domingo, 14 de junho de 2009

Aprendizagem Social

 
No presente trabalho abordarei a teoria da aprendizagem social de Bandura, seus reflexos e impacto para a juventude moçambicana. A teoria cognitivo-social de Bandura tem suas origens na corrente behaviorista e partilham o princípio de que as consequências influenciam a repetição ou extinção do comportamento. E difere do behaviorismo porque valoriza os aspectos cognitivos tais como expectativas, pensamentos e crenças que influenciam o comportamento. Esta teoria é designada de aprendizagem social porque é baseada no que o individuo aprende observando os outros e interagindo com o seu meio.
Neste ensaio, contém subtemas da aprendizagem social tais como: a teoria da aprendizagem, aplicação de reforços, os factores que influenciam a ocorrência da aprendizagem, as diferentes fases em que ocorre a aprendizagem, aplicação da teoria, e os reflexos e impacto no comportamento da juventude moçambicana.
Ao longo do ensaio procuro explicar resumidamente o impacto da teoria e como se reflecte na juventude moçambicana e na sociedade em geral. No fim do trabalho contem a respectiva conclusão do tema abordado.

 

Aprendizagem social é aquela que ocorre por observação, aceitação e imitação de um comportamento julgado modelo.
Segundo Bandura, uma parte daquilo que um individuo aprende ocorre através da imitação ou da modelagem (Sprinthall & Sprithall, 1993). Para Dollard e Miller (1941), a imitação é o resultado de uma aprendizagem que ocorre em função das recompensas que se seguem à repetição das respostas de outras pessoas.
Numa interacção social o indivíduo poderá modificar o seu comportamento em função dos resultados das respostas dos outros membros do grupo.
A teoria da aprendizagem social toma em consideração a influência dos aspectos comportamentais, ambientais e cognitivos na aprendizagem humana, sem esquecer que esta se faz no meio social (Campbell; Hall; & Lindzey, 2000).
De acordo com Bandura citado por Sprinthall e Sprinthall (1993), o comportamento, as estruturas cognitivas internas e o meio interagem para que cada um actue como determinante indissociável da outra. As pessoas são, até certo ponto, produto do seu meio, mas também escolhem e moldam o seu meio. Por outras palavras, a aprendizagem é determinada por factores ambientais (maior ênfase ao meio social) e por factores pessoais ou factores cognitivos tais como: crenças, expectativas, auto percepções e também as variáveis biológicas (Campbell et al. 2000). A aprendizagem resulta da interacção recíproca entre o sujeito e o meio em que ele se encontra.

Reforço na aprendizagem social
Para Bandura citado por Sprinthall e Sprinthall (1993), nem toda aprendizagem resulta do reforço directo de respostas. As pessoas também aprendem imitando o comportamento dos outros. Este tipo de aprendizagem ocorre mesmo quando as respostas imitativas não são reforçadas.
Bandura explica que reforço vicariante é quando a criança que observa um adulto a ser elogiado por uma determinada acção terá uma maior probabilidade de responder da mesma forma que a criança que vê a acção mas não vê o reforço subsequente (Sprinthall & Sprinthall, 1993).
Bandura afirma que a maioria de reforços são de natureza social, tais como: atenção dos outros, os sorrisos, a aprovação, o interesse, a aceitação, etc. E não reforços ligados as necessidades físicas, excepto no que diz respeito aos primeiros anos de vida (Sprinthall & Sprinthall, 1993).
Nas sociedades em que vivemos muitas vezes os nossos comportamentos são reforçados por elogios que fazem com que repitamos mais vezes esses comportamentos. Não só os elogios influenciam a imitação e repetição dos comportamentos, pois a atenção e aprovação de certos actos pelos outros membros do meio em que nos encontramos encorajam aos indivíduos a imitar o comportamento reforçado socialmente.
Na sociedade as consequências de um determinado comportamento apresentado por um indivíduo dão informação e motivação aos que observam para a execução deste comportamento. A partir dos resultados de um determinado comportamento, os outros extraem informação destes resultados no sentido de conhecer mais o comportamento. As consequências positivas criam forças motivacionais no interior do indivíduo (observador) para a execução ou reprodução do comportamento observado, e estes comportamentos poderão perdurar por muito tempo se forem reforçados frequentemente pela sociedade em que o individuo se encontra. Por exemplo, observa-se que na sociedade moçambicana há maior tendência dos jovens produzirem a musica. Isto ocorre porque a própria sociedade apoia (reforça) frequentemente.

Factores envolvidos na aprendizagem social
Existem vários factores que influenciam a aprendizagem social tais como:
As consequências do comportamento que são consideradas muito positivas. Mesmo comportamentos considerados negativos podem ser imitados se as consequências forem consideradas positivas.

As características do observador
A maioria dos factores que influenciam a avaliação das consequências de uma acção observada dependem do observador: idade, sexo, posição social, valores. Deverá haver uma certa adequação entre quem imita e quem é imitado.

As características do modelo
O prestígio do modelo é crucial. Pode ser por ser competente numa determinada actividade ou por ser uma pessoa significativa para o observador. Muitas vezes, os efeitos do prestígio alargam-se a outras áreas que não aquelas em que este é competente. Nota-se na publicidade em que somos influenciados a adoptar comportamentos de atletas que nada têm a ver com aquilo que admiramos neles. Há posições sociais que encerram prestígio por si só, independentemente das pessoas.
Além destes factores, também são destacados outros factores tais como: a atenção, a memoria, as capacidades motoras, o reforço, a identificação, o estatuto do modelo e a origem do modelo. Assim como há factores envolvidos na ocorrência da aprendizagem social, há também factores que inibem a aprendizagem. Uma aprendizagem social pode não ocorrer se o observador não estiver motivado e também se ele não tiver capacidades físicas e motoras necessárias para desempenhar o comportamento observado (Mwamwenda, 2005).

Fazes da aprendizagem por observação
Campbell et al. (2000), destacam as seguintes fazes na aprendizagem social:
A primeira fase é aquela em que somos confrontados com um exemplo dado por uma pessoa: é o modelo. É importante que o observador preste atenção a este modelo.
A segunda fase é a reprodução simbólica. Nós não adaptamos de maneira passiva o modelo proposto: ele é integrado nos nossos sistemas de representações, ele é comparado com o que já temos em memória a este respeito e criticamo-lo, interpretamo-lo e armazenamo-lo em memória de forma simbólica.
Terceira fase é a reprodução do modelo. A eficácia com que conseguimos reproduzir o que vimos dependerá em primeiro lugar das nossas habilidades pessoais, das nossas competências anteriores num domínio similar e da familiaridade com o problema que se nos apresenta.
A quarta e última fase são as consequências do comportamento. Um comportamento será reproduzido em função das expectativas dos indivíduos e das consequências que este pode fornecer em termos de reforços positivos ou negativos.

Aplicações da aprendizagem por observação
O ensino de novos comportamentos
Quando se quer ensinar novas habilidades ou novas formas de pensar e de sentir, deve-se utilizar as mudanças ocorridas no comportamento, no pensamento ou nas emoções do modelo, de forma
deliberada. Ou seja, mostrar claramente os passos necessários para o modelo atingir o objectivo ou executar a tarefa.

Desenvolvimento das emoções
Através da aprendizagem por observação, as pessoas podem desenvolver reacções emocionais a situações nunca experimentadas.

Facilitar os comportamentos
Pode-se aprender comportamentos que façamos não por estarmos especialmente motivados para isso, mas por serem necessários em determinadas situações sociais, através da observação dos outros. Por exemplo, a roupa adequada para uma determinada situação.


Troca de Inibições
Se os alunos vêm um colega infringir as regras e não lhe acontecer nada, ficam com a ideia de que nem sempre se obtém consequências negativas ao infringir as regras, o que pode desinibir um pouco a turma. A inibição ocorre quando se vê um modelo obter consequências negativas com o seu comportamento, tornando indesejável a sua imitação. Existe o chamado “efeito onda” que consiste no efeito exponenciado da desinibição duma turma pelo facto de ter sido o seu líder a quebrar a regra. No entanto, este efeito também pode beneficiar o professor, pois se o líder for castigado, a turma ficará ainda mais inibida.

Reflexos e impacto da teoria no comportamento da juventude moçambicana
Ao ser exposto às actividades de modelos significativos e ao apreender as consequências que eles obtém para os seus actos, o indivíduo desenvolve representações simbólicas das actividades modeladas que irão guiar o seu comportamento futuro em situações semelhantes ou em contextos cujas regras sejam as mesmas.
A juventude moçambicana por vezes age como trituradoras sem filtro, pois mastigam toda a informação no meio social que chega até eles sem escolher ou recusar. Por meio da observação de certos modelos comportamentais locais ou de comportamentos estrangeiros através da televisão, retém informação (as vezes menos própria), que vai interferir com o seu comportamento social e psicológico. Esta informação quando implementada na prática for reforçada socialmente (através da atenção das outras pessoas, aprovação dos outros jovens ou adultos, aplausos e sorrisos, etc.) será repetida mais vezes. Nota-se que os comportamentos negativos são os que mais são imitados pela maioria dos jovens moçambicanos e muitos destes comportamentos são obtidos através da televisão. A aprendizagem social em Moçambique reflecte-se no uso de drogas, vestes indecentes como saias curtas, comportamentos agressivos, abortos, elevado número de jovens músicos, violência doméstica como fruto da aprendizagem no meio familiar, etc. Estes comportamentos revelam os frutos da aprendizagem social.
Os programas de televisão que apresentam violência aumentam os níveis de agressividade na população e principalmente nos jovens.
Os jovens aprendem a ser agressivos a partir de observação de modelos no meio em que eles se encontram. O meio exerce grande influência no comportamento dos indivíduos em geral. A maioria dos comportamentos agressivos em Moçambique resultam do modo como a sociedade reforça e pune as atitudes e comportamentos dos seus membros. A maneira como nos comportamos tem sido em função da imitação de certos modelos comportamentais e das consequências destes comportamentos que podem ser punidos ou reforçados pela sociedade em que nos encontramos.
Estas aprendizagens comportamentais fazem-se por influência dos modelos tradicionais (pais, irmãos, colegas, professores) e de modelos simbólicos (através da Tv., do cinema, dos jornais). Como frutos da aprendizagem por observação, certas crianças imitam comportamentos de seus actores favoritos (tais como “Batman”, “Superman”, “Spiderman”, etc.) ate chegando ao ponto de serem chamados pelos nomes desses actores. Esses comportamentos não só se notam nas crianças, mas também nos jovens e adultos. Ex: há jovens que gostam de serem chamados pelos nomes dos seus jogadores favoritos.
As nossas vestes, as nossas formas de se expressar, algumas das músicas que escutamos, os nossos comportamentos actuais na sua maioria não revelam as verdadeiras origens da nossa cultura. Isto mostra que a imitação de modelos estrangeiros tem um grande impacto na mudança da nossa sociedade.
Concordo com a teoria da aprendizagem social de Bandura porque de facto, a maioria dos nossos comportamentos são aprendidos através da imitação dos modelos observados na sociedade.
De acordo com a teoria da aprendizagem social de Bandura, os comportamentos são determinados pelos factores sociais e cognitivos. A aprendizagem humana vai além da associação estimulo-resposta. Nota-se que em Moçambique os jovens imitam certos comportamentos mas, antes da imitação analisam-os através da reflexão e diálogo com outros jovens usando os seus processos cognitivos. A partir da interacção social, os jovens podem aprovar ou reprovar o novo comportamento, e estes comportamentos aprovados são na sua maioria reproduzidos. Ex: a produção da música ė o comportamento que mais reflecte a imitação social em moçambique.
Na sociedade moçambicana, muitos comportamentos apresentados pela juventude são resultado da imitação a partir da observação de certos modelos obtidos na televisão mesmo não fazendo parte da nossa cultura e até mesmo não sendo aprovado pelos pais. A juventude moçambicana tem sido produto da modelação de comportamentos observados na sociedade e na televisão. Através dos sistemas de comunicação (rádios, televisão, jornais, etc.) rapidamente a sociedade moçambicana tem estado a apresentar diferentes e variados modelos comportamentais. Como fruto da imitação de modelos estrangeiros a juventude moçambicana está perdendo cada vez mais a sua cultura.
Infelizmente devido a aprendizagem social, o nosso país é vítima de comportamentos indesejados (modelos comportamentais fora dos padrões da nossa cultura). A aprendizagem social não só apresenta resultados negativos, mas também apresenta resultados positivos. Como fruto da aquisição de modelos estrangeiros, a maioria da juventude moçambicana está apostando nos estudos, e através dos sucessos (bom emprego, melhoria das condições de vida, etc.) revelados pelos que estudaram, os outros jovens por meio destes sucessos (reforço) também procuram reproduzir estes comportamentos (estudar) com muita motivação.
Para Campbell et al. (2000), a maioria dos reforços são de natureza social. Estes reforços são concedidos pelos membros da sociedade em que fazemos parte, e se não formos reforçados nos nossos comportamentos ou formos punidos, a tendência será de abandonar os comportamentos não reforçados. Na aprendizagem social a maioria dos reforços comportamentais iniciam em pequenos grupos tais como família ou amigos e a partir destes reforços o individuo ganhará motivação em apresentar esses novos comportamentos em grupos mais alargados e assim podendo ser imitado por outros membros da mesma sociedade.
Nota-se que muitos jovens moçambicanos músicos preferem produzir os estilos de música estrangeira (Rap) em relação aos estilos musicais moçambicanos. Esta maior aderência deve-se a reforços dados pela sociedade e principalmente por outros jovens. A juventude não só imita as músicas estrangeiras, mas também as formas de vestir, formas de falar, etc.
A vida na sociedade tem sido com base na imitação comportamental, e esta imitação é muito importante porque garante a sobrevivência e o desenvolvimento dos indivíduos e da própria sociedade.

 

Com base na informação abordada neste trabalho fazendo o uso da bibliografia recomendada, investigações na internet e de mais obras que fazem referencia ao assunto, chego a conclusão de que os jovens moçambicanos e a sociedade em geral tem vivido na base de um processo complexo de imitação de comportamentos observados no meio social. No entanto, a aprendizagem comportamental resulta de um processo complexo de modelação que surge da interacção do indivíduo com o seu meio social usando os processos cognitivos e as variantes biológicas de que se dispõem o organismo. A partir desta interacção, uso dos processos cognitivos e as consequências do comportamento, o indivíduo poderá imitar ou inibir o modelo comportamental observado.
Porém, se um jovem por apresentar um determinado comportamento tiver consequências positivas ou for reforçado pela sociedade, poderá influenciar os outros a imitação do seu modelo e a repetição deste comportamento. E se tiver consequências negativas, tenderá a abandonar este comportamento e podendo ser evitado por outros membros da sociedade.
Em Moçambique a variedade dos modelos que os jovens tem estado a apresentar demostram os reflexos desta teoria.


Bibliografia
Aguilar, L. Aprendizagem social. Acessado no dia 12 de Maio de 2009, http://alunos.di.ubi.pt/~a14676/psicologia/aprendizagem_social.pdf.
Catania, A.C. (1999). Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto alegre: Artmed.
Campbell, J.B. Hall, C.S. & Lindzey, G. (2000). Teorias da personalidade. Porto alegre: Artmed.
Mwamwenda, T.S (2005). Psicologia Educacional – Uma perspectiva africana. Maputo: texto Editores.
Sprinthall, A.N. & Sprinthall, C.R (1993). Psicologia Educacional. Lisboa: McGraw-Hill.