-escola e a primeira classe é constituida por cinco salas das quais três são ocupadas por alunos da primeira classe e duas por alunos da pré-escola, sendo que em cada turma existem, em média, vinte e cinco alunos.
As salas são arejadas, coloridas, limpas e espaçosas, e outros espaços como corredores, secretaria e pátios também conservam estas mesmas características. Para trabalhar, os professores não usam nenhum quadro e os alunos sentam-se em mesas redondas de cinco alunos cada uma. Existe em cada sala todo material didáctico que os alunos necessitam e algum material auxíliar como televisor, aparelho de som, espelho. Também faz parte da constutuição da escola uma pequena sala onde quardam jogos e outro material didático, uma secretaria e três sanitários. A escola dispõe ainda de uma pátio com o chão revestido de areia, com baloiços, escorregas e outros acessórios que servem para as crianças descontrairem e brincarem na hora do recreio.
A escola possui três professores que orientam a primeira classe, dois que orientam a pré-escola, duas assistentes e uma funcionária da secretaria.

6.1.Organização da aprendizagem
A organização do processo de aprendizagem na seccão dedicada a pré-escola e o ensino básico, de acordo com a professora Kátia (comunicação pessoal), existe uma série de actividades diárias que são programadas para os alunos, porém, estes tem a liberdade de escolher uma em cada momento, esperando-se que este aluno, no fim do dia tenha passsado por todas as actividades programadas para aquel dia. O aluno tem a liberdade de escolher o livro e a página que quer trabalhar num dado momento. Estes alunos ficam divididos em pequenos grupos, de cinco a seis alunos dispostos em mesas redondas, onde fazem actividades de forma individual ou grupal.
Segundo a professora Kátia (comunicação pessoal), os professores funcionam como orientadores da aprendizagem, visto que a medida em que os alunos terminam uma actividade, vão ter como o professor para dar uma parecer, e este amavelmente dá o seu parecer sem dizer se esta certo ou errado, somente encoraja os mesmos no sentido de serem mais criativos nas suas actividades. Os aluno não são pressionados, trabalham de forma livre, tem à sua disposição material necessário para a realização das actividades.
De acordo com a professora Kátia (comunicação pessoal), nesta escola, o processo de ensino em geral, é conduzido levando em consideraçao a idade maturacional dos alunos, não a idade cronológica. Este processo visa o desenvolvimento da criatividades, autonomia, aquisição de valores, habilidades comunicativas e ainda proporcionar oportunidades para a interacçao social, crescimento à todas as crianças da escola.
Quanto a avaliação, a professora Kátia referiu que esta não é aquela tradicional, em que há uma atribuição de notas, ou seja, não é quantitativa, mais sim e feita em termos qualitativos, repara-se mais para o que aluno aprendeu desde a sua entrada na escola.


7.Considerações finais

O modelo educativo proposto por Rogers, no âmbito da Abordagem Centrada na Pessoa e que designou por Aprendizagem Centrada no Aluno, tem como objectivo principal permitir ao aluno uma participação activa no seu processo de aprendizagem, ou, se quisermos, no seu processo de crescimento pessoal, no pressuposto de que esta cooperação melhora a eficácia da acção pedagógica.
Como a qualidade do processo aprendizagem passa, por um lado, pela construção de uma relacção pedagógica, com base na aceitação e compreensão da pessoa do aluno e, por outro, pelo pressuposto de que o aluno contém em si potencialidades para aprender e como tal terá motivação para o fazer, o papel do professor facilitador será, assim, o de estimular e desenvolver as potencialidades do aluno e simultaneamente manter a motivação necessária ao seu crescimento e desenvolvimento pessoal.
Desta forma, escola e professores podem ter um papel importante na descoberta dos interesses dos alunos e desenvolvê-los de forma a criar hábitos de pesquisa, que lhes permitam manter a motivação para aprender e encontrar métodos de estudo adequados às suas próprias necessidades.
Este modelo exige que se criem condições que possibilitarão o desenvolvimento da criatividade e autonomia nos aluno, essas condições devem ser internas ou externas ao facilitador.
Aprendizagem Centrada no Aluno, no nosso contexto moçambicano é aplicada de forma integral no Instituto Nília, onde o processo de ensino e aprendizagem é focalizado no aluno, este tem a liberdade escolher diariamente a actividade que tem significado para ele, proporcionando-lhe deste modo o desenvolvimento da criatividade, autonomia, aquisição de valores, habilidades comunicativas e ainda oportunidade para a interacçao social. A escola dispõe de um ambiente propicio e um conjunto de material didáctico necessário para a aprendizagem. Os professores nesta instituição tem o papel de facilitar o processo de aprendizagem.


8.Referências bibliográficas  
Capelo, F., (2000).  Aprendizagem Centrada na Pessoa: Contribuição para a compreensão do modelo educativo proposto por Carl Rogers. Disponível em http://www.encontroacp.psc.br/aprendizagem.htm acessado em 10 de Novembro de 2010.
                                                  
Gobbi, S., & Missel, S. (Org.) (1998). Abordagem Centrada na Pessoa: Vocabulário e Noções Básicas. Editora Universitária unisul.

Rogers, C., (1974). A Terapia Centrada no Paciente. Lisboa: Moraes Editores.

Rogers, C., (1985). Tornar-se Pessoa. Lisboa: Moraes Editores.

Rogers, C., (1986). Liberdade de Aprender em Nossa Década. Porto Alegre: Artes Médicas.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Organizando a equipa do Projecto

In: Weiss, J. & Wysocki, R. (1992)

Na construção da equipa, aspectos técnicos devem merecer a mesma consideração que os papeis críticos e a química entre o gestor e a equipa do trabalho. Este capítulo cobre: Dando atenção às características importantes que deviam fazer parte de um gestor de progecto e uma equipa eficaz; Criar um livro de controlo para que sirva de assistência no processo de selecção; Sugerir padrõs para organizar o projecto numa organização.

Escolhendo o gestor do projecto
O gestor do projecto é uma das pessoas mais importantes no projecto. Ele tem um papel importante no planeamento e execução do projecto. O gestor do projecto também representa a imagem e a realidade do projecto para a organização e para grupos externos.

Tempo
O tempo necessário para escolher um gestor do projrcto varia. Em organizaçãoes maiores, o gestor do projecto pode ser indicado após a aprovação da proposta pelos gestores séniores. Uma regra a lembrar é: “quanto mais cedo o gestor do projecto e a equipa forem integrados no planeamento do projecto, maior será o seu cometimento ou a entrega será para a sua implementação”.

Critérios de Selecção
Para alcançar esse fim, as características predominantes de um gestor do projecto eficaz podem ser resumidas em: historial e experiência; liderança e conhecimento estratégico; experiência técnica; competência inter-pessoal; habilidades de gestão testadas.
Em geral, é preciso escolher um candidato com uma boa mistura de habilidades conceptuais, analíticas, operacionais e experiência prática.

Determinando as necessidades do pessoal: seleccionando a equipa do projecto
Factores dos quais dependem a selecção do pessoal são: a meta e os objectivos do projecto; a natureza do trabalho técnico por se fazer; a experiência exigida para recrutar, alocar, delegar, monitorar, comunicar e executar o trabalho em cada fase; disponibilidade do pessoal do projecto na organização onde o projecto será efectuado.

Critérios de Selecção
O mesmo critério usado para recrutar o gestor do projecto deve ser usado para recrutar a equipa. Os critérios são: cometimento para com a meta do projecto e o seu término; habilidade de comunicar e partilhar responsabilidades e poder; flexibilidade e habilidade de mudar de uma actividade para outra dependendo da duração e necessidade do projecto; competência técnica; vontade de admitir erros e parcialidades e de ser corrigido; orientação para actividade; habilidades de perceber o trabalho dentro da duração, limitações de recursos, disponibilidade para trabalhar em horas extras, se necessário; capacidade de confiar, ajudar os outros e receber ajuda; um jogador da equipa e não um heroi das suas causas; empreendedor, mas aberto à sugestões; habilidade de trabalhar com dois ou mais chefes; habilidade de trabalhar sem ou com estruturas formais e sistemas de autoridade; ter conhecimento e experiência com ferramentas de gestão de projectos.

Organizando e implantando projectos
O escritório do projecto é o ponto focal onde o pessoal do projecto interage externamente com clientes e internamente com as diferentes unidades da organização.

Critérios para determinar a localização do projecto são: liste os maiores resultados e objectivos desejados; liste as actividades chaves por objectivos e localize as unidades funcionais da organização para cada actividade;quebre as actividades em pacotes de trabalho; determine que subsistemas do projecto são necessários para completar os pacotes de trabalho e quais deles irão trabalhar de perto com os outros; liste as características e assunções especiais do projecto (tecnologia, pessoal, etc.); escolha uma estrutura e localização baseada na análise acima.

Não existe uma forma fácil ou padronizada para organizar uma equipa do projecto. Flexibilidade é a chave e trabalhar dentro e entre unidades da organização é a norma. É o gestor do projecto que em concerto com a equipa desenvolve contratos psicológicos e escritos para assistir os papeis e responsabilidades multifuncionais.

Possessão Vs Trauma

O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Perspectivas Africanas dos Fenomenos Psicológicos e tem como principal objectivo analizar alguns aspectos do texto de Paulo Granjo (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218648889I2wZR8sa3Hs54SJ3.pdf) e Ilunde Cabral (http://www.uc.pt/en/cia/publica/AP_artigos/AP22.23.06_Cabral.pdf) referentes ao fenómeno psicológico, sua interpretação pela psicologia moderna e pela cultura moçambicana, tratamento cultural moçambicano do fenómeno, seu resultado, e dar um parecer crítico.

2. Identificação do fenómeno psicológico
O fenómeno em causa no texto pode ser identificado como tráuma psicológico pós-guerra.

3. Apresentação da interpretação do fenómeno pela Psicologia moderna
Segundo Pepulim (2007), a palavra trauma é oriunda do grego (tráuma), a qual significa ferida. Para Freud citado por Batista (s/d), trauma psíquico é compreendido, como experiências emocionais que se constituem como factor etiológico para o aparecimento da Histeria, ou seja, é toda impressão ou vivência que provoque afectos penosos de medo, susto ou vergonha e que o sistema psíquico tem dificuldade para resolver por meio do pensamento associativo ou por reação motora.
Trauma psicológico é o dano provocado à estrutura mental, sem lesão física aparente. O trauma acarreta uma exacerbação do medo, o que pode conduzir ao stress, envolvendo mudanças físicas no cérebro e afectando o comportamento e o pensamento da pessoa, que fará de tudo para evitar reviver o evento que lhe traumatizou. Igualmente, pode acarretar depressão, comportamentos obssessivos compulsivos e outras fobias ou transtornos , como o de pânico. Um evento traumático envolve uma experiência ou série de experiências repetidas que afectam a maneira do indivíduo lidar com idéias ou emoções envolvidas com aquela experiência, podendo às vezes durar semanas ou anos. De acordo com Mestriner (s/d), alguns sintomas podem se notar no individuo traumatizado, tais como: ataques de pânico, ansiedade e fobias; Comportamentos de evitação (evitar lugares, atividades, movimentos, lembranças ou pessoas); Atração para situações de perigo; Comportamentos de vícios (comer demais, beber, fumar etc.); Atividade sexual exagerada ou diminuída; Amnésia e esquecimentos; Inabilidade de amar, nutrir ou se comprometer com outras pessoas; Medo de morrer ou de ter uma vida curta; Automutilação (cortar-se, machucar-se); Perda de crenças (espiritual, religiosa e interpessoal).

4. Apresentação da interpretação do fenómeno pela cultura moçambicana
Moçambique é um país multicultural. Um determinado fenómeno pode ser interpretado de formas diferentes dependendo da cultura. Segundo Granjo (2007), a possessão pelos espíritos e a adivinhação são elementos centrais dos modelos interpretativos das culturas a Sul de Moçambique. Fazem parte de um sistema mais geral de crenças, práticas e comportamentos relativos ao bem‐estar e normalidade social que é a chamada medicina ‘tradicional’. O espírito pode tanto ajudar como afligir os vivos. A saúde e bem‐estar do indivíduo dependem da harmonia na sua relação negociada com os espíritos dos mortos, e a doença resulta frequentemente do comportamento indevido dos vivos face aos mortos. Os espíritos exprimem o seu desagrado através da produção de situações problemáticas e ‘patológicas’ no indivíduo vivo, cuja resolução depende de ele observar uma série de condições. A entidade ‘espírito’ é ao mesmo tempo agente patogénico e agente de cura.
Na cultura Moçambicana a saúde é mais do que um processo corporal de bem‐estar normalizado; é um processo de vida definido por relações harmoniosas entre o ser humano e o meio ambiente, o ser humano e os espíritos dos seus antepassados, e entre espíritos ancestrais e o meio ambiente. O ‘azar da doença’ raramente é fruto do acaso, resultando da acção do meio ambiente contaminado, de espíritos ancestrais descontentes ou de feiticeiros (Granjo, 2007).
Porque os espíritos podem influir com bastante força nas acções,comportamentos e capacidades físicas, emotivas e racionais do hospedeiro,a possessão é concebida não apenas como um comportamento problemático mas como uma verdadeira doença, a maior (e às vezes a única) responsável pelos problemas do indivíduo na adaptação socio‐familiar, após o seu regresso à vida civil.

5. Apresentação do tratamento cultural moçambicano do fenómeno e seu resultado
O tratamento deste fenomeno varia de cultura a cultura dependendo de como cada uma interpreta o fenomeno. No sul de Moçambique o fenomeno em questão pode ser considerado como possessão de espiritos. O espírito pode tanto ajudar como afligir os vivos. De acordo com Granjo (2007), para o tratamento da doença, há certos procedimentos que devem se ter em consideração: o nyamussoro (curandeiro) tem antes de diagnosticar (os contornos concretos do problema) e adivinhar (identificar o(s) espírito(s) por detrás do problema e as suas exigências). A cura ocorre através da execução de rituais de purificação ou kuhlapsa e rituais de exorcismo ou kufemba, que podem ser complementados por rituais secundários e remédios ervanários, que no seu conjunto servem para “endireitar” a vida e o comportamento social do paciente.
O ritual de purificação kuhlapsa tem a capacidade de identificar os espíritos possuidores e fazê‐los abandonar o hospedeiro, curando a doença. É um ritual de reequilíbrio social, espaço de cura física e simbólica, domínio de reabilitação, reconstrução identitária, reintegração, e reconciliação. O kuhlapsa não serve apenas para curar, serve também para prevenir o potencial de doença ou ‘azar’ trazido da guerra. O ‘azar’ da possessão é uma consequência potencial, mas não inevitável, da experiência de guerra (Granjo, 2007).
O ritual kuhlapsa apresenta uma forma geral uniforme, com pequenas variações de conteúdo simbólico para adaptar o ritual a cada caso. Idealmente o kuhlapsa é realizado dentro da casa do indivíduo doente (caso não haja casa, no espaço físico da mesma), para que ele beneficie do apoio dos espíritos ancestrais na purificação. Quanto mais cedo for feito o ritual após o retorno do doente, melhor. Quanto mais tempo passa após o retorno, menos forte é o efeito do ritual e maior é a necessidade de repetir várias vezes a aplicação do medicamento para que o indivíduo fique completamente livre dos espíritos que o possuem.
Uma forma comum de realização do ritual é a seguinte: a família do indivíduo retornado, solicita um tinyanga local para a cerimónia. Este, já informado que se trata de um retornado
da guerra, define o quadro de acção ritual a realizar, e procura no mato ingredientes para o medicamento. No espaço físico do ritual (a casa, o pátio ao ar livre ou uma pequena cabana construída para o acto) o tinyanga executa uma consulta de diagnóstico de problema, recorrendo à adivinhação por ossículos mágicos, através dos quais conversa com os espíritos presentes no doente. Nesta conversa tinyanga identifica os espíritos, as exigências destes e convence‐os a abandonar o corpo hospedeiro. O abandono é negociado, mediante a explicação das condições de guerra nas quais o doente agiu ‘mal’ (sob efeito de drogas, sob ameaça de morte), a apresentação formal dum pedido de desculpas e a satisfação das exigências dos espíritos, caso a explicação e o pedido de desculpas não sejam suficientes. Depois o tinyanga
prepara o ‘medicamento’ em água fervente, e utiliza‐o para literalmente dar um banho ao doente. Este banho lava simbolicamente os espíritos possuídos para fora do doente, purificando‐o e eliminando deste modo os elementos nocivos que possam perturbar ou adoecer o indivíduo. Depois do banho, o ‘novo’ indivíduo, já separado da identidade de combatente, pode sofrer algumas pequenas incisões corporais (sobretudo na parte superior do tronco) onde o tinyanga introduz outros medicamentos que reforçam a cura pela purificação (Granjo, 2007).
Há variações quanto ao medicamento e ao modo como os espíritos possuídos são ‘lavados’: no espaço físico do ritual o tinyanga mata um animal de pequeno porte e mistura o sangue deste com as cinzas dos pertences do doente relacionados com a experiência de guerra (roupas, sapatos, etc.), previamente queimados, e lava o doente com este preparado; simbolizando nas cinzas a morte da experiência de guerra e da identidade de “combatente”, e no sangue a purificação. Outra versão é queimar os mesmos pertences e colocar as cinzas num recipiente fechado (por exemplo uma garrafa, que é depois atirado, de costas, num cruzamento de vias de comunicação; simbolizando a separação ou tomada de caminhos diferentes entre o indivíduo doente e o indivíduo purificado, socialmente renascido.
Durante o ritual não se chega a falar da experiência de guerra do doente, apenas se medicaliza os comportamentos anormais reais ou previstos. O ritual geralmente precavê contra a totalidade de eventos potencialmente experienciados em contexto de guerra. Não há um medicamento único, para cada caso elabora‐se uma receita adequada. As diferenças na execução do ritual têm a ver mais com a variação nos sintomas provocados pela doença da possessão, do que com o conteúdo da experiência em si: dois indivíduos com uma experiência de guerra similar – por exemplo duas crianças‐soldado que foram combatentes – podem necessitar de kuhlapsa diferentes. O ritual de purificação actua em três vertentes: reabilitação, reintegração e reconciliação (Granjo, 2007).
De acordo com dados recolhidos em uma entrevista a um médico tradicional da cultura Chuabo do centro de Moçambique província da Zambézia residente em Maputo (Ludovico, 2011), o fenómeno em questão não é identificado como possessão de maus espiritos mas sim apenas como recordações da guerra pelo facto do individuo não ser tratado tradicionalmente antes e depois da guerra. O nome do tratamento do fenómeno é Unsúluso ou Osiwomússoro que quer dizer lavar cabeça. O médico tradicional que executa este tipo de tratamento chama-se Muláula que é o nome impregue aos médicos tradicionais mais competentes. O muláula tem que fazer mistura de certos elementos para formar o medicamento: retira a água do rio exatamente no local onde há um remuinho de água, mistura com uma planta de nome wiriwire e adiciona a parte do coqueiro que foi atacada pelo relâmpago. Depois da mistura feita o individuo é vacinado (pequenos cortes com lamina na pele e introduzir o medicamento) em duas partes do corpo que são: na parte superior das costas e no peito do indivíduo. O médico tradicional afirmou que após o tratamento o individuo fica curado até mesmo aqueles que se encontram em estados de possessão muito penosos.

6. Considerações finais
Moçambique é um país multicultural. Um determinado fenómeno pode ser interpretado de formas diferentes dependendo da cultura em que este ocorre. O fenómeno em causa no texto de Paulo Granjo e Ilundi Cabral é interpretado de formas diferentes em Moçambique, pois na região Sul é tido como possessão de espiritos e na região Centro é tido apenas como recordações de guerra causadas por ausência de tratamento tradicional antes e depois da guerra.
Com os textos, nota-se que os procedimentos de tratamento tem efeitos positivos no que diz respeito a doença ou o mal-estar no individuo. É de salientar que a cura depende das crenças do indivíduo em relação ao tratamento.
Como psicólogo, atendendo e considerando que os procedimentos científicos de cura usados pela Psicologia para garantir o bem-estar ou a saúde dos pacientes tem em muitos casos, e não todos, suscitado resultados positivos nos individuos, ela deve procurar interagir com outras formas de saber seja do senso comum como outras áreas científicas de modo a ter uma compreensão holistica do ser humano garantindo uma intervenção mais abrangente.
O individuo é dotado de crenças culturais, a eficácia e eficiência do tratamento não so depende dos conheciementos e técnicas psicológicas mas também depende das crenças que o individuo possui do tratamento. Nota-se que tanto o psicólogo como os médicos tradicionais usam procedimentos diferentes no processo de tratamento mas ambos conseguem a cura do individuo. Contudo, é bastante importante conciliar as teorias/conhecimentos científicos aos conhecimentos ou normas cultuais do individuo, é também importante que haja interação entre os psicólogos e os médicos tradicionais moçambicanos de modo a se contextualizar as teorias facilitando assim o processo de intervenção psicológico.

7. Referências bibliográficas
• Mestriner, A. (s/d). Vida Sem Estresse. Acessado no dia 4 de Abril de 2011 em http://www.vidasemestresse.com.br/page7/page4/page4.html.
• Pepulim, P (2007). Blog trauma: Definição de trauma. Acessado no dia 4 de Abril de 2011 em http://notrauma.blogspot.com/2007/08/definindo-trauma.htmln.
• Batista, F. (s/d). A Concepção de Trauma em Sigmund Freud e Sándor Ferenczi. Acessado no dia 4 de Abril de 2011 em http://www.fundamentalpsychopathology.org/anais2006/4.26.3.1.htm.
• Granjo, P. (2007). Limpeza ritual e reintegração pós-guerra em Moçambique, Análise Social. Acessado no dia 6 de Abril de 2011 em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218648889I2wZR8sa3Hs54SJ3.pdf

terça-feira, 5 de abril de 2011

Stress, conceitos e modelos teóricos

Autor: Fernando Marrengula


As transformações do mundo moderno promoveram um grande impacto na sociedade. Considerando a agilidade destas mudanças que foram ocorrendo ao longo do tempo, não foi possível ao ser humano se adaptar rapidamente a nova realidade. A alta compectitividade no mercado de trabalho, o elevado “desejo” de consumo, o medo de estabelecer um relacionamento com as outras pessoas e a auto- exigência tem gerado insegurança que interfere na saúde mental das pessoas, pois a maneira como estão vivendo está distante do que haviam planeado para as suas vidas. Estas situações causam desconforto, propiciando o estado de stress, que exige do indivíduo o desenvolvimento de habilidades para enfrentá-las, a fim de evitar o adoecimento.

O stress é uma resposta complexa do organismo, que envolve reações físicas, psicológicas, mentais e hormonais frente a qualquer evento que seja interpretado pela pessoa como desafiante.

O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Psicologia da Emoção, Stress e Comunicação convista a comprender e explorar conceitos e modelos teóricos inerentes ao Stress.

O trabalho apresenta a seguinte estrutura: introdução, discussão de conceito de stress, modelos teoricos, teoria de temas de vida do stress recorrente e crônico, modelos transacional de Lazarus, Teoria de síndrome geral de adaptação de Hans Selye, modelo da conservação de recursos de Hobfool e Freedy, reação de emergência Cannon-Bard e a conclusão.

Para a elaboração do trabalho recorreu-se a revisão bibliográfica do material que aborda assuntos sobre o Stress.




2. Discussão do conceito de Stress
A palavra "Stress" etmologicamente é de origem inglesa que significa esforço de adaptação do organismo para fazer face a situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno ( Vieira, 2009).

Stress como processo é a tensão diante de uma situação de desafio: por ameaça ou conquista. O stress como estado é o resultado positivo ou negativo da tensão realizada pela pessoa (França & Rodrigues, 2005 citados por Vieira, 2009).

Reação psicofisiológica muito complexa, que tem, em sua gênese, a necessidade de o organismo lidar com algo que ameaça sua homeostase ou equilíbrio interno (Lipp 2004, citado por Vieira, 2009 ).

Stress pode ser entendido como uma tensão física, psíquica, social, positiva ou negativa, que decorre de um esforço desmedido do indivíduo para responder a determinadas exigências externas (Mendes & Cruz, 2004 citados por Vieira, 2009).

Apesar da existência diversos conceitos para a compreensão do stress, existem pontos em comum entre eles, que definem o stress envolvendo sempre: um estímulo externo, produzido a partir das situações do quotidiano; repostas psicológicas frente àquele estímulo e uma gama de consequências, nas quais o bem–estar do indivíduo está envolvido, como também, a compreensão de que a relação destes estímulos externos com o stress pode estar moderada por características do indivíduo e da situação.

O stress não deve ser considerado apenas como algo negativo, pois muitas pessoas ao buscarem a superação de seus limites optam por vivenciar situações de stress em diversos momentos de sua vida, como por exemplo, na escolha do desporto e ou da profissão. Sendo assim, o stress pode ser considerado como um mecanismo de adaptação utilizado pelas pessoas para responder as “exigências do meio externo, ou para responderem as metas que elas próprias se fixam”. O estímulo stressor, quando é interpretado como desafiador, provoca um quebra na homeostase do funcionamento interno que, por sua vez, cria uma necessidade de adaptação para preservar o bem-estar e a vida. A necessidade de adaptação exige a emissão de vários comportamentos adaptativos que se constituem na forma como a pessoa lida com o stress, ou seja, suas estratégias, adequadas ou não de enfrentamento.


Definiçôes do stress pelo senso comum
A palavra stress se refere-se a uma tensão mental ou física que os individuo experiencia no quotidiano, e é provocado por estimulos que ameaçam o bem-estar dos individuos.

É o desgaste mental que depois de uma grande e intensa actividade num curto espaço de tempo, culminando numa fadiga de espirito e corpo.

É a sensação ou estado de tensão, fadiga mental e/ou psicológico causado por estimulo tão repetitivo e desagradável.

É um estado de tensão, desgaste provocado pela descarga mental e fisica do individuo.


3.Modelos teóricos do stress

3.1. Teoria de temas de vida do stress recorrente e crônico

Os temas de vida funcionam como um referencial emocional que leva a pessoa a seleccionar, embora não intencionalmente, determinadas situações, parceiros e oportunidades semelhantes a situações do passado e que ofereçam repetição de sentimentos, atitudes e papéis. Os temas, que se repetem inúmeras vezes na vida dessas
pessoas, geram um nível de stress excessivo e contribuem para uma sensação crônica de fragilidade. É como se essas pessoas procurassem reviver os temas que são característicos de suas vidas. Esses temas agiriam como verdadeiros cenários nos quais a vida desenrola-se e onde elas parecem contracenar com pessoas diferentes, mas sempre mantendo o mesmo script ( Lipp, 2006).




3.2. Modelos transacional de Lazarus

Esse modelo, também chamado de modelo cognitivo, sublinha a importância de processos mentais de juízo para o stress: segundo ele, as reações de stress resultam da relação entre exigência e meios disponíveis. Essa relação é, no entanto, mediada por processos cognitivos (juízos de valor e outros). Assim, não apenas factores externos podem agir como stressores, mas também factores internos, como valores, objectivos (Telles-Correia & Barbosa, 2009).

Esta teoria realça a interdependência entre as cognições, as emoções e os comportamentos. Trata-se duma perspectiva na qual se destacam dois tipos de processos, a avaliação e o coping, os quais se referem à relação que se estabelece entre o indivíduo e o seu meio ambiente (Martins, s/d).

De acordo com Martins (s/d), a avaliação inclui a avaliação primária (mediante a qual a pessoa avalia a importância do acontecimento para o seu bem-estar) e a avaliação secundária (em que a pessoa avalia a sua capacidade para lidar com a situação).

O coping refere-se ao processo de lidar com as exigências internas e/ou externas que excedem os recursos da pessoa. A avaliação e o coping são processos transaccionais, na medida em consideram não o meio ou a pessoa considerados isoladamente, mas sim a integração de ambos numa determinada transação. A avaliação (por ex. a avaliação duma situação ameaçadora) implica um conjunto de condições do meio que são avaliados pela pessoa que tem características psicológicas particulares. O coping, por sua vez, inclui pensamentos e comportamentos que a pessoa utiliza para lidar com as exigências das transações indivíduo – meio que têm relevância para o seu bem estar (Martins, s/d).

Por outro lado, as avaliações das relações indivíduo-meio são influenciadas pelas características pessoais antecedentes como padrões de motivação (valores, objectivos), crenças acerca de si próprio e do mundo que o rodeia, e recursos pessoais de coping. A avaliação é também influenciada por variáveis do meio como, por exemplo, a natureza do perigo, a sua eminência, a duração, a existência e qualidade dos recursos de apoio social, que facilitam o processo de coping (Martins, s/d).
As variáveis cognitivas medeiam a resposta de coping, no sentido em que a pessoa tem tendência a evitar as situações avaliadas como ameaçadoras, para se confrontar com os desafios e para tentar aceitar as situações de dano ou de perda (Martins, s/d).


3.3.Teoria de Síndrome Geral de Adaptação de Hans Selye

Stress não é o factor que actua sobre o organismo, mas sim o sofrimento do organismo provocado pela acção desse factor - ou alarme (Romanach, s/d).

Hans Selye citado por Romanach (s/d) enunciou três premissas relacionadas ao stress:
1 - Qualquer stress desenvolve uma síndrome constituída de manifestações gerais essencialmente similares.
2 - Esta síndrome contribui para a adaptação.
3 - A adaptação pode causar doença.

A síndrome geral de adaptação consiste em um conjunto de reações inespecíficas e gerais do organismo contra estímulos persistentes causadores de stress. As alterações desta síndrome, sejam funcionais, bioquímicas, humorais ou morfológicas, são sempre as mesmas, gerais e não específicas, qualquer que seja a natureza da causa que as provocou (Romanach, s/d).

De acordo com Romanach (s/d), o termo síndrome advém do facto das manifestações, embora parcialmente independentes, estarem coordenadas entre si. A síndrome é geral porque condiciona fenómenos generalizados de defesa. Adaptação indica aquisição e manutenção de estado de resistência ou equilíbrio.

Esta síndrome torna-se patológica quando as reações fisiológicas de defesa se ampliam e intensificam em excesso, quando assumem curso anormal devido a interferências patológicas ou quando perdem a relação com a intensidade do alarme. A rotura da síndrome de adaptação produz morte orgânica (Romanach, s/d).

Quando um indivíduo é exposto continuamente a uma sobrecarga, a síndrome geral de adaptação resultante passa por três períodos distintos:

1. Alarme >>>>>>REACÇÃO DE ALARME>>>> CHOQUE >>>>CONTRA-CHOQUE

2. Fase de resistência

3. Fase da exaustão

Segundo Romanach (s/d), o alarme repetitivo ou excessivo está na base da doença de adaptação. Os alarmes representam factores de qualquer natureza que actuam sobre o organismo e o desviam do estado normal ou de repouso, mediante conjunto de modificações que constituem o stress.
O alarme vinculado ao fenómeno de stress induz no organismo:
uma reação fisiológica ou adaptação satisfatória;
ou uma reação patológica, por excesso, insuficiência ou anormalidade, dando origem às doenças de adaptação.

O estado de stress produz no organismo consequências específicas dependentes da natureza do alarme, com simultâneas consequências inespecíficas comuns a outros alarmes, constituindo estas últimas a finalidade do estudo da síndrome geral de adaptação (Romanach, s/d).


3.4.Modelo da Conservação de Recursos de Hobfool e Freedy (1993)

O Modelo da Conservação de Recursos de Hobfoll e Freedy (1993) foi originalmente desenvolvido para explicar o desenvolvimento do Stresse; sendo uma formulação teórica de carácter motivacional, essa abordagem postula que o stress surge quando aquilo que motiva o individuo é subtraído ou frustrado. Os elementos motivadores são considerados recursos de que se vale o individuo para cumprir sua tarefa; já os agentes stressores do quotidiano minam esses recursos e geram insegurança sobre sua capacidade para alcançar o êxito pessoal ( Leite, 2007).

Assim, segundo essa abordagem, a síndrome se instala quando falham as estratégias de enfrentamento de caráter activo. Assinala, ainda, que a sua prevenção deve enfatizar a consecução de recursos que permitam um desempenho eficaz nas tarefas quotidianas e mudar as percepções e cognições dos indivíduos. Se esses indivíduos conseguem evitar a perda de recursos ou aumentar aqueles já disponíveis, mudarão suas percepções e cognições de maneira positiva e consequentemente diminuirão os níveis de stress percebido ( Leite, 2007).


3.5.Reacção de Emergência Cannon-Bard

Em 1932, Walter B. Cannon em seu livro "A Sabedoria do Corpo", utilizou o termo "reação de emergência", para descrever que o ser humano ao reagir de maneira inadequada às exigências psíquicas no seu ambiente de vida, psicologicamente despreparado, poderá desenvolver um desgaste anormal no seu organismo e, apresentar uma incapacidade crônica de tolerar, superar ou se adaptar, apresentando lesões, desde intranquilidade até esgotamento ou embotamento mental, dependendo da sua estrutura psíquica (Fiamoncini e Fiamoncini, 2003).

Cannon suscitou o conceito “reacção de emergência”. Segundo supunha, em uma situação de emergência, o fluxo sanguíneo é redistribuído para os músculos e órgãos activados de modo que o suprimento de energia chegue em tais áreas do corpo. Sendo assim, a reacção de emergência ou “reacção de luta-ou-fuga” é uma resposta adaptativa que vem antes dos estados emocionais, favorecendo o consumo de energia necessitado. As situações de perigo activam o sistema nervoso autônomo e a medula supra-renal, que preparam o corpo para a luta ou fuga (Okabe, s/d ).

As respostas fisiológicas do organismo ao stress que foi filtrado através da percepção e dos mecanismos psicossociais de defesa e a seguir modificado pelos apoios e gratificações que a pessoa obtém na sua vida, são necessários para a regulação da constância do meio interno . Cannon conceituou essa regulação como sendo uma função que chamou de homeostasia, que é a tendência do organismo vivo de reparar o dano causado por estímulos de qualquer tipo (Okabe, s/d ).



4. Conclusão
Contudo, pode-se referir que, stress não é necessariamente uma patologia, mas pode torna-se uma patologia dependendo de como o indivíduo vivencia os agentes stressores ou da frequência dos mesmos.
A vulnerabilidade individual e a capacidade de adaptação são muito importantes na ocorrência e na gravidade das reacções ao processo de stress. O desenvolvimento do processo de stress depende tanto da personalidade do indivíduo como do estado de saúde em que este se encontra (equilíbrio orgânico e mental), por isso nem todos desenvolvem o mesmo tipo de resposta diante dos mesmos estímulos.
A teoria de Reação de Emergência Cannon-Bard, fala da adaptabilidade e o desenvolvimento da resistência aos efeitos do stress e dos estímulos nocivos são pré-condições para a vida e a sobrevivência. Tal adaptação pode envolver reações específicas de defesa, como o desenvolvimento de anticorpos para vírus, ou mecanismos envolvidos na adaptação ao frio ou à vida em grandes altitudes ou a hipertrofia muscular por trabalho pesado e prolongado.
O Modelo da Conservação de Recursos de Hobfoll e Freedy, enfatiza a motivação do individuo, refere que, se o que motiva o individuo é subtraido ou frustrado ele pode entrar em stress. Portanto o stress é provocado pela falta ou retirada de algo que possibilite ao individuo alcançar o êxito pessoal ou realizar as tarefas do quotidiano.

O Modelo transacional de Lazarus dá ênfase aos processos mentais de juízo para a ocorrência do stress, segundo o mesmo, as reações de stress resultam da relação entre exigência e meios disponíveis. Essa relação é, no entanto, mediada por processos cognitivos. Portanto, não só os factores externos podem agir como stressores, mas também factores internos, como valores, objectivos.

A síndrome geral de adaptação referem que o stress pode conduzir à infecção, à doença e à morte. Este modelo descreve três estádios na ocorrência do stress: Alarme - quando os individuos são surpreendidos ou ameaçados, eles tem uma reacção física imediata chamada, frequentemente, de reação de Luta-ou-Vôo. Isto prepara o corpo para situações ameaça de vida, canalizando recursos ausentes como o do sistema digestivo e imunitário, a umas necessidades musculares e emocionais mais imediatas. Isto conduz a
uma supressão do sistema imune que está sendo comprimido, fazendo-nos suscetíveis à doença; Resistência - quando os individuos experienciam os níveis do stress, eles ficam inicialmente mais resistentes a doenças, que os conduz acreditar que eles podem facilmente se adaptar a estas situações mais stressantes; exaustão -
eventualmente os pontapés da realidade dentro de nossos corpos persistem em tentar manter uma elevação, em virtude do stress. As partes do corpo começam literalmente a ficarem exaustas e os individuos se transformam num puro mal-estar. Se eles continuarem a lutar contra esta situação, podem até morrer.



5. Referências bibliográficas

Fiamoncini R. L. & Fiamoncini, R. E (2003). Reação de emergência Cannon-Bard. Desponível em http://www.efdeportes.com/efd66/fadiga.htm acessado a 26 de Março de 2011.

Leite, N. ( 2007). Sindrome de burnout e relações sociais no trabalho. Disponível em
http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3261/1/2007_NadiaMariaBeserraLeite.PDF acessado a 26 de Março de 2011.

Lipp, M., (2006). Teoria de temas de vida recorrente e crônico. Disponível em http://redalyc.uaemex.mx/pdf/946/94626311.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Martins, M. (s/d). Factores de riscos psicossociais para saúde mental. Desponível em
http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/33.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Okabe, C.(s/d). Estilo de Vida e Estresse. Disponível em http://www.psicossomatica-sp.org.br/artigos5.html acessado a 26 de Março de 2011.

Romanach, A. (s/d).Teoria de Síndrome geral de adaptação de Hans Selye (1907-1982). desponível em http://www.homeopatiaexplicada.com.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=98&Itemid=17 acessado a 26 de Março de 2011.

Telles-Correia, & Barbosa, A. (2009). Ansiedade e depressão em medicina modelos teóricos e avaliação. Desponível em http://www.actamedicaportuguesa.com/pdf/2009-22/1/089-098.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Vieira, P. (2009). Estresse no trabalho: A percepção de vendedores de uma empresa. Desponível em http://inf.unisul.br/~psicologia/wpcontent/uploads/2009/07/PatriciaCorrea.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Psicologia da saúde e ciências afins

Autores: Erica da Costa; Hipólito Sambo & Vicente Mazive

O ser humano, quer sozinho quer em grupo, necessita, como o ar que respira, de viver e agir em saúde e segurança, tornando-se evidente constituir um fenómeno social a preocupação pela manutenção de um estado são e seguro do indivíduo e da colectividade, e desde a sua existência, o Homem ocupa largo tempo da sua vida e despende grande parte da sua acção a organizar a sua defesa/segurança.
Como consequência disso, passou a prestar maior atenção à sua saúde e factos relacionados, criando formas de percebê-la, através de interpretações, dando lugar a ciências especializadas no tema.

O trabalho que se segue é o resultado de revisão bibliográfica sobre as ciências afins á Psicologia da Saúde: História, Educação e a Sociologia, e será dado o enfoque á contribuição das mesmas para a construção do conceito de Saúde, desde a sua construção até os dias actuais. O trabalho surge no âmbito da disciplina Psicologia da Saúde do curso Psicologia Social e das Organizações.

A Psicologia da Saúde é uma especialidade psicológica bem recente, uma disciplina que visa melhor entender os fenómenos psicológicos relativos ao estado da saúde. Ela se preocupa com a compreensão pedagógica, científica e específica da Psicologia, sustentando o objectivo de instrumentalizá-la no desenvolvimento e na preservação da saúde, na profilaxia e na cura das enfermidades, na apuração das causas e na determinação precisa das doenças que acometem os pacientes, e também na melhoria da qualidade das políticas de Saúde.

Conceitos-chave: Saúde, Saúde Pública, Psicologia da Saúde, História da Saúde, Sociologia da Saúde, Educação para Saúde


2. conceitos
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) apud Sousa (2008), Saúde é o completo bem-estar físico, psíquico e social, ocorrendo conjuntamente, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, é necessário ter em conta o sujeito e a sua intersubjectividade e os seus funcionamentos afectivo, cognitivo, comportamental e social, ou seja, o sujeito, a família e o suporte social num contexto de doença, de saúde ou de situações que implicam um ajustamento psicológico, mas que não acarretam alteração do estado de saúde.
A Saúde Pública, é, também definida pela OMS apud Ferreira (1990), como sendo a ciência e a arte de prevenir as doenças, de prolongar a vida e melhorar a saúde e a eficiência mental e física dos indivíduos, por meio dos esforços organizados da comunidade, tendo em vista, o saneamento do meio ambiente com a finalidade do diagnóstico precoce e do tratamento preventivo das doenças por forma que cada indivíduo possa usufruir o seu direito á saúde e á longetividade.
Assim, segundo a OMS apud Ferreira (1990), a Saúde Pública busca o estudo e a solução dos problemas que condicionam a saúde dos indivíduos integrados no seu meio ambiente, seguindo plano e programas coordenados, baseando os seu estudo no conhecimento das causas, mecanismos de aparecimento e evolução das doenças.
Segundo Angerami (2000) a Psicologia da Saúde agrega um conhecimento educacional, científico e profissional da disciplina Psicologia para utilizá-lo na promoção e na manutenção da saúde, na prevenção e no tratamento da doença na identificação da etiologia e no diagnóstico relacionados à saúde, doença e as disfunções, bem como no aperfeiçoamento do sistema de política de saúde.
Segundo Matos (2004), o conceito da OMS, divulgado na carta de princípios de 7 de abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde) implicando o reconhecimento do direito à Saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, diz que a Saúde deveria expressar o direito a uma vida plena, sem privações. O campo da Saúde abrange:
A Biologia Humana (compreende a herança genética e os processos biológicos inerentes à vida, incluindo os factores de envelhecimento)
O Meio Ambiente (inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho)
O Estilo de Vida (decisões que afectam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios)
A Organização da Assistência à Saúde (a assistência médica, os serviços ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. No entanto, esse é apenas um componente do campo da saúde, e não necessariamente o mais importante: às vezes, é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos; melhor evitar o fumo do que submeter-se a radiografias de pulmão todos os anos, etc.).


3. Ciências afins da Psicologia da Saúde
3.1. História da Saúde
Na sociedade primitiva o homem percebeu que da vida em comunidade resultam perigos para a saúde dos indivíduos que constituem os grupos. E, daí surgem os primeiros meios para a redução desses perigos: estabelecimento de medidas, leis, práticas individuais, comunitárias e religiosas. Esses meios tinham como limitação a escassa capacidade de compreensão dos fenómenos naturais.
A Idade Paleolítica era caracterizada por pequenos grupos de caçadores e recolectores que eram nómados. Havia uma ausência de epidemias e a esperança de vida era elevada. As doenças eram resultante de factores ambientais e acidentes. O homem tinha uma visão totémica da realidade: acreditava que a doença era resultado de actuação de diferentes espíritos maléficos que deviam ser combatidos. Na Idade Neolítica a sociedade tornou-se sedentária e dependente do cultivo e da propriedade da terra; houve crescimento demográfico e deficiência nutricional dos grupos mais baixos da sociedade; introduziram-se alimentos açucarados e apareceram novas doenças e pragas. Nesta época a doença era vista como castigo divino a condutas reprováveis; Concitos de contágio e de isolamento para condutas colectivas (leprosos); Conceitos de sujidade e de pureza para a conduta individual (jejum, abstinência sexual, limpeaza, etc). Já na Idade Média, com o desenvolvimento da medicina empírica na Grécia as doenças já não são consideradas um capricho dos deuses nem matéria da magia, mas sim procesos de natureza que obedecem as leis naturais; o corpo humano dispõe de poder natural de cura que é preciso auxiliar e não contrariar durante as doenças; houve o surgimento dos primeiros hospitais e de recolhimentos; quarentenas contra a peste negra e como medida de prevenção e controlo das doenças na comunidade. No Renascimento (séc. XIII-XV) surgem as primeiras Organizações Públicas Sanitárias (conselho municipal de saúde), as primeiras medidas públicas de saúde (quarentena e lazaretos) que deram lugar aos primeiros hospitais como solução à desordem das multidões desprotegidas nas ruas.
De acordo com Carapinheiro, G. (2008) a história social das doenças nas sociedades europeias, revelam que em cada época, ''uma doença domina a realidade da experiência e a estructura das representações; trata-se da construção social da doença''. Esta construção, permite traçar o quadro da realidade social das doenças em contextos sócio-históricos precisos: conjunto de doença que tipificam cada sociedade em cada momento, distribuição social e o traçado histórico das doenças que precede a situação actual, mudança no sistema de valorização das doenças, e permite determinar os elementos de estruturação da identidade social do doente (consturção do estatuto social do doente), relação do doente com a doença (percepção, representação e experiências subjectivas e objectivas da doença).


3.2. Sociologia da saúde
A Sociologia da Saúde é o estudo do comportamento de grupos e/ou indivíduos que dizem respeito à saúde e à doença.
A interdisciplinaridade é a mais inovadora forma de melhoria no ensino, em especial, o superior. Desta maneira a Sociologia, como ciência da sociedade, penetra nas demais áreas do conhecimento científico e tenta dar a sua contribuição pela óptica do social na formação dos novos profissionais. Na enfermagem, ela entra como sociologia da saúde, tentando quebrar a visão tecnicista do processo doença- saúde.
As perspectivas médicas da saúde, da doença e do corpo dominam os discursos públicos e privados e as práticas sociais quotidianas da população – os problemas são colocados sob o olhar médico científico, ficando esses problemas sociais submetidos à racionalidade das ciências biomédicas. Assim, a medicalização tem também a ver com o modo como, através do seu discurso e das suas práticas institucionalizadas, a medicina exerce uma autoridade moral que acaba por legitimar a sua interferência na criação de ideias e valores na sociedade.
Classicamente, os estudos sociológicos sobre saúde estão mais centrados nas práticas médicas, nas relações entre médico e paciente (Martins apud Martins & Fontes, 2008). Desde os anos 7, porém, estudos vêm sendo realizados no intuito de explorar as implicações sociológicas de aspectos da saúde que extrapolam a dimensão assistencial-curativa. A articulação entre saúde e sociedade torna-se possível no momento em que se passa a questionar a definição de doença como factor meramente biológico, resgatando-se o lugar da doença na experiência humana (Rabelo, Alves e Souza apud Martins & Fontes, 2008).
Na actualidade, a presença das Ciências Sociais no campo da saúde é essencial por diferentes razões: corroboram no entendimento das mudanças nos padrões de mortalidade e sua relação com hábitos e comportamentos; permitem compreender a dinâmica das condições crônicas, promovendo trabalho multidisciplinar e intersectorial; explicitam a composição multicultural e multi-étnica das sociedades e auxiliam na construção de competências no campo da comunicação, negociação e motivação; ajudam na identificação de fatores estressores e no desenvolvimento de estratégias de ação sobre fatores físicos, psíquicos, culturais e ambientais; e promovem a humanização no cuidado de pacientes e nas relações de trabalho (Barros & Nunes, 2009).
Até o fim dos anos 1980, enfatizavam-se possibilidades de aproximação da Sociologia com a Medicina, com a perspectiva de uma Sociologia na Medicina, desenvolvida nas escolas médicas, e outra da Medicina, produzida nos departamentos de Sociologia. Na década de 1990, outras sociologias apareceram, de forma que a sociologia médica deu espaço para a sociologia: da enfermagem, da saúde e doença, dos cuidados em saúde, dos serviços de saúde e das práticas alternativas e complementares.


3.3. Promoção da Educação para a Saúde
A Educação para a Saúde é um processo de capacitação, participação e responsabilização dos indivíduos que consiga potenciar a percepção individual de competência, felicidade pessoal e valor próprio, quando a escolha é adoptar e manter estilos de vida saudáveis. A Educação para a Saúde não se pode limitar a adoptar uma abordagem específica da doença, nem privilegiar apenas a sua informação ou as suas características instrumentais. Implica uma resposta organizada do sistema no sentido de permitir que esta educação para a saúde tenha repercussão na vida dos jovens, no seu quotidiano, nomeadamente tornando acessíveis cenários e contextos promotores de saúde. Numa perspectiva de Educação para a Saúde, considerando vários comportamentos associados à saúde (cuidados de saúde primários, alimentação, prevenção de consumos, prevenção de comportamentos sexuais de risco, prevenção do sedentarismo, promoção da competência pessoal, promoção de relações interpessoais gratificantes), a eficácia na modificação de comportamentos no sentido da adopção de um estilo de vida saudável passa por (1) compreensão da história “natural” dos comportamentos visados; (2) identificação de determinantes pessoais, sociais, situacionais, ambientais e políticas modificáveis; (3) desenvolvimento de estratégias para a modificação destes comportamentos, quer através de mudanças no indivíduo (cognitivas, emocionais, motivacionais, comportamentais), quer através de mudanças no envolvimento físico e social.

Para Matos (2004) o conceito de Promoção da Saúde inclui a ideia de que a Saúde pode desenvolver-se ao longo do ciclo da vida e que esta evolução é qualitativa.
Inclui ainda a ideia de que a saúde é um processo (e não um estado) que tem a ver com a interacção do organismo com o seu ambiente físico e social. Assim, o homem passa a ser visto como um sistema auto-organizado e autoconstruído, que inclui funções biológicas, de gestão (identificação de problemas, decisão, controlo), de manutenção (alimentação e bebida,) e excitatórias (atenção, emoção, motivação), cuja compreensão é inseparável do ambiente físico e social por onde transita.
A Promoção da Saúde é um processo que visa dar às pessoas informações e conhecimentos das suas capacidades pessoais (genéticas, físicas e psíquicas) que lhes permitam rentabilizar o seu capital próprio numa perspectiva de aumentar o seu controlo sobre os determinantes da sua saúde e assim melhorar a sua saúde e a sua qualidade de vida; a qualidade de vida é, neste contexto, a percepção por parte dos indivíduos de que (1) participam na gestão das suas vidas e da sua saúde, (2) as suas necessidades estão a ser satisfeitas e (3) não lhes estão a ser negadas oportunidades de alcançar felicidade e satisfação, não obstante o estado físico de saúde, ou condições sociais e económicas, a participação/ comportamento dos indivíduos é essencial neste processo (OMS, 1986).

Um comportamento de saúde é qualquer actividade, desenvolvida por um indivíduo, qualquer que seja o seu estado de saúde real ou percebido, com o objectivo de promoção, protecção ou manutenção da saúde, quer esse comportamento seja ou não objectivamente eficiente para o fim (OMS, 1986), e existem dois tipos de comportamento de promoção de saúde: comportamentos de risco que são formas específicas de comportamento associadas ao aumento de susceptibilidade a uma doença específica ou à «doença-saúde» (OMS, 1986); são usualmente definidos como “perigosos” com base em dados epidemiológicos e dados psico-sociais, e comportamentos de protecção aqueles que têm um efeito minimizador de situações de risco.
É possível argumentar que quase todos os comportamentos ou actividades de um indivíduo têm impacto no seu estado de saúde. Como comportamentos prejudiciais para a saúde temos, por exemplo, tabagismo, alimentação rica em gorduras, ingestão de grandes quantidades de álcool, consumo de substâncias psicopáticas ilegais, ou fora de um contexto de vigilância médica. Como comportamentos de protecção da saúde temos, lavagem dos dentes, uso de cinto de segurança, prática de actividade física, procura de informação relacionada com a saúde, realização de exames médicos de rotina regulares, adequado número de horas de sono por noite.

O estudo dos comportamentos dos indivíduos ligados à saúde e os factores que os influenciam é essencial para o desenvolvimento com qualidade de políticas de Educação para a Saúde, para a Promoção da Saúde e para programas e intervenções nos indivíduos e nas comunidades. A promoção da saúde representa um amplo processo social e político, que inclui não só acções dirigidas ao fortalecimento das competências pessoais e sociais dos indivíduos, mas também acções dirigidas à alteração das condições sociais, ambientais e económicas, mas também dirigidas a minorar o seu impacto na saúde pública e individual. A promoção da saúde tem a ver com a tomada de medidas no dia-a-dia, quer a nível individual quer a nível colectivo.


4. Relação entre Psicologia da Saúde e Ciências afins
Antes de falar da interdisciplinaridade é importante saber o conceito de Saúde. Define-se saúde como o estado do bem estar bio-psico-socio-economico do individuo. De acordo com Scliar (2007), o conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja: saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas, religiosas, filosóficas. O mesmo, aliás, pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado doença varia muito. Com isto, nota-se que a Psicologia da Saúde, é bastante complexa porque ela tem que se afiliar a outras áreas de modo a criar um conhecimento mais sólido acerca da saúde.

Várias disciplinas têm surgido com o propósito de compreender o ser humano no seu todo, como uma entidade completa, uma engrenagem onde tudo se interliga, nada pode ser desagregado. A Psicologia da Saúde é igualmente um fruto desta tendência mundial, pois busca contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mentalmente saudável, conquistando um ponto de vista holístico, ou seja, bio-psico-social, de cada ser, percebendo-o como peça essencial para uma melhor qualidade da "vida em sociedade.
Este campo do conhecimento resgata a visão do Homem como um todo, no qual é impossível dissociar a mente do organismo.

Segundo Ogden (1999), a Psicologia da Saúde justifica a sua pertinência argumentando «que os seres humanos devem ser vistos como sistemas complexos» e que para uma compreensão das causas e do tratamento da doença é necessário considerar «uma multiplicidade de factores e não um único factor causal» propondo uma abordagem biopsicossocial de saúde.
A Psicologia da Saúde tem como ciências afins a Sociologia, a Medicina, Economia, a Antropologia e outras. Neste sentido, a Psicologia da Saúde surge como uma área de intervenção psicológica que não só inclui a saúde física e a saúde mental como, também, abrange todo o campo da Medicina e o transcende, em direcção aos factores sociais, económicos e culturais relacionados com a saúde e a doença.


5. Conclusão
Saúde é o completo bem-estar físico, psíquico e social, ocorrendo conjuntamente, e não apenas ausência de doenças ou enfermidade.

Com o desenvolvimento da medicina empírica na Grécia, na Idade Média, as doenças já não são consideradas um capricho dos deuses nem matéria da magia, mas sim procesos de natureza que obedecem as leis naturais; o corpo humano dispõe de poder natural de cura que é preciso auxiliar e não contrariar durante as doenças; houve o surgimento dos primeiros hospitais e de recolhimentos; quarentenas contra a peste negra e como medida de prevenção e controlo das doenças na comunidade.

Os estudos sociológicos sobre saúde estão mais centrados nas práticas médicas, nas relações entre médico e paciente (Martins apud Martins & Fontes, 2008). Desde os anos setenta, porém, estudos vêm sendo realizados no intuito de explorar as implicações sociológicas de aspectos da saúde que extrapolam a dimensão assistencial-curativa. A articulação entre saúde e sociedade torna-se possível no momento em que se passa a questionar a definição de doença como fator meramente biológico, resgatando-se o lugar da doença na experiência humana.

O conceito de Promoção da Saúde inclui a ideia de que a Saúde pode desenvolver-se ao longo do ciclo da vida e que esta evolução é qualitativa. Inclui ainda a ideia de que a saúde é um processo (e não um estado) que tem a ver com a interacção do organismo com o seu ambiente físico e social.

A Psicologia da Saúde tem como ciências afins a Sociologia, a Medicina, Economia, a Antropologia e outras. Neste sentido, a Psicologia da Saúde surge como uma área de intervenção psicológica que não só inclui a saúde física e a saúde mental como, também, abrange todo o campo da Medicina e o transcende, em direcção aos factores sociais, económicos e culturais relacionados com a saúde e a doença.

6. Referências bibliográficas
Angerami, V. (2000). Psicologia da Saúde: Um novo significado para a prática clínica. Cenage Learning Edições: São Paulo.
Barros, N. F. & Nunes, E. D. (2009). Sociologia, Medicina e a construção da Sociologia da Saúde. Rev Saúde Pública 2009;43(1):169-75
Carapinheiro, G. (2008). A saúde no contexto da Sociologia. Lisboa: Centro de Investigação e Estudos de Sociologia- CIES
Ferreira, T. (1990). Moderna Saúde Pública. (6ª ed.). s/l: Fundação Calouste Gulbenkian
Martins, P. H. & Fontes, B. (2008). A sociologia e a saúde: caminhos cruzados. Recife:UFPE
Matos, M. G. (2004). Psicologia da Saúde, Saúde pública e Saúde Internacional. Disponível em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v22n3/v22n3a03.pdf
Ogden, J. (1999). Psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores
Scliar, M. (2007). História do Conceito de Saúde. Rio de Janeiro: Physis
Souza, G. (2008). Psicologia da Saúde. Acessado de:(http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=991), em 28 de Março de 2011