quarta-feira, 10 de outubro de 2012

INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA SOBRE O STRESS NO TRABALHO


Autor: Hipólito Sambo

O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Intervenção psicológica nas organizações e tem como tema: “a intervenção psicológica sobre o stresse no trabalho”. Para o desenvolvimento do trabalho, optou-se pela revisão bibliográfica de diferentes livros e artigos que abordam a temática em estudo.

Com o trabalho, abordaremos uma série de questões metodológicas e teóricas relacionadas à pesquisa no campo da intervenção em factores psicossociais do trabalho. Essas intervenções podem ocorrer em diferentes níveis, do individual ao nível macro da sociedade. Além disso, as intervenções podem ser primárias (redução de estressores no trabalho), secundárias (redução de stresse, burnout etc.) e terciárias (redução das consequências de longo prazo do stresse relacionado ao trabalho). Até aqui, a maior parte das pesquisas nesse campo têm ocorrido no nível individual e costumam ser dos tipos secundário e terciário. Isso se explica pela preferência por esse tipo de intervenção que gestores e psicólogos tiveram no passado.

O trabalho apresenta-se subdividido nos seguintes subtemas: conceito de stress no local do trabalho; o historial do stresse no trabalho: passado e actualidade; factores da escassez dos estudos de intervenção em nível organizacional; prevenção do stresse do trabalho; questões metodológicas adicionais na pesquisa de intervenção de stresse; conclusão e recomendações para a pesquisa futura de intervenção em stresse.

II.CONCEITO DE STRESS NO LOCAL DE TRABALHO

A palavra stress provém de duas expressões latinas: (i) stringere” que significa esticar ou deformar e de (ii) strictus” que corresponde às palavras portuguesas “esticado”, “tenso” ou “apertado” (Serra, 1999 citado por Uva, S/a).

Stranks (2005) apud Uva (S/a), enuncia diversas formas de definir o stress, destacando-se entre outras: a resposta a um “ataque”; uma resposta psicológica que se segue à incapacidade de “lidar” com problemas; a resposta frequente a alterações do ambiente. Os termos “tensão”, “pressão” e “carga” (ou “sobrecarga”), os quais dizem respeito respectivamente à deformação sofrida por um objecto e à força externa que lhe é exercida são frequentemente utilizadas como sinónimos de stress.
O conceito de stresse tem sido abordado, em termos científicos, de acordo com três perspectivas que se sobrepõem parcialmente (European Agency for Safety and Health at Work, 2000; Hespanhol, 2005) das quais a perspectiva psicológica é a mais actual, surgindo na sequência de críticas efectuadas às duas perspectivas que a precederam (Uva, S/a).

Uma das abordagens define o stress como uma característica/estímulo do ambiente, e habitualmente como um aspecto objectivamente mensurável, com características nocivas, refractárias ou relutantes. De facto, o termo stress deve referir-se a características objectivas da situação que produzam uma reacção denominada “strain” (Spielberg, 1976) citado por Uva (S/a), a qual, apesar de na maioria das vezes ser reversível, poderá ocasionalmente tornar-se irreversível e produzir doença ou lesão (Sutherland; Cooper, 1990 apud Uva, S/a).

A perspectiva fisiológica foi inicialmente desenvolvida pelos estudos de Selye (1956), o qual definiu stress como “um estado manifestado por uma síndroma – a Síndroma Geral de Adaptação – que consiste no conjunto de alterações não específicas que ocorrem quando um sistema biológico é exposto a estímulos adversos”. O stress é, deste modo, tratado como uma variável dependente, correspondendo a uma resposta fisiológica não específica e generalizada ou, uma resposta a um “ataque” (Selye, 1936 cit. por Uva (S/a).

Essas duas perspectivas (stress como estímulo e stress como resposta) baseiam-se num conceito relativamente simples de estímulo-resposta, em que o indivíduo, de um modo passivo, traduz as características do ambiente em respostas fisiológicas e psicológicas, sem respeitar as diferenças individuais de natureza psicológica a nível dos processos cognitivos e de percepção (Sutherland; Cooper, 1990 citados por Uva, S/a).

Actualmente, a perspectiva melhor aceite para a definição e estudo do stress refere-se àquele como um estado psicológico, o qual é parte constituinte e reflecte um processo de interacção entre a pessoa e o seu ambiente, nomeadamente o ambiente de trabalho (European Agency for Safety and Health at Work, 2000 citado por Uva, S/a).

Quando estudado, o stress poderá ser inferido a partir da existência de inter-relações problemáticas entre a pessoa e o ambiente, medido a nível de processos cognitivos e de reacções emocionais que acompanham tais interacções.

 

III.HISTORIAL DO STRESS NO TRABALHO

3.1.Passado

A primeira resenha crítica e abrangente de estratégias tanto pessoais, como organizacionais para lidar com o stresse do trabalho foi publicada em 1979 por Newman e Beehr. Os autores proporcionam uma matriz geral para o estudo de respostas adaptativas ao stresse do trabalho e a partir daí examinam 3 tipos de estratégias: (a) estratégias pessoais para lidar com o stresse do trabalho, (b) estratégias organizacionais e (c) estratégias usadas por pessoas e organizações fora da organização em foco para ajudar aqueles dentro da organização a administrar o stresse. A conclusão principal deles é que existem muitas estratégias para administrar o stresse do trabalho, mas que "existe definitivamente uma falta de pesquisa de avaliação nessa área.

Muito poucas das estratégias propostas para lidar com o stresse do trabalho foram avaliadas com algum tipo de rigor científico (Newman & Beehr, 1979 citados por Kompier e Kristensen, 2003). Até então, psicólogos do trabalho e psicólogos organizacionais ainda não tinham sido muito activos na pesquisa de prevenção de stresse.

3.2.Actualidade

Nas duas últimas décadas tem-se testemunhado uma maior atenção teórica e aplicada para o stresse do trabalho e sua prevenção, mais estudos sobre intervenção empírica e mais pesquisa de avaliação do que antes. Esses são desenvolvimentos positivos. Também nota-se que a administração de stresse tornou-se um mercado comercial no qual a qualidade é no mínimo questionável. Apesar do número de estudos de avaliação publicados estar aumentando, eles ainda constituem uma pequena proporção da actividade actual em prevenção de stresse.

Essa explosão comercial sem fundamentação teórica e baseada em evidências é um desenvolvimento negativo. Além disso, apesar de haver uma pesquisa de intervenção metodológica e teoricamente mais confiável do que há vinte anos atrás, esse tipo de dado ainda se desenvolve pouco a pouco e só cobre uma minoria das actividades actuais de prevenção de stresse. Por fim, esse tipo de pesquisa de avaliação continua tendo "um viés post hoc para o indivíduo". Estudos sobre intervenções dirigidas para organizações e trabalho continuam escassos. Portanto, a situação geral referente à prevenção de stresse não é satisfatória (Kompier e Kristensen, 2003).

De acordo com Kompier e Kristensen (2003), existem diferentes factores que contribuem para a escassez dos estudos de intervenção do stresse em nível organizacional. Podem-se destacar os seguintes:

4.1.As atitudes e os valores da administração empresarial

O conteúdo da maioria dos programas de intervenção, com sua ênfase nas abordagens individuais, reflecte as atitudes e valores da administração empresarial. Tais valores são um tanto individualistas, como aqueles dos executivos de mais alto nível. Os dirigentes das organizações têm uma tendência a explicar (em termos mais psicológicos "atribuir") sucessos e fracassos organizacionais através de características individuais das pessoas envolvidas.

4.2.A natureza e as tradições da psicologia e da medicina do trabalho

Tradicionalmente também, a psicologia e a medicina do trabalho apresentam um viés para o indivíduo. Muitos pesquisadores de stresse orientados pela psicologia se interessam principalmente pelo stresse como um fenómeno individual e subjectivo. Esse pode ser um legado da forte tradição em psicologia de se focar nas diferenças individuais (isto é, a psicologia diferencial) e no aconselhamento individual e na terapia (isto é, a psicologia clínica e a psicoterapia).

4.3.Entressorres podem ser inerentes ao trabalho

Alguns trabalhos são stressantes em si mesmos e que pode não ser muito realista reduzir ou eliminar todos esses factores de risco. Em tais circunstâncias faz sentido ensinar aos empregados a lidar com as condições necessárias do trabalho. A questão crucial aqui é claro, é ser capaz de distinguir entre tais condições necessárias e condições que podem ser mudadas.

Organizações são sistemas abertos dinâmicos e não laboratórios. A dificuldade em conduzir estudos de intervenção e de avaliação metodologicamente válidos em um contexto organizacional turbulento é frequentemente subestimada. Hoje em dia, não apenas o contexto de trabalho muda rapidamente, como também o trabalho em si.

4.5.A segregação denominativa na pesquisa de stresse

Uma quinta causa pode ser encontrada na segregação da denominação da pesquisa de stresse, com sua negligência relativa ao estudo de custos e benefícios da prevenção do stresse. Psicólogos organizacionais e do trabalho concentram-se prioritariamente em variáveis de resultado "soft" (por exemplo: satisfação, afecto, estado de ânimo e queixas de saúde), a maioria das quais medidas através de questionários. Tradicionalmente, tem sido raros pesquisadores de stresse cooperarem com economistas para estudar medidas de resultados potenciais "hard" (por exemplo: produtividade, taxas registadas de absenteísmo por doença nas empresas ou taxas de acidentes), bem como os efeitos financeiros das intervenções.

V.PREVENÇÃO DO ESTRESSE DO TRABALHO

Desde o trabalho pioneiro de Newman e Beehr (1979) apud Kompier e Kristensen (2003), tanto teóricos como profissionais têm sido bastante activos no campo e vários estudos de revisão sobre a prevenção de stresse foram publicados. Revendo as duas últimas décadas, cinco conclusões interrelacionadas podem ser desenhadas.

5.1.Existe uma vastidão de actividades

Stresse organizacional é um campo em expansão rápida, bem como a administração do stresse ocupacional. O progresso científico pode ser ilustrado pela publicação de importantes livros de base sobre teorias de stresse ocupacional, sobre metodologia de pesquisa; e sobre administração preventivo de stresse em organizações. Vários novos periódicos académicos também foram lançados, por exemplo: Work and Stress, International Journal of Stress Management e Journal of Occupational Health Psychology, que é também o título de uma nova sub-disciplina interdisciplinar.
Durante a última década, de um modo um tanto independente do progresso científico, a administração de stresse tornou-se um mercado comercial e próspero com uma "onda de actividade prática profissional" (Kahn & Byosiere, 1992 citados por Kompier e Kristensen, 2003). Além do esforço académico e prático na administração de stresse, o stresse do trabalho também se tornou um tópico popular na mídia. São numerosas as reportagens da mídia sobre stresse ocupacional e seus efeitos, não apenas nos EUA e na Europa, mas também, por exemplo, na Austrália e no Japão. Por fim, vários países, especialmente na União Européia, introduziram regulamentações legais específicas relacionadas à avaliação e à prevenção do stresse ocupacional (Kompier, De Gier, Smulders e Draaisma, 1994 citados por Kompier e Kristensen, 2003).

5.2.A redução de stresse é primordialmente uma "abordagem band-aid"

Apesar do grande volume tanto da actividade académica como prática, "Essa actividade está desproporcionalmente concentrada na redução de efeito ao invés da redução da presença de estressores no trabalho" (Kahn & Byosiere, 1992 apud Kompier e Kristensen, 2003). As intervenções actuais de stress constituem-se principalmente em prevenção secundária e terciária, ou seja, elas são de natureza reactiva, por exemplo: aconselhamento de trabalhadores "stressados", psicoterapia individual, relaxamento ou biofeedback. A prevenção primária ("extirpar os riscos") é rara.

5.3.O principal alvo é o indivíduo

Relacionado a isso, o alvo principal é o trabalhador individual, em lugar do ambiente de trabalho ou da organização. Uma abordagem orientada para o trabalhador, por exemplo, pela melhora das habilidades dos empregados em lidar com, resistir ou reduzir o stresse ("a abordagem de vacinação contra stresse"), é seguida mais frequentemente do que uma abordagem orientada para o trabalho, por exemplo, pela mudança do estilo administrativo ou aumento de controle. A maioria dos programas objectiva a redução da avaliação cognitiva de estressores e seus efeitos subsequentes. Tipicamente, essas intervenções são "prescritivas, orientadas para a pessoa: técnicas baseadas em relaxamento, como relaxamento muscular progressivo, biofeedback, meditação e treinamento em habilidades cognitivo-comportamentais" (Murphy, 1996 citado por Kompier e Kristensen, 2003) ou combinações dessas técnicas. A maioria dessas técnicas são originadas na campo da psicologia clínica e do aconselhamento psicológico.

"O crescimento da actividade profissional no domínio da administração de stresse não foi acompanhado por um aumento compatível de pesquisas sérias; a maioria dos programas não foi avaliada nesse sentido" (Kahn & Byosiere, 1992 citados por Kompier e Kristensen, 2003). Parece haver dois problemas: o primeiro, é que muitas intervenções não são avaliadas de forma sistemática. O segundo, é que, em caso de avaliações, os planos de estudo são frequentemente caracterizados por falhas metodológicas graves. Com relação ao último caso, existe uma divergência considerável entre a pregação teórica e a prática.

5.5.A avaliação sistemática de riscos é frequentemente deficiente

Relacionada às características mencionadas acima, existe uma outra peculiaridade da maioria dos programas de administração de stresse. Eles são do tipo "tamanho único" e "pau para toda obra". Como sintetizado por Kahn e Byosiere (1992) citados por Kompier e Kristensen (2003): "Programas em administração de stresse que são vendidos às empresas apresentam um padrão de variação suspeito, eles diferem mais por profissional do que por empresa.

Discutimos acima que é difícil conduzir pesquisas de intervenção metodologicamente válidas nas organizações de hoje e que essa é uma das razões pelas quais intervenções de stresse em nível organizacional são escassas. Agora, enfocaremos algumas questões metodológicas na pesquisa de stresse.

6.1.A falta de uma análise apropriada

Uma questão metodológica intrigante é a falta de uma análise apropriada do problema em termos da identificação dos factores e grupos de risco em muitos programas de prevenção. Os tipos de estressores do trabalho precisam ser identificados, bem como o grau de seu relacionamento com o estado de saúde do empregado".

6.2.Três projectos de estudos de intervenção

De acordo com Campbell e Stanley (1966) citados por Kompier e Kristensen (2003), projectos de estudos de intervenção podem ser categorizados em verdadeiramente experimental, quase-experimental e não-experimental.
Esses projectos diferem com relação a "quem é medido e quando". O experimento verdadeiro inclui grupos experimentais e de controle designados aleatoriamente para reduzir erro e viés de selecção. O quase-experimental usa grupo experimental e de controle designados não aleatoriamente e o projecto não-experimental tem apenas um grupo experimental. O período de avaliação pode incluir pré-teste e pós-teste, pós-teste apenas e séries temporais (Cook & Campbell, 1979 apud Kompier e Kristensen, 2003).

6.3.O experimento verdadeiro num contexto organizacional real?

Conforme já enfatizado, é extremamente difícil e frequentemente impossível transferir um projecto verdadeiramente experimental para a realidade prática das organizações de hoje. O problema para os pesquisadores é que intervenções sempre se dão em contexto e que esse contexto não está sob o controle dos cientistas. Nesse contexto, pessoas podem confiar ou desconfiar umas das outras e ter interesses distintos ou comuns. Pessoas não são objectos de estudo passivos, pelo contrário, elas são organizadoras ativas de suas próprias situações (de trabalho), baseadas em seus interesses, preferências e atitudes.

6.4.Estudos etiológicos versus estudos de viabilidade

Estudos de intervenção são normalmente discutidos como estudos etiológicos: se a mudança no grupo de intervenção for significativamente maior do que no grupo de controle, isso é interpretado como um efeito da intervenção (a causa). Poderia ser apontado, entretanto, que o estudo em intervenção é uma ferramenta excelente para estudar um problema igualmente importante: o problema da efectividade da prevenção ou viabilidade.

6.5.Erros comuns na pesquisa de intervenção

Em muitos estudos de pesquisa de intervenção alguns erros comuns ou falhas são apontadas. A falha mais comum é a ausência de diferenciação entre etiologia e viabilidade.


VII.CONCLUSÃO

Stresse é a resposta biopsicossocial a alterações do ambiente. Porem, o stresse no trabalho é o resultado de interacção entre a pessoa e o seu ambiente de trabalho.
Nas duas últimas décadas tem-se testemunhado uma maior atenção teórica e aplicada para o stresse do trabalho e sua prevenção, mais estudos sobre intervenção empírica e mais pesquisa de avaliação do que antes.
Contudo, é difícil conduzir pesquisas de intervenção metodologicamente válidas nas organizações de hoje e que essa é uma das razões pelas quais intervenções de stresse em nível organizacional são escassas.

7.1.Recomendações para a pesquisa futura de intervenção em stresse

É importante que os estudos futuros de intervenção em stresse incluam alguns dos seguintes aspectos:
  • Teorias. Estudos em intervenção devem ser baseados em teorias explícitas. As intervenções devem "ajustar-se" teórica e logicamente aos problemas que foram identificados ("a chave deveria se ajustar ao buraco da fechadura").
  • Diagnóstico. Um diagnóstico adequado, identificando factores de risco e grupos de riscos ("falta de diferenciação"), é uma condição para cada programa preventivo.
  • Resultados "soft" e "hard". Pesquisadores de stresse não devem lidar apenas com variáveis de resultado "soft" (por exemplo: motivação, satisfação, queixas de saúde), mas estender seu foco para incluir também variáveis de resultado "hard" (por exemplo: produtividade e absenteísmo por doença).
  • Significância estatística e relevância prática. Pesquisadores devem lembrar que nem tudo o que é significativo é relevante e vice-versa, que nem tudo que não é significante é irrelevante (por exemplo, devido à pequena extensão numérica).
  • Acompanhamento. O tempo de acompanhamento em projetos de intervenção devem ser adequados. Idealmente, o melhor plano seria medir tanto variáveis finais de curto prazo, como de longo prazo, estudando ao mesmo tempo a depreciação amostral.

VIII.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Kompier, M. & Kristensen, T. (2003). As intervenções em stresse organizacional: considerações teóricas, metodológicas e práticas. Disponível em http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1516-37172003000200004&script=sci_arttext, acessado no dia 19 de Setembro de 2012 pelas 15:15min.

Uva. A. (S/a). Stress relacionado com o trabalho. Disponível em www.ensp.unl.pt/...uva/stress_relacionado_com_o_trabalho_st-6.pdf, acessado no dia 19 de Setembro de 2012, as 15:8min.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL Satisfação dos clientes

Autor: Hipólito Sambo
 
Organização
Segundo Gualazzi (S/A), o conceito de organização para os especialistas em desenvolvimento organizacional (DO) é tipicamente comportamentalista: "uma organização é a coordenação de diferentes actividades de contribuintes individuais com a finalidade de efectuar transacções planeadas com o ambiente". Esse conceito utiliza a noção tradicional de divisão do trabalho ao se referir às diferentes actividades e à coordenação existente na organização e refere-se às pessoas como contribuintes das organizações, em vez de estarem elas próprias, as pessoas, totalmente nas organizações. As contribuições de cada participante à organização variam enormemente em função não somente das diferenças individuais, mas também do sistema de recompensas e contribuições pela organização. Toda organização actua em determinado meio ambiente e sua existência e sobrevivência dependem da maneira como ela se relaciona com esse meio. Assim, ela deve ser estruturada e dinamizada em função das condições e circunstâncias que caracterizam o meio em que ela opera (Gualazzi, S/A).  

Desenvolvimento organizacional (DO)
O conceito de desenvolvimento organizacional (DO) articula-se diretamente com o entendimento do que vem a ser mudança e a capacidade dos membros da organização construírem colectivamente uma nova realidade organizacional, objetivando com isso tornar a organização mais competitiva no seu nicho de mercado e mais agradável para os colaboradores. Muitos autores e praticantes do desenvolvimento organizacional (DO) possuem a sua própria definição. Apesar de algumas formulações específicas apresentarem diferenças, existem pontos de concordância na essência do DO, conforme se pode observar nas definições apresentadas a seguir. O DO é uma estratégia educacional que visa mudar crenças, atitudes, valores e estrutura da empresa, de modo que elas possam adaptar-se a novos mercados, tecnologias e desafios e o próprio ritmo da mudança (BENNIS, 1969 citado por SEGeT, S/A). Na visão de Kegan (1971) apud SEGeT (S/A), o DO tem como fundamento ajudar aos membros de uma organização a remover as barreiras que impedem a liberação do seu potencial humano. De forma geral, os programas de DO podem incluir metas específicas como, por exemplo: atmosfera para solução de problemas; construção de confiança; redução de competição inapropriada e promoção da colaboração entre os membros da organização; desenvolvimento de sistema de recompensas que reconheça tanto as metas organizacionais quanto as metas individuais; incrementar o autocontrole e a autodireção dos membros da organização; entre outras. Por sua vez, para Zaltman e Duncan (1977) citados por SEGeT (S/A), o DO consiste no re-aprendizado do indivíduo ou grupo em resposta a novos requerimentos percebidos de uma determinada situação, que exige acção que resulte em mudança na estrutura e/ou dinâmica de sistemas sociais. Na concepção de French e Bell (1981) apud SEGeT (S/A), o DO consiste no esforço de longo prazo, apoiado pela administração estratégica, destinado a melhorar o processo de solução de problemas e o processo de renovação de uma organização, através de um eficaz e colaborativo diagnóstico e administração da cultura organizacional. De forma geral os pontos de convergência das diversas definições de DO fluem para seis aspectos centrais: (1) mudança planejada; (2) processos de solução de problemas advindos das ameaças e oportunidades conferidas pelo ambiente; (3) necessidade de melhoria dos processos internos e de auto-renovação; (4) perspectiva de administração participativa por meio do compartilhamento da gestão com os colaboradores; (5) desenvolvimento e fortalecimento (empowerment) de equipes no sentido de dotá-las de liberdade de atuação, de participação nas decisões, plena autonomia no desempenho das tarefas e responsabilidade total pelos resultados (equipe autogerenciada); e, (6) a perspectiva de pesquisa-acção, ou seja, utilizar a pesquisa para o diagnóstico e a acção para a mudança.  

Estratégia organizacional
 Para Mintzberg (2001) citado por Froehlich e Bitencourt (2008), estratégia é uma palavra definida de uma forma e utilizada de outra. O autor destaca que faz parte da natureza humana buscar um conceito único, mas afirma que a estratégia requer uma série de definições, que apresentam vários significados. O autor enfatiza que devido às mudanças no cenário, nem todas as estratégias formuladas são de facto implementadas. A possibilidade, cada vez maior, de novas oportunidades para a organização mostra a necessidade de implantar estratégias que ainda não tenham sido formuladas. Tais estratégias são denominadas de emergentes, e elas demandam flexibilidade e capacidade empreendedora da organização, e geram ajustes no processo de gestão estratégica competitiva. Partindo deste conceito, o processo de formação de estratégias competitivas pode ser categorizado em: estratégias deliberadas, emergentes ou em uma combinação entre essas duas vertentes. As estratégias deliberadas implicam um padrão de acção, admitem como pressuposto um comportamento pretendido tal como realizado, devido às intenções precisas, estabelecidas previamente pela liderança da organização e realizadas sem maiores interferências ambientais. Por outro lado, estratégias emergentes são aquelas realizadas sem ter uma intenção explícita, ou seja, é uma estratégia não planejada, em que a ação somente é percebida como estratégica pela empresa, na medida em que se desenvolve ou mesmo depois de ter acontecido. A diferença fundamental entre a estratégia deliberada e a emergente é que, enquanto a primeira enfatiza o planejamento, a direção e o controle, fazendo com que as intenções sejam realizadas, a última permite a noção de “aprendizado estratégico”, isto é, as empresas desenvolvem-se à medida que o ambiente competitivo gera novos cenários de atuação (Mintzberg, 2001 citado por Froehlich e Bitencourt, 2008).  

Modelos/estratégias do desenvolvimento organizacional (DO)
 Dois aspectos centrais e complementares ao DO precisam ser apresentados: o processo e o método de pesquisa-acção. Via de regra, o DO envolve um processo amplo, abrangente e contínuo de mudança organizacional. Dos diversos autores que descreveram o processo de DO três serão destacados neste trabalho. Beckhard (1969) citado por SEGeT (S/A), enfatiza a preocupação com a mudança e aperfeiçoamento dos sistemas e apresenta um modelo de processo de DO constituído por cinco fases sequenciais: • Fase 1 (diagnóstico da situação actual): compreende o exame da necessidade de mudança e do estado do sistema organizacional e abrange duas áreas: (1) diagnóstico dos subsistemas (grupos, equipes, níveis hierárquicos e áreas funcionais) que compõem o sistema organizacional; e, (2) diagnóstico dos procedimentos em vigor na organização, como padrões e estilos de comunicação, relações intergrupais, gestão de conflitos, entre outros. Somente com base nos resultados do diagnóstico realizado é que se define a estratégia e a abordagem de mudança. • Fase 2 (planeamento da estratégia de mudança): consiste na elaboração de um plano determinando os sistemas e subsistemas que serão modificados, as actividades que serão realizadas e os recursos necessários. Para o autor, quatro são as modalidades de intervenções e táticas que poderão compor a estratégia: (1) desenvolvimento de equipes; (2) aprimoramento das relações intergrupais; (3) definição de metas; e, (4) treinamento. • Fase 3 (educação): refere-se ao esforço educacional não orientado para a acção, como participação em eventos (seminários, congressos, palestras) que abordem a questão do DO. • Fase 4 (consultoria e treinamento): representa a consultoria sobre as práticas actuais, o planeamento para as novas práticas e a assistência especializada para a execução de actividades de treinamento. • Fase 5 (avaliação): consiste na avaliação contínua dos efeitos do programa de mudança que abrangerá a organização como um todo. Em uma tentativa de simplificação, Maguilies e Raia (1972) apud SEGeT (S/A), apresentam um modelo de DO com apenas três etapas que se articulam de forma interdependente e de maneira contínua: • Etapa 1 (recolha de dados): envolve a determinação de técnicas e de métodos de recolha de dados que possibilitem a descrição do sistema organizacional, as relações entre seus subsistemas e elementos, bem como as formas de identificar os problemas mais importantes da organização. • Etapa 2 (diagnóstico organizacional): consiste na identificação dos pontos fracos e disfunções organizacionais, suas prioridades e objectivos, incluindo o esenvolvimento de alternativas estratégicas e de planos para a sua implementação. • Etapa 3 (acção de intervenção): consiste na aplicação de técnicas de DO, ou seja, a acção para a mudança planeada. O terceiro modelo estudado foi proposto por Kotter (1978) citado por SEGeT (S/A), e é constituído por oito etapas distintas: • Etapa 1 (decisão da empresa em utilizar o DO): consiste na conscientização e decisão da alta administração pela utilização da abordagem do DO. • Etapa 2 (diagnóstico das necessidades organizacionais pela direcção e pelo consultor): compreende a identificação dos problemas organizacionais que serão submetidos ao processo de DO. • Etapa 3 (recolha dos dados necessários): refere-se ao processo de recolha e obtenção dos dados apropriados para a solução dos problemas organizacionais. • Etapa 4 (retroação de dados e confrontação): consiste na retroação dos dados colhidos e realização de reuniões de confrontação entre grupos de trabalho. • Etapa 5 (planeamento da acção e solução do problema): refere-se ao desenvolvimento de planos de acção pelos grupos de trabalho visando solucionar os problemas organizacionais. • Etapa 6 (desenvolvimento de equipes): trata-se do desenvolvimento de equipes de trabalho para a análise mais aprofundada e detalhada dos problemas organizacionais. • Etapa 7 (desenvolvimento intergrupal): realização de reuniões de confrontação entre as equipes de trabalho visando o desenvolvimento intergrupal. • Etapa 8 (avaliação e acompanhamento): refere-se à avaliação e acompanhamento dos resultados por parte do consultor. Em linhas gerais, ao se analisar essas três perspectivas de processo de DO percebe-se que todos se articulam por meio do método de pesquisa-acção, em que os procedimentos de pesquisa e de recolha de dados são fundamentais para a realização do diagnóstico sobre a necessidade de mudança organizacional e o planeamento da acção de mudança organizacional.  

Atendimento ao Cliente
Com as novas exigências da economia global, o cliente passa a ser referência, sendo assim, as empresas passam a direcionar suas estratégias no foco principal que é o cliente. Com as tendências na era da informação os consumidores passam a estar bem informados quanto aos seus direitos e ficando cada vez mais exigentes quanto à qualidade dos produtos e serviços adquiridos. Segundo Shiozawa (1993) citado por Stefano; Silva; Nani; Silva e Sáfadi (S/A): “O Código de Defesa do Consumidor garante que aquilo que antes o fornecedor encarava como uma concessão ou um favor torna-se um direito do consumidor”. Com todas estas mudanças os consumidores procuram tirar proveito da situação e sai de uma posição imposta pelos fornecedores, que era aceitar o que viesse e agora exigem a qualidade que eles querem ou vão a busca de outros fornecedores.  

Satisfação do Cliente
Para Kotler (1998) citado por Stefano, et. all. (S/A): “O conceito de satisfação é o sentimento de prazer ou de desapontamento resultante da comparação do desempenho esperado pelo produto ou resultado em relação às expectativas da pessoa.” Segundo este conceito, a satisfação está ligada diretamente à percepção do cliente em relacção às expectativas criadas por ele, se o retorno oferecido pelo serviço prestado for menor que o esperado ele estará insatisfeito, se for o esperado, estará satisfeito e se exceder suas expectativas, estará altamente satisfeito. Os consumidores criam suas expectativas através de experiências anteriores, experiências de compras anteriores de amigos e até mesmo de informações e promessas de empresas e concorrentes. Se a empresa cria expectativas elevadas, há possibilidade de não se conseguir atender estas expectativas, criando assim um cliente insatisfeito (Kotler, 1998 apud Stefano, et. all., S/A). Com base em Kotler (1998) citado por Stefano, et. all. (S/A), pode-se inferir que a satisfação do cliente está relacionado no chamado Marketing de Relacionamento onde é praticado a construção de relacionamento de satisfação a longo prazo com seus consumidores, para reter sua preferência. As empresas inteligentes tentam desenvolver confiança e relacionamentos ganha-ganha” em longo prazo com consumidores, distribuidores, revendedores e fornecedores. Realizam isso prometendo e entregando alta qualidade, bons serviços e preços justos. Já para Las Casas (1997) citado por Stefano, et. all. (S/A), as empresas adotaram a prática de satisfazer seus clientes devido à concorrência acirrada encontrada em certos mercados e também o crescimento de consumidores mais exigentes e que procuram maior atenção por parte dos comerciantes. Porém se percebe que muitas empresas dizem estar dando atenção aos seus clientes, mas na prática sabe-se que são poucas que realmente aplicam uma orientação verdadeira. “Muitos alegam que a dificuldade de implantação desta filosofia é que o elemento humano, o lado pessoal de qualquer técnica administrativa, se esbarra em factores culturais” (Las Casas, 1997 citado por Stefano, et. all., S/A).  

Como analisar a satisfação do cliente
Uma maneira de analisar a satisfação é através de um questionário. A empresa deve adaptar as perguntas conforme a necessidade da satisfação, a aplicação do questionário deve ser feita de forma periódica no qual o assunto abordado pode ser bastante variável.(Las Casas, 1997 citado por Stefano, et. all., S/A). Para Cobra (1997) citado por Stefano, et. all. (S/A), uma empresa para ter sucesso deve ter seu foco no cliente, a ênfase deve ser dada ao custo para o consumidor dos produtos ofertados para atender suas necessidades e desejos. Um erro muito comum que as organizações cometem na melhoria dos serviços é se focalizarem em processos internos sem qualquer ligação com as prioridades de serviço para os clientes. Para conseguir essa excelência é necessário que os clientes sejam fidelizados com serviços cada vez melhores e qualidade acima do esperado pelo cliente. Entende-se que para essa excelência em serviço se desenvolva cada vez mais, é necessária à satisfação do colaborador interno, para ter uma sinergia do serviço prestado ao cliente com a organização (Henrique; Baptista; Oliveira; Ramirez e Dias, S/D).  

Fidelização do cliente
Segundo Moutella (2004) citado por Stefano, et. all. (S/A), conquistar clientes novos custa entre 5 a 7 vezes mais caro do que manter os mesmos clientes que já possui. Com estas informações pode-se dizer que manter os clientes contentes não são despesas, e sim um investimento. Um cliente fiel tende a se preocupar com a empresa e reclamar se algo não lhe agrada, já um cliente infiel simplesmente vai embora se alguma coisa o contraria e poderá contaminar outros potenciais clientes com uma imagem negativa da sua organização. Todo cliente espera ser tratado de uma forma que lhe satisfaça, mas satisfação não é sinônimo de fidelidade. A fidelidade depende da identificação das necessidades dos clientes e o que a empresa produz para satisfazê-las. Essas necessidades podem ser um preço justo, uma entrega antes do tempo, um atendimento sincero, etc. (Moutella, 2004 apud Stefano, et. all., S/A). Todavia, a satisfação dos clientes é condição necessária, mas não suficiente. Esse indicador é apenas uma pista tênue da capacidade de retenção dos clientes em mercados altamente competitivos. As empresas perdem com regularidade algum percentual de clientes satisfeitos. Daí a necessidade de concentrar-se na retenção de clientes. Contudo, até mesmo altos índices de retenção podem ser enganosos, pois às vezes resultam do hábito ou da falta de alternativas. As empresas devem almejar marcas ambiciosas de fidelidade e de comprometimento dos clientes (Stefano, et. all., S/A).  

CONCLUSÃO
O desenvolvimento organizacional envolve seis aspectos centrais: (1) mudança planeada; (2) processos de solução de problemas advindos das ameaças e oportunidades conferidas pelo ambiente; (3) necessidade de melhoria dos processos internos e de auto-renovação; (4) perspectiva de administração participativa por meio do compartilhamento da gestão com os colaboradores; (5) desenvolvimento e fortalecimento (empowerment) de equipes no sentido de dotá-las de liberdade de atuação, de participação nas decisões, plena autonomia no desempenho das tarefas e responsabilidade total pelos resultados (equipe autogerenciada); e, (6) a perspectiva de pesquisa-acção, ou seja, utilizar a pesquisa para o diagnóstico e a acção para a mudança organizacional. A possibilidade, cada vez maior, de novas oportunidades para a organização mostra a necessidade de implantar estratégias que ainda não tenham sido formuladas. Tais estratégias são denominadas de emergentes, e elas demandam flexibilidade e capacidade empreendedora da organização, e geram ajustes no processo de gestão estratégica competitiva. A excelência em serviços distingue uma organização de suas concorrentes. Um erro muito comum que as organizações cometem na melhoria dos serviços é se focalizarem em processos internos sem qualquer ligação com as prioridades de serviço para os clientes. Para conseguir essa excelência é necessário que os clientes sejam fidelizados com serviços cada vez melhores e qualidade acima do esperado pelo cliente. Entende-se que para essa excelência em serviço se desenvolva cada vez mais, é necessária à satisfação do colaborador interno, para ter uma sinergia do serviço prestado ao cliente com a organização (Henrique; Baptista; Oliveira; Ramirez e Dias, S/D).  

Recomendações
 Diversos aspectos relacionados à qualidade dos serviços têm direcionado os esforços empresariais na busca pela fidelização e retenção dos clientes. Oferecer um adequado pacote de valor, por exemplo, pode proporcionar ao consumidor, uma sensação plena de satisfação pelo serviço experimentado. Para Johnston e Clark (2002) citados por Henrique; Baptista; Oliveira; Ramirez e Dias (S/D), essa satisfação “é o resultado da avaliação de um serviço por um cliente, baseado na comparação de suas percepções com suas expectativas anteriores”. A evolução da sociedade traz desafios para as empresas, pois novos padrões de exigências são evidenciados a todo o momento e o atendimento a esses padrões deve ser constantemente avaliado e estudado para que os objetivos sejam alcançados. Para isso é preciso que se tenha clareza que a organização deve fazer a si própria uma crítica permanente, no sentido da busca constante da qualidade e da excelência.  

REFERENCIAL TEORICO
 Henrique, M.; Baptista, J.; Oliveira, P.; Ramirez, P. e Dias, L. (S/D). A Estratégia na estão de Serviços em uma Grande Empresa de Telefonia na Cidade de São Paulo: um Estudo de Caso na Empresa Xyz. VIII Simposio de Excelencia em Gestao de Tecnologia. Froehlich, C. e Bitencourt, C. (2008), Desenvolvimento organizacional com base em estratégias de diversificação. Santa Maria: UFSM. Disponivel em www.cascavel.ufsm.br/../584, acessado no dia 19 de Maio de 2012. Gualazzi, I. (S/A). Teoria do desenvolvimento organizacional. Disponível em http://www.lgti.ufsc.br/O&m/aulas/Aula3/teoria.htm, acessado no dia 1 de Maio de 2012 as 9h. SEGeT (S/A). Desenvolvimento Organizacional e a Formação de Lideranças: Um Estudo de caso no setor de Celulose. Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Disponivel em www.aedb.br/seget/respult_pos.html, acessado no dia 20 de Maio de 2012 as 8h. Stefano, S.; Silva, I.; Nani, J.; Silva, N. e Sáfadi, S. (S/A). Satisfação do Cliente nos Serviços Prestados pela Sercomtel Celular. Estudo de caso marketing: VII SEMEAD. Disponivel em www.ead.fea.usp.br/semead/semead/p... acessado no dia 17 de Maio de 2012.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pedofilia

Autores: Dinéria Macamo e Hipólito Sambo

É sabido que em certas populações, em algumas épocas históricas, uma forma de pedofilia era permitida e podia até assumir um caráter ritualístico institucionalizado. Na Grécia era freqüente uma relação sexual entre homens adultos e adolescentes, dentro de uma experiência de crescimento espiritual e pedagógico. Enquanto que eram severamente punidas as relações sexuais com as crianças impúberes. De facto na relação amorosa a idade da criança não devia ser inferior aos 12 anos.

O fenômeno da pedofilia “aceita socialmente” acabou juntamente com o mundo grego e, atualmente, nos é completamente estranha em virtude da profunda transformação que houve, ao longo do tempo, na relação entre adulto e criança, especialmente por causa da mudança na concepção da sexualidade e da diferença entre gerações.

O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de psicologia cultural e tem como tema “ Pedofilia”, que é um fenómeno social que vem se verificando há muitos anos como parte da cultura. O trabalho apresenta a seguinte estrutura: Conceito de criança, pedofilia, diagnóstico segundo DSM-IV, causas de pedofilia, pedofilia na África tradicional e na África hoje, crianças vitimas de pedofilia na tradição moçambicana, dia-à-dia das crianças moçambicanas vitimas de pedofilia, a lei hoje, discutindo os três contextos, o papel da educação no combate à pedofilia, o papel do psicólogo, o psicólogo e a vítima e a respectiva conclusao do trabalho.
Para elaboracao do trabalho, recorreu-se a revisao bibliografica.


Conceito de criança
Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1989, "criança são todas as pessoas menores de dezoito anos de idade".

Em psicologia, considera-se crianca todo individuo menor de 13 anos de idade ou que ainda não tenha entrado na puberdade. Na maioria das vezes, esses individuos encontram-se num periodo de desenvolvimento e maturacao biopsicosocial.

pedofilia
Segundo o dicinário Aurélio, a palavra pedofilia vem do grego paidophilia onde pais, "criança" e philia, "amizade", "afinidade", "amor", "afeição", "atração", "atração ou afinidade patológica" ou "tendência patológica"
Segundo Suplicy (1991) citado por Rodrigues (1991), a pedofilia é a variante sexual em que o individuo adulto sente desejo erótico compulsivo, de natureza homossexual ou heterossexual, por crianças ou adolescentes. As vítimas podem ser, inclusive, bebês de poucos dias ou meses de vida, geralmente resultando na morte deste bebê, principalmente se o violentador for do sexo masculino e tiver um intercurso com penetração vaginal ou anal.
Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde (OMS), item F65.4, a pedofilia é "preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes".

Diagnóstico segundo DSM-IV

Segundo DSM IV – manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais. 4 ed., a pessoa é considerada pedófila se cumprir os seguintes critérios:
Por um período de ao menos seis meses, a pessoa possui intensa atração sexual, fantasias sexuais ou outros comportamentos de caráter sexual por pessoas menores de 13 anos de idade ou que ainda não tenham entrado na puberdade

A pessoa decide por realizar seus desejos, seu comportamento é afetado por seus desejos, e/ou tais desejos causam estresse ou dificuldades intra e/ou interpessoais.
A pessoa possui mais do que 13 anos de idade e é no mínimo 3 anos mais velha do que a criança. Este critério não se aplica a indivíduos com 12-13 anos de idade ou mais, envolvidos em um relacionamento amoroso (namoro) com um indivíduo entre 17 e 20 anos de idade ou mais.
Os pedófilos podem apresentar caracteristicas tais como:
Proveniencia de todos os estratos sociais;
São considerados cidadãos respeitáveis;
Molestam sexualmente crianças antes dos 30 anos de idade;
ambos abusadores, incestuosos ou não, sentem desejo similar por crianças.

Causas de Pedofilia

As causas de pedofilia são idiopaticas mas um estudo publicado no Journal of Psychiatry Research, demonstrou que a pedofilia pode ser causada por ligações imperfeitas no cérebro. Os estudos indicaram que os pedófilos têm significativamente menos matéria branca, que é a responsável por unir as diversas partes do cérebro entre si. Para alem desta causa, existem outras associadas a pedófilos tais como: abuso de álcool/drogas; sentimento de inadaptação; depressão; fraco poder de controlo dos seus impulsos e fraca auto-estima.

Pedofilia na África tradicional e na África hoje
Os actos de pedofilia são cometidos desde os tempos antigos. Nessa época, faziam parte dos rituais dos povos, este acto era integrado na cultura dos povos antigos. Isto é evidenciados por relatos históricos que certificam a prática do relacionamento sexual com infantes sendo praticado pelos mais variados povos com tolerância ou mesmo admiração até a era judaico-cristã.
O mesmo comportamento foi verificado no Egipto antigo, onde os faraós envolviam-se com infantes submetidos aos caprichos sexuais dos poderosos.
Na africa tradicional, as criancas abusadas nao eram vistas como vitimas de pedofilia, pois este acto era concebido como uma pratica normal que todo individuo tinha que experimentar.

Actualmente, a pedofilia ja nao é aceite como um rito em virtude da profunda transformação que houve, ao longo do tempo, na relação entre adulto e criança, especialmente por causa da mudança na concepção da sexualidade e da diferença entre gerações.

O facto novo em nossos dias é o aspecto macroscópico que o fenômeno da pedofilia adquiriu. Na internet existem canais de oferta do produto, segundo os gostos e as preferências do cliente; As organizações pedófilas que hoje foram criadas aspiram sair da clandestinidade para poder se agregar e obter validação e consenso. Este tipo de propaganda tem o objetivo de retirar a pedofilia da pratica solitária e, legitimando a escolha sexual dos adeptos, cancelar seu intento transgressivo e a culpa conseqüente.

Atualmente a pedofilia tornou-se um fenômeno difuso, com interesses comerciais e turísticos consolidados. O encontro entre o mundo industrial ocidental e a fome dos povos do terceiro mundo que é o caso da África permite que a infância dos fracos seja violada sistematicamente em escala mundial pois, os pais vendem as seus próprios filhos pelos pais nos campos, prostitutos complacentes precocemente queimados na luta pela sobrevivência nas cidades, que oferecem seu corpo a grupos de ocidentais com os bolsos cheios de dinheiro.

A indiscutível visibilidade das condutas pedófilas e a maior atenção da mídia e da opinião publica ao problema, visto que hoje em dia a quantidade de material erótico e pornográfico em circulação, vai desde a editoria até a produção de vídeos na internet.

Crianças vitimas de Pedofilia na tradição moçambicana
Em algumas culturas mocambicanas, o abuso é por um lado problema não grave e com solução na família e, por outro não constitui problema. Esta percepção é de certa maneira compatível com a situação de não tomada de medidas pois este acto não é visto como um acto criminal. Assim, a prática da pedofilia nem sempre é encarada no contexto de violação dos direitos humanos da crianca, mas sim da ruptura destas expectativas, no caso das meninas para o lar e dos meninos para aprender como encarar uma mulher. Daí que, para a maior parte das famílias, nos casos em que ocorre a violação, estas obriguem o abusador ao pagamento de uma multa, como forma de compensação.


Dia-à-dia das Crianças moçambicanas vitimas de Pedofilia
Na maioria das vezes, o dia-a-dia das crianças moçambicanas vitimas de pedofilia tende a ser o mesmo que antes de ser abusada perante os olhos da sociedade visto que, estes casos não são dados a conhecer pois são geridos a nível da família, circulos, bairros e por ai, afinal o violador é quase sempre próximo da sua vitima que pode ser o pai, o padrasto, o irmão ou outro parente qualquer. Outras vezes ocorre fora de casa, como por exemplo, na casa de um amigo da família, na casa da pessoa que toma conta da criança, na casa do vizinho ou mesmo de um professor. Ela pode isolar-se, mas isso é como que não se notasse porque é persuadida pelos familiares mais próximos a voltar para as suas actividades do dia-a-dia.

A lei hoje
Só é crime o que se encontra tipificado na lei, isto é, todos os actos que constam do código penal ou legislacão avulsa que consagre determinado acto como crime, assim a lei penal em mocambique, prevé a violacão como crime, enquadrado no crime contra a honestidade.
Em Moçambique não há nenhuma lei que aborda o aspecto da pedofilia, ou seja, em moçambique ainda não há legislação sobre a pedofilia mas, quando casos desses acontecem aplica-se a lei contra a violacão que trata-se de um crime previsto e punido no artigo 393 do código penal, consistindo na prática da cupula ilicita com qualquer mulher, sem que para tal tenha dado o seu concentimento, tendo para tal que utilizar a violência fisicaou qualquer fraude que não seja seducão e esteja a vítima nesse momento privada dos seus sentidos punido com uma prisão de 2-8 anos.
A violacão de menores é um crimeprevisto e punido pelo artigo 394 do código penal a uma prisão de 8-12 anos.

Discutindo os três contextos
Visto que Moçambique é um pais multicultural, existem culturas em que a crianca vitima de pedofilia é concebida como que atingiu a maturidade muito cedo, e nao constitui crime, exigindo-se apenas uma multa. No dia-a-dia em certos contextos devido aos seus valores e crencas culturais a crianca tem sido persuadida a viver como se nada tivesse acontecido, a lei pune.
O facto deste acto ser praticado e resolvido na maioria das vezes no seio familiar ou nos circulos dificulta que se faca uma estatistica da ocorrencia destes casos em mocambique dificultando deste modo a aplicacao da pena prevista no codigo penal da lei.
Em alguns casos criancas vitimas deste acto desenvolvem disturbios emocionais que nao sao percebidos visto que os familiares tendem a persuadir um novo comportamento que a crianca tende a adoptar, convista a evitar que esse acto seja descoberto por muitos elementos da sociedade.
É necessário que se analise a crianca vitima de pedofilia na concepcao dos tres contextos para intervir de uma maneira adequada.

O papel da educação no combate à pedofilia
A educaçao é uma caracteristica universal da cultura que desempenha um papel fundamental na transmissao de valores e crenças para a mudança de comportamento. Assim sendo, é importante que ela contribua com os seguintes aspectos:
Desenvolvimento de competências cognitivas e sociais das crianças;
Os profissionais de educação devem ser envolvidos na luta contra o abuso sexual de crianças;
Os educadores têm a responsabilidade profissional de proteger os menores;
Através do seu contacto diário e da proximidade privilegiada com as crianças, os educadores podem identificar possíveis sinais ou sintomas que incidem que a criança é vítima de violência;
É de extrema importância que os educadores tenham acesso permanente à infomações sobre a real dimensão da pedofilia.

O papel do psicólogo
Ao lidar com uma vitima que sofreu de pedofilia, o psicologo deve ter em conta que muita coisa alterou-se no sistema psiquico doindividuo. Assim sendo, ela necessita de um apoio psicológico para voltar a viver o seu dia-a-dia normalmente.
Uma crianca vitima de pedofilia pode sofrer um dano emocional e psicológico em longo prazo. A criança pode desenvolver uma profunda sensação de solidão e abandono; vergonha dos outros membros da família ou pode temer que a família se desintegre ao descobrir seu segredo; pode sofrer uma perda violenta da auto-estima, tendo a sensação de que não vale nada e adquire uma representação anormal da sexualidade. A criança pode tornar-se muito retraída, perder a confiança em todos adultos e pode até chegar a considerar o suicídio, principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência se a criança a denunciar ou negar-se aos seus desejos; pode ter dificuldades para estabelecer relações harmônicas com outras pessoas; pode se transformar em adulto que também abusa de outras crianças assim como, pode se inclinar para a prostituicão. sendo assim, é necessário perssuadir aos pais e as pessoas mais próximos no sentido de:
Manterem a calma;
Apoiarem sempre criança, para que ela sinta o amor dos pais para com ela;
Transmitir segurança afim de ela não se sentir só;
Respeitar os sentimentos expressos pela criança;
Serem paciente;
Nunca pressionar a criança;
Ouvi-la atentamente e acreditar plenamente nela;
Entender o quão difícil para a criança está sendo a situação;
Confortá-la;
Fazer a criança compreender que eles vão protegé-la de qualquer forma;
Não fazer promessas que não possam cumprir;

O Psicólogo e a Vítima
o psicólogo deve ter em conta que a criança possa ter dificuldades em falar do sucessido por vários factores como ter sido ameaçada para guardar segredo, ou medo de ser castigada por ter feito algo de errado; ser rejeitada pelos pais e/ou amigos; reações negativas por parte dos amigos ou membros da família; ser tratada de forma diferente depois do abuso; preocupar os pais ou desestabilizar a família ou até ser expulsa de casa sendo assim, o psicólogo deve conquistar a confiança da vitima com vista a recolher informações relacionadas com o sucedido afim de poder intervir da melhor maneira.
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Conclusao
A pedofilia é definida pela OMS como sendo uma preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do outro sexo, geralmente pré-púberes. Algumas causas ainda sao disconhecidas.
Esta prática foi considerada como parte integrante da cultura, nao constituindo deste modo nem crime e nem ofensa moral mas, actualmente tem se olhado em outra vertente visto que, a concepcao dos valores da crianca foi transformada e ja existe lei de proteccao a crianca.
A multiculturalidade existente em mocambique faz com que a pedofilia seja interpretada de diversas formas e o dia-a-dia dessas criancas vitimas tambem possa diferir dependendo da maneira como este acto é concebido em cada cultura.
A intervencao da lei na proteccao da crianca é importante pois punindo este acto violento contra a crianca contibui para a diminuiçao do indice deste mal.
O psicólogo deve ter em conta os tres contextos abordados e o papel da educacao para intervir ajudando a crianca vitima a organizar seu aparelho psiquico bem como, ajudar as pessoas próximas à vitima a lidar com este tipo de situacao de modo a se criar um ambiente saudável.


Refências bibliográficas

Rodrigues R. e Martins, O. (1991). Objetos do desejo: Das variações sexuais, perversões e desvios. São Paulo: Iglu.

Batista, D. (1995). DSM IV – manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais. 4 ed. Trad.: Porto Alegre: Artes Médicas.
Cool, C.; Palacios, J. e Marchesi, A. (1996). Desenvolvimento psicológico e Educação- Psicologia da Educação. Porto Alegre.

http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1705273-onde-vem-pedofilia/#ixzz1cRGbzDp0

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Aconselhamento psicológico na infecção e doença pelo HIV vs Maternidade e gravidez precoce na adolescência

A epidemia da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) constitui fenómeno global, complexo, dinâmico e instável, cuja forma de ocorrência nas diferentes regiões do mundo depende, entre outros factores determinantes, do comportamento humano individual e colectivo.
O presente relatório, surge como produto da participação nas palestras da disciplina de seminários especializados. Com o trabalho, pretende˗se abordar aspectos ligados a duas realidades temáticas, nomeadamente:
“Aconselhamento psicológico na infecção e doença pelo HIV”. Apresentado pelo doutor Alfredo Maposse no dia 18 de Agosto de 2011 pelas 13 horas na sala 304 da Faculdade de Educação e gravidez precoce na adolescencia.
O relatório apresenta a seguinte estrutura: na primeira parte, abordar˗se˗á apectos relacionados ao tema “aconselhamento psicológico na infecção e doença pelo HIV”: razões da escolha do tema; conceitos-chaves; dissertação sobre o tema (com base na palestra): importância do aconselhamento na infecção e doença pelo HIV; papel do profissional na gestão de pessoas padecendo de HIV /SIDA; passos no processo de aconselhamento; níveis de aconselhamento em infeccão e doença pelo HIV; obstáculos a toma dos ARVs; guia do aconselhamento para adesão; discussão do tema baseado na revisão da literatura: infecção pelo HIV; objectivos do aconselhamento em HIV; processo de aconselhamento psicológico; tipos de aconselhamento para casos de HIV /SIDA; por quem é feito o aconselhamento para indivíduos portadores de HIV/SIDA; HIV/SIDA em Moçambique; factores impulsionadores da epidemia do HIV em Moçambique; papel do psicólogo no aconselhamento em pessoas com HIV. Posteriormente falar-se-á do tema “maternidade e gravidez precoce na adolescência” com os seguintes subtemas: razões da escolha do tema; conceitos chaves; discussão sobre o tema baseado na palestra: determinantes da gravidez na adolescência, implicações da gravidez; aspectos psicológicos da gravidez na adolescência; prevenção da gravidez precoce; discussão do tema baseado na revisão da literatura: gravidez na adolescência; gravidez na adolescência em Moçambique; factores da gravidez na adolescência; consequências da gravidez precoce e considerações finais.
Para elaboração do relatório, as metodologia utilizadas para recolha de informação foram: pesquisas bibliográficas e fontes orais através de participação nas palestras sobre os temas.

I PARTE (“ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO NA INFECÇÃO E DOENÇA PELO HIV”)
Razões da escolha dos temas

Actualmente, as práticas médicas nas nossas unidades sanitárias estão completamente viradas à doença, particularmente no atendimento a indivíduos portadores de HIV/SIDA, sem no entanto, se procurar compreender os aspectos psicológicos da pessoa doente. Em alguns casos em que a unidade sanitária possui serviços de atendimento e acompanhamento psicológico, não são totalmente eficazes devido a quantidade de indivíduos que necessitam desses serviços e devido ao número reduzido de profissionais desempenhando essas actividades.
A razão da escolha do tema, é o grau de importância que o mesmo apresenta para a sociedade em geral e o contexto moçambicano em específico, pois retrata questões do dia˗a˗dia ligadas a realidade moçambicana. Portanto, como estudante de Psicologia, surge a curiosidade de compreender as questões relacionados ao tema para melhor explicar e intervir futuramente no processo de aconselhamento a indivíduos necessitando de ajuda neste âmbito (HIV e SIDA).

Conceitos-chave

Infecção se refere à invasão, desenvolvimento e multiplicação de um microorganismo no organismo de um animal ou planta, causando doenças. A invasão desencadeia no hospedeiro uma série de reacções do sistema imunológico, a fim de defender o local afectado resultando, geralmente, em inflamações (Araguaia, s/d).

A SIDA é provocada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), que penetra no organismo. A transmissão pode acontecer nas relações sexuais com alguém infectado; contacto com sangue infectado; de mãe para filho, durante a gravidez ou parto, pela amamentação, etc. (Roche, S/d).

Aconselhamento é definido como uma relação na qual uma pessoa tenta ajudar uma outra a compreender e a resolver problemas aos quais ela tem que enfrentar.

Aconselhamento psicológico é uma relação interpessoal na qual o conselheiro através de técnicas científicas assiste o indivíduo na sua totalidade psíquica a se ajustar mais efectivamente a si próprio e ao seu ambiente (Scheefer, 1989).

O aconselhamento em HIV/SIDA configura-se em um diálogo que visa estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores e a oferecer ao cliente condições para que avalie sua condição de vulnerabilidade e riscos pessoais de portar o Vírus da Imuno deficiência Adquirida (HIV) ou de já ter desenvolvido a Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida (SIDA), tome decisões e encontre maneiras realistas, ou seja, maneiras viáveis de enfrentar seus problemas relacionados às HIV/SIDA (Souza, Braga, e Vieira, 2010).

DISSERTAÇÃO SOBRE O TEMA (COM BASE NA PALESTRA)
Durante a palestra, foram abordados alguns aspectos relacionados ao aconselhamento psicológico na infecção e doença pelo HIV. Os tópicos forão os seguintes: Importância do aconselhamento na infecção e doença pelo HIV; O papel do profissional na gestão de pessoas padecendo de HIV; Quem deve dar o aconselhamento; Onde praticar o aconselhamento; Boas aptidões de comunicação em aconselhamento; Atitude positiva em comunicação; Passos no processo de aconselhamento; Níveis de aconselhamento em infecção e doença pelo HIV; Obstáculos a toma dos ARVS e por fim falou-se de estratégias para incentivar a adesão.

Define-se o aconselhamento como uma relação de ajuda com vista ajudar a pessoa a auto-ajudar-se na resolução de seus problemas ou a lidar com a situação. Como um processo, o aconselhamento objectiva o empoderamento das pessoas a explorarem e reduzirem e/ou resolver seus problemas.

A pessoa indicada para realizar o processo de aconselhamento é o profissional com conhecimentos sobre HIV e doenças relacionadas, tenha atitudes positivas e possui boas aptidões comunicativas. Em diversos locais pode˗se realizar o aconselhamento, como por exemplo nos hospitais, empresas e clínicas.

Importância do aconselhamento na infecção e doença pelo HIV
Ao falar˗se da importância do aconselhamento na infecção e doença pelo HIV, apontou-se alguns aspectos relevantes como: providenciar apoio social e psicológico a qualquer pessoa infectada ou afectada pelo vírus de HIV; providenciar informação factual em matéria de infecção e doença pelo HIV; reduzir o auto-estigma e a discriminação e previnir a propagação do vírus.

Papel do profissional na gestão de pessoas padecendo de HIV/SIDA

O papel do profissional na gestão de pessoas padecendo de HIV/SIDA é de providenciar apoio emocional ao paciente e sua familia focalizando-se nas suas necessidades psicológicas; dar informação completa e factual acerca do HIV/ SIDA e TARV ao paciente e sua família; referir o paciente ao teste de diagnóstico e/ou tratamento, dependendo da situação; referir o paciente e sua família a serviços de apoio disponíveis.

Passos no processo de aconselhamento
1. passo: ajudar o indivíduo a contar sua história;
2. passo: ajudar o indivíduo na busca de opções de ajuda;
3. passo: ajudar o indivíduo a fazer planos.

Níveis de aconselhamento em infeccão e doença pelo HIV

Os diferentes níveis de aconselhamento em infeccão e doença pelo HIV abordados durante o seminário foram os seguintes: aconselhamento pré˗teste, pós˗teste e aconselhamento de apoio.
Aconselhamento Pré-teste é o momento que antecede o teste. Ha interacção entre o profissional e o paciente com o objectivo de capacitar o paciente a tomar uma decisão informada de fazer ou não o teste.
Aconselhamento Pós – teste visa avaliar a prontidão do paciente para receber o resultado e buscar a compreensão do paciente acerca do teste, isto é, o que é que significará o resultado positivo ou negativo para o paciente e o que é que faria se o resultado for positivo ou negativo.
Aconselhamento de apoio é para pacientes que ja têm conhecimento do seu estado sorológico. Para pacientes com diagnóstico positivo, visa dar informação relativa a encaminhamento para o tratamento, exames a serem efectuados, possíveis tratamentos, significado do tratamento antiretroviral e a duração do tratamento. Em casos de resultado negativo, orientar para nova testagem e reforçar medidas de prevenção.

Obstáculos a toma dos ARVs
Os obstáculos a toma dos ARVs são de três categorias, nomeadamente: factores relacionados ao regime de toma, factores relacionados com o professional e factores ligados ao paciente.
Factores relacionados ao regime de toma: os efeitos colaterais é uma das razões pelas quais os pacientes falham ou abandonam os ARVS ou tornam-se completamente pouco aderentes. Além deste e outros aspectos, tem o factor restrições alimentares que leva na maioria das vezes a fazer com que os pacientes desistam do tratamento.
Factores relacionados com o professional: aptidões comunicativas, atitude do profissional, tempo para ensinar o paciente, falta de paciência e aceitação.
Factores ligados ao paciente: estigma, esquecimento, fraca compreensão, não revelação de diagnóstico a parentes e pessoas importantes, falta de apoio social, viagens não programadas.

Guia do aconselhamento para adesão
O guia do aconselhamento para adesão tem como objectivos: explicar as funções dos ARVs como tratamento e não uma cura e que é para toda vida; explicar o impacto dos ARVs no organismo (resultantes da toma correcta ou incorrecta); reforçar a importância dos cuidados contínuos, na prevenção e tratamento de infecções oportunistas, higiene, nutrição e sexo seguro; explicar em termos simples e claros a resistência ao medicamento; explicar porque é que o paciente pode sentir-se fraco após início do tratamento com ARVs; dar informações detalhadas acerca de determinados medicamentos, tais como efeitos colaterais e como lidar com eles; discutir a interacção da auto-medicação e uso de ervas com os ARVs; discutir o papel do tratamento e da revelação do diagnóstico; desincentivar a partilha de medicamentos; enfatizar a toma da dose certa na hora certa e perguntar ao paciente se precisa de mais explicação e responder a possíveis perguntas.


DISSERTAÇÃO SOBRE O TEMA (COM BASE NA REVISÃO DA LITERATURA)
Infecção pelo HIV

A infecção pelo HIV é uma doença transmissível, produzida por um retrovírus (vírus lento) que afecta directa e fundamentalmente, entre outros, o sistema imunológico (produzindo sua destruição) e o sistema nervoso. Apresenta um amplo espectro de manifestações clínicas, que vão desde a infecção aguda inicial, quando esta é sintomática e passando por um largo período de portador assintomático, de anos de duração, até desembocar em uma série de infecções oportunistas e/ou neoplasias que definem o estado mais avançado e mortal da doença denominado SIDA (Remor, 1999).
De acordo com Remor (1999), a infecção pelo HIV se transmite através do contacto directo de fluídos corporais (como o sangue, o sémen e as secreções vaginais) de uma pessoa infectada, com o sangue ou as mucosas de uma pessoa não infectada. O HIV ataca o sistema imunológico, em especial, ainda que não unicamente, aos linfócitos T4 (CD4+) e dá lugar a 26 enfermidades diferentes, de acordo com o critério dos Centers for Diseases Control (CDC) dos Estados Unidos. Portanto, para falar de diagnóstico ou caso de SIDA, devemos observar uma série de critérios já estabelecidos e que foram definidos com fim de vigilância epidemiológica, que são: soropositividade ao HIV; menos de 200 linfócitos CD4+/ul; e uma das 26 enfermidades especificadas pelo CDC.

Objectivos do aconselhamento em HIV

O diagnóstico e tratamento da infecção por HIV e SIDA está acompanhado de profundas implicações psicológicas e sociais que não se podem deixar de lado se o que pretende-se é dar uma resposta eficaz aos diferentes problemas que apresenta a doença. Portanto, de acordo com Remor (1999), os objectivos da intervenção psicológica devem, por um lado, focalizar-se na identificação das necessidades; transmissão de informação suficiente e adequada ao indivíduo e proporcionar estratégias psicoterapêuticas que incluam instrumentos de manejo de suas próprias emoções, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida num sentido amplo. Por outro, estimular atitudes positivas e estratégias de enfrentamento (coping), comunicação clara e aberta, detecção e enfrentamento ao stress, incrementar a sensação de autocontrole, expectativas de eficácia e esperança, desenvolver habilidades sociais e facilitar a integração com os serviços da comunidade (ONGs, associações, grupos de auto-apoio, etc.) e centros de saúde.

Processo de aconselhamento psicológico

O processo de aconselhamento psicológico em indivíduos portadores de HIV/SIDA, também envolve a construção duma aliança com o indivíduo, na qual quem promove o aconselhamento disponibiliza tempo e liberdade para que o paciente explore os seus pensamentos e sentimentos, numa atmosfera de confiança, respeito e neutralidade. Segundo Trindade e Teixeira (2000), para atingir este objectivo, o conselheiro utiliza competências básicas de aconselhamento como a escuta activa, a empatia e a reflexão, tentando compreender o paciente e a situação em que se encontra. O processo centra-se na compreensão que o sujeito tem da situação em que se encontra, as escolhas a fazer e decisões a tomar sustentando-se nos seus próprios insights.

Tipos de aconselhamento para casos de HIV/SIDA
De acordo com o Módulo 3 de aconselhamento, os tipos de aconselhamento que estão ligados aos casos de HIV/SIDA são: aconselhamento de crise; aconselhamento para resolução de problema; aconselhamento para tomada de decisão.
Aconselhamento de crise
É o mais usado, devido à ameaça que o HIV/SIDA representa para a sobrevivência e dado o estigma social envolvido. Uma crise emocional existe quando o indivíduo se sente: intensamente ameaçado; completamente apanhado de surpresa; emocionalmente perturbado e com a consequente perda de controlo; emocionalmente paralisado porque não vislumbra nenhuma solução: todos os esforços para resolver a crise parecem sem esperança, ou parecem ser tão dolorosos quanto à própria ameaça.

Aconselhamento para resolução de problemas
Ajuda a planificar a prevenção da transmissão, os métodos de suportar as manifestações da doença e o cuidado médico. O aconselhamento de resolução de conflitos apoia-se: no suporte emocional e na empatia; entender a natureza do problema; pensar no impacto do problema na sua vida quotidiana; adquirir ou fortalecer habilidades pessoais para lidar com a crise; mudar o comportamento para proteger-se a si próprio e às outras pessoas.

Aconselhamento para tomada de decisão
Ajuda a pessoa a concentrar-se em decisões perturbadoras mas necessárias. A tomada de decisão pode incluir pensar sobre: quem deverá ser comunicado da situação? Como? Quando? Quem vai poder oferecer apoio emocional? E os cuidados físicos (no caso do SIDA)? No caso do SIDA, quem cuidará das crianças? Que mudança pode ser feita na dieta ou no estilo de vida para manter a saúde?

Por quem é feito o aconselhamento para indivíduos portadores de HIV/SIDA
Segundo Trindade & Teixeira (2000), o aconselhamento pode ser feito por profissionais habilitados em HIV/SIDA, como profissionais da área da saúde: psicólogos, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, técnicos de serviço, profissionais da área de educação (professores, pedagogos, pesquisadores); grupos comunitários e religiosos (activistas, membros das associações, instituições organizadas para a prevenção do HIV/SIDA).
Todavia, é importante que os conselheiros tenham conhecimentos actualizados sobre HIV/SIDA e, em especial, disponibilidade para: reconhecer suas próprias limitações e potencialidades; valorizar o que o paciente sabe, pensa e sente; perceber as necessidades do paciente e dar respostas a estas e, por último, respeitar a singularidade do paciente. Essas disponibilidades facilitam a construção de um vínculo de confiança, essencial para que o aconselhamento se desenvolva com sucesso (Trindade & Teixeira, 2000). Contudo, todos os profissionais da equipe de saúde deveriam estar aptos a desenvolver o aconselhamento. Pelas características do trabalho do médico, assim como pelo papel social que ocupa no contexto da atenção à saúde, a realização do aconselhamento durante a consulta médica é fundamental.

Qualidades necessárias para aconselhar
De acordo com Bennett (2000), as atitudes ou postura, o saber ouvir/escutar, o saber comunicar, a liderança e condução da conversação são qualidades necessárias que identificam um psicólogo no processo de aconselhamento. Ao adoptar essas qualidades, o psicólogo permite que o indivíduo liberte-se para que juntos possam trabalhar em prol do seu bem estar, ajudando-o no seu auto-conhecimento, auto-compreensão e na expressão dos seus sentimentos com vista a receber a ajuda de que realmente necessita.

HIV/SIDA em Moçambique
Moçambique vive um ambiente de epidemia do HIV severa. Actualmente, 15% de mulheres grávidas entre os 15 e 49 anos de idade vivem com o vírus causador da SIDA. A epidemia tem um carácter heterogéneo em termos geográficos, sócio˗demográficos e socioeconómicos: mulheres, residentes urbanos, pessoas residindo nas regiões sul e centro são mais afectadas pelo HIV e SIDA. A principal via de transmissão continua a ser heterossexual em cerca de 90% dos casos em adultos (CNCS Moçambique, 2011).
A taxa mais elevada de prevalência de mulheres que vivem com HIV situa-se na faixa etária dos 15-24 anos, com números 2.5 vezes mais altos do que nos homens do mesmo grupo etário. Entre os 15-49 anos, a prevalência nas mulheres é aproximadamente 1.5 vezes mais elevada do que nos homens do mesmo grupo etário (CNCS Moçambique, 2011).
De acordo com CNCS Moçambique (2011), há dois factores que são responsáveis pela feminização da epidemia: os factores biológicos do sexo (as mulheres são mais vulneráveis à infecção do HIV devido à grande superfície da mucosa da vagina exposta durante a penetração sexual) e os factores culturais, que na opinião de alguns autores são os principais. Os factores podem ser: baixo poder das mulheres em negociar o preservativo; a violência sexual e o sexo intergeracional, que consiste em mulheres terem como parceiros homens mais velhos (quase sempre por questões económicas) que podem, por sua vez, ter tido várias parceiras sem protecção, tendo assim maior probabilidade de estarem infectados.
De acordo com dados da UNICEF (s/d), em Moçambique, as mulheres que participam nos programas de prevenção vertical do HIV, beneficiam-se dos seguintes aspectos: serviços de aconselhamento e teste do HIV, o teste é feito de forma rotineira a todas as mulheres grávidas; referência das mulheres grávidas cujo resultado ao teste é positivo à um centro para o teste de contagem de CD4 e início da terapia antiretroviral, se ela for elegível; cuidados pré-natais e aconselhamento contínuos; distribuição de ARVs de acordo com as normas nacionais actualizadas; promoção de parto numa maternidade, para que se prestem cuidados e tratamento profiláctico óptimos às mães e aos bebés recém nascidos; aconselhamento pós-parto, incluindo o aconselhamento sobre as opções de alimentação do bebé.

Factores Impulsionadores da Epidemia do HIV em Moçambique

Com base nos dados apresentados sobre a incidência e o impacto demográfico do HIV pelo CNCS (2011), pode-se sugerir que os factores impulsionadores desta epidemia em Moçambique são:
1. Parcerias múltiplas e concomitantes;
2. Transmissão entre parceiros discordantes fixos;
3. Baixo e uso inconsistente do preservativo;
4. Baixo nível de circuncisão nas províncias do Centro e Sul do país;
5. Alta mobilidade e migração da população por trabalho, comércio e meios de subsistência;
6. Trabalhadores/as de sexo;
7. Comportamento de alto risco entre homens que tem sexo com outros homens e utilizadores de drogas intravenosas;
8. Aspectos estruturais da sociedade como iniquidade de género, violência e abuso sexual (direitos humanos), e aspectos culturais e tradicionais.

Papel do psicólogo no aconselhamento em pessoas com HIV
Segundo Rasera e Issa (2007), a actuação do psicólogo contempla uma diversidade de acções, influenciadas por diferentes inspirações conceituais e valores. Entre as acções realizadas pelo psicólogo, destacam˗se: a psicoterapia individual; psicoterapia de grupo; criação de grupos de apoio e grupos educativos; promoção de redes de solidariedade; treinamento de profissionais de saúde; assessoria e planejamento de acções de defesa dos direitos dos portadores e promoção de campanhas de consciencialização da sociedade em geral.

Para Remor (1999), o psicólogo desempenha um papel fundamental na intervenção/aconselhamento em pessoas portadoras de HIV e SIDA, pois estabelece algumas prioridades, tais como o fortalecimento das capacidades do indivíduo para o enfrentamento, frente ao desamparo aprendido; ajuda na tomada de decisões; ajudar a afrontar o estigma e isolamento associado à SIDA; reduzir as alterações emocionais; dar informação clara e adequada ao paciente e ensinar estratégias de autocontrolo. Contudo, para reduzir as alterações emocionais de modo a melhor intervir, o profissional de aconselhamento deve actuar nos três níveis de resposta: cognitivo, fisiológico-emocional e motor ou comportamental.

II PARTE (“MATERNIDADE E GRAVIDEZ PRECOCE NA ADOLESCÊNCIA”)

Razões da escolha do tema
As atitudes das pessoas são, estimuladas e condicionadas tanto pela família quanto pela sociedade. E a sociedade tem passado por profundas mudanças em sua estrutura, inclusive aceitando a sexualidade na adolescência e, consequentemente, a gravidez na adolescência. Portanto, à medida que os tabus, inibições, tradições e comportamentos conservadores estão diminuindo, a actividade sexual e a gravidez na infância e juventude vai aumentando acompanhado de inúmeras consequências psico-sociais. É com base nesta abordagem que surge a motivação para a escolha do tema, afim de analisá-lo para melhor compreender e interpretar o fenómeno da maternidade e gravidez precoce na adolescência.

Conceitos chaves
Adolescência é a fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a infância e a idade adulta (Chagas, s/d). Esta fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis (físico, mental e social) e representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e de aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis sociais do adulto. Durante esta etapa é comum o aumento do interesse pelo sexo e o início das primeiras relações sexuais. Para Ana (2007), fisicamente os indivíduos já são capazes de engravidar, mas emocionalmente não estão maduros para serem pais e mães.

A gravidez é o período de crescimento e desenvolvimento do embrião na mulher e envolve várias alterações físicas e psicológicas. Desde o crescimento do útero e alterações nas mamas a preocupações sobre o futuro da criança que ainda irá nascer. São pensamentos e alterações importantes para o período (Lay-Ang, s/d).

Apesar de a Organização Mundial de Saúde considerar a adolescência como o período de dez (onde geralmente a mulher tem a sua primeira menstruação) a dezanove anos na vida de um indivíduo, cada país especifica a idade em que seus cidadãos passam a ser considerados adultos (a chamada maioridade legal) ainda podendo ser influenciados localmente por factores culturais.

Adolescência e gravidez, quando ocorrem juntas, podem acarretar sérias consequências para todos os familiares, mas principalmente para os adolescentes envolvidos, pois envolvem crises e conflitos. O que acontece é que esses jovens não estão preparados emocionalmente e nem mesmo financeiramente para assumir tamanha responsabilidade, fazendo com que muitos adolescentes saiam de casa, cometam abortos, deixem os estudos ou abandonem as crianças sem saber o que fazer ou fugindo da própria realidade (Lay-Ang, s/d).

DISSERTAÇÃO SOBRE O TEMA (COM BASE NA PALESTRA)
Determinantes da gravidez na adolescência
Vários factores estão por detrás da gravidez na adolescência. Durante a palestra destacou˗se alguns, tais como: pertencer a um grupo desfavorável; baixo nível de escolaridade; vida sexual precoce e promiscuidade; desestruturação familiar; instabilidade económica; falta de informação correcta sobre como evitar a gravidez; abuso sexual da rapariga; postura da religião da rapariga; influência social e desejo de se sentir adulta.

Implicações da gravidez
As implicações da gravidez são apresentadas em duas vertentes: para a adolescente e para o recém˗nascido. Para a adolescente apontam˗se aspectos como: ameaças de parto prematuro; infecções urinárias; anemia; morte; exclusão social; conflitos familiares; abandono escolar e aborto. Enquanto para o recém˗nascido podem˗se apontar aspectos como: desnutrição, baixo peso à nascença; maior probabilidade de morte e atraso no desenvolvimento neuro˗psicomotor futuro.

Aspectos psicológicos da gravidez na adolescência

Esses aspectos podem ser de duas categorias mutuamente exclusivas, dependendo do indivíduo e do meio em que este se encontra. Os primeiros aspectos a referir, são consequências negativas: baixa auto˗estima; humilhação; tristeza; insegurança; depressão e tentativa de suicídio. Os segundos aspectos são as consequências positivas: alegria; conforto; segurança e aceitação no seio da família e da comunidade.

Prevenção da gravidez precoce

Há várias estratégias que podem ser empregues para a prevenção da gravidez precoce. Durante a palestra destacou˗se algumas como: intervenção educativa; programas de desenvolvimento da juventude (educação sexual e treinamento de tomada de decisão); intervenções em saúde reprodutiva (prevenir gravidez precoce, identificação de riscos e educação sobre os contraceptivos) e aconselhamento psicológico.

DISSERTAÇÃO SOBRE O TEMA (COM BASE NA REVISÃO DA LITERATURA)

Gravidez na adolescência
A gravidez precoce é uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade da adolescência, com sérias consequências de seus filhos que nascerão e de suas famílias.
Segundo Ballone (2003), a incidência da gravidez na adolescência está crescendo e, nos EUA vê-se que de 1975 a 1989 a percentagem dos nascimentos de adolescentes grávidas e solteiras aumentou 74,4%. Em 1990, os partos de mães adolescentes representaram 12,5% de todos os nascimentos no país. Lidando com esses números, estima-se que aos 20 anos, 40% das mulheres brancas e 64% de mulheres negras terão experimentado ao menos 1 gravidez nos EUA .
No Brasil a cada ano, cerca de 20% das crianças que nascem são filhas de adolescentes, número que representa três vezes mais meninas com menos de 15 anos grávidas que na década de 70. A grande maioria dessas adolescentes não tem condições financeiras nem emocionais para assumir a maternidade e, por causa da repressão familiar, muitas delas fogem de casa e quase todas abandonam os estudos (Ballone, 2003).
Estudos feitos por Mitchel e Wellings (1998), com indivíduos de 16 a 29 anos, numa amostra de mil pessoas, demostram que 65% não tinha previsto sua primeira relação sexual.

Gravidez na adolescência em Moçambique
De acordo com Machungo (2004), a gravidez indesejada é mais frequente nas adolescentes, o último censo populacional demonstra que 17% das adolescentes entre os 15-19 anos tiveram já um filho, por um lado, porque a sociedade tradicional e os seus valores não são respeitados, particularmente nas áreas urbanas, e as adolescentes adoptam a cultura ocidental incluindo a prática de relações sexuais livres. Por outro lado a educação sexual nas escolas é ainda pobre ou não existe e visto que a sexualidade é um tabu, os pais não a discutem com os seus filhos adolescentes.

O conhecimento acerca dos contraceptivos é também ainda muito limitado e mesmo, quando existe, muitos adolescentes têm as suas relações desprotegidas. Consequentemente a gravidez indesejada na mulher adolescente é frequente e muitas terminam-na recorrendo a um aborto inseguro (Machungo, 2004).

Por motivos culturais históricos e tradicionais, muitas adolescentes moçambicanas, são privadas de muitas coisas, a maior parte delas, não vive a fase da adolescência. Há meninas que, por recusarem o casamento, são submetidas a castigos corporais e são amarradas durante dias, privadas de comer, até mudarem de ideia. O actual Código Civil permite o casamento às raparigas apenas a partir dos 18 anos e aos rapazes a partir dos 20. Por causa disso, não há registos oficiais sobre o número de casamentos precoces realizados no país (Mayte, Sandrine e Willian, 1998).

Factores da gravidez na adolescencia
Segundo Vitalle e Amancio (2004), o contexto familiar tem uma relação directa com a época em que se inicia a actividade sexual. As adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse período, geralmente vêm de famílias cujas mães se assemelharam à essa biografia, ou seja, também iniciaram vida sexual precoce ou engravidaram durante a adolescência.
A utilização de métodos anticoncepcionais não ocorre de modo eficaz na adolescência, devido a factores psicológicos inerentes ao período da adolescência. A adolescente nega a possibilidade de engravidar e essa negação é tanto maior quanto menor a faixa etária. A actividade sexual da adolescente é, geralmente, eventual, justificando para muitas a falta de uso rotineiro de anticoncepcionais. A grande maioria delas também não assume diante da família a sua sexualidade, nem a posse do anticoncepcional, que denuncia uma vida sexual activa. Assim sendo, além da falta ou má utilização de meios anticoncepcionais, a gravidez e o risco de engravidar na adolescente podem estar associados a uma menor auto-estima, à um funcionamento familiar inadequado, à grande permissividade falsamente apregoada como desejável à uma família moderna ou à baixa qualidade de seu tempo livre. De qualquer forma, o que parece ser quase consensual entre os pesquisadores, é que as facilidades de acesso à informação sexual não tem garantido maior protecção contra doenças sexualmente transmissíveis e nem contra a gravidez nas adolescentes (Vitalle e Amancio, 2004).
Contudo, a gravidez precoce pode estar relacionada a diferentes factores, desde a cultura, estrutura familiar e maturação bio-psicológica do indivíduo. Por isso, a intervenção do psicólogo e o apoio da família e da sociedade perante estas situações é de extrema importância para proporcionar compreensão, diálogo, segurança, afecto e auxílio para que tanto os adolescentes envolvidos quanto a criança que será gerada se desenvolvam saudavelmente.

Consequências da gravidez precoce

A gravidez na adolescência envolve muito mais do que problemas físicos, pois há também problemas emocionais, sociais, entre outros. Uma jovem de 14 anos, por exemplo, não está preparada para cuidar de um bebé, muito menos de uma família. Entretanto, o seu organismo já está preparado para prosseguir com a gestação, já que, a partir do momento da menstruação, a maturidade sexual já está estabelecida (Vitalle e Amancio, 2004). Outra polémica, é o de mães solteiras, por serem muito jovens os rapazes e as moças não assumem um compromisso sério e na maioria dos casos quando surge a gravidez um dos dois abandona a relação sem se importar com as consequências. Este é apenas um dos motivos que faz crescer consideravelmente a cada ano o número de pais e mães jovens e solteiros.

De acordo com Vitalle e Amancio (2004), quando a actividade sexual tem como resultado a gravidez, gera consequências a curto e a longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas sociais (educacionais e de aprendizado, etc.), intra˗familiares, problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, além de complicações da gravidez e problemas de parto. É por isso que alguns autores considerem a gravidez na adolescência como sendo uma das complicações da actividade sexual.

Para Ballone (2003), estudos sobre ideação de suicídio em adolescentes grávidas, feitos por Freitas e Botega em 120 adolescentes grávidas (40 de cada trimestre gestacional), com idades variando entre 14 e 18 anos, atendidas em serviço de pré-natal da Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba. Apresentam os seguintes resultados: casos de ansiedade em 25 indivíduos (21 %); casos de depressão em 28 (23%). Desses, 12 indivíduos (10%) tinham ansiedade e depressão. Ideação suicida ocorreu em 19 (16%) das pacientes. Não foram encontradas diferenças nas prevalências de depressão, ansiedade e ideação suicida nos diversos trimestres da gravidez. As tentativas de suicídio anteriores ocorreram em 13% das adolescentes grávidas. A severidade dessas tentativas de suicídio teve associação significativa com o grau da depressão, bem como com o estado civil das pacientes (solteira sem namorado).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O aconselhamento em HIV/SIDA é um diálogo que visa estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores e oferecer ao cliente condições para que avalie sua condição de vulnerabilidade e riscos pessoais de portar o Vírus da Imuno deficiência Adquirida (HIV) ou de já ter desenvolvido a Síndrome da Imuno deficiência Adquirida (SIDA), tome decisões e encontre maneiras realistas, ou seja, maneiras viáveis de enfrentar seus problemas relacionados às HIV/SIDA.

A gravidez na adolescência é a gestação ocorrida em jovens que encontram-se, portanto, em pleno desenvolvimento dessa fase da vida. Esse tipo de gravidez em geral não é planificada nem desejada e acontece em meio a relacionamentos sem estabilidade. Envolve muito mais do que problemas físicos, pois há também problemas emocionais, sociais, entre outros.

Em Moçambique, a gravidez indesejada é mais frequente nas adolescentes, de acordo com o último censo populacional, 17% das adolescentes entre os 15-19 anos tiveram já um filho. A taxa mais elevada de prevalência de mulheres que vivem com HIV situa-se na faixa etária dos 15-24 anos, com números 2.5 vezes mais altos do que nos homens do mesmo grupo etário. Entre os 15-49 anos, a prevalência nas mulheres é aproximadamente 1.5 vezes mais elevada do que nos homens do mesmo grupo etário.
Para além de aspectos culturais, o conhecimento acerca dos contraceptivos é ainda muito limitado e mesmo, quando existe, muitos adolescentes têm as suas relações desprotegidas. Um dos factores determinantes a estas práticas é o facto da adolescente negar a possibilidade de engravidar ou mesmo de contrair a doença, essa negação é tanto maior quanto menor a faixa etária.
O aconselhamento desempenha um papel fundamental na gravidez, infecção e doença pelo HIV/SIDA porque providencia apoio social e psicológico face as alterações emocionais de qualquer pessoa nesta situação. Portanto, a inserção do aconselhamento na atenção básica, constitui um grande desafio para gestores e profissionais de saúde, pois necessita de muitos mecanismos de superação para que resultados satisfatórios sejam obtidos.
Contudo, estratégias como intervenção educativa, programas de desenvolvimento da juventude (educação sexual e treinamento de tomada de decisão), intervenções em saúde reprodutiva (prevenir gravidez precoce, identificação de riscos e educação sobre os contraceptivos) e aconselhamento psicológico, podem ser empregues para a prevenção da gravidez precoce e redução da pandemia do HIV.

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