sexta-feira, 15 de outubro de 2010

SUICÍDIO


Nas últimas décadas, tem se observado, com grande preocupação, o aumento no número de casos de suicídio e tentativas de suicídio em muitos países do mundo. Resulta de um acto deliberado, iniciado e levado a cabo por uma pessoa com expectativa de um resultado fatal. É uma das principais causas de morte de adultos jovens, situando-se entre as três maiores causas na população de 15 a 34 anos, para ambos os sexos.
O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de psicologia das inadaptações socias e tem como objectivo principal endagar aspectos inerentes ao tema suicídio com o intuito de compreender, explicar e procurar trazer soluções sugestivas para o problema que tem afligido a sociedade. Para elaboração do presente trabalho recorreu-se a revisão bibliográfica.

Definição de conceitos
Segundo Gogh (2010), o termo suicídio foi utilizado pela primeira vez em 1737 por Desfontaines. O significado tem origem no latim, na junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (ação de matar). Num aspecto geral, o suicídio é um acto voluntário por qual um indivíduo possui a intenção e provoca a própria morte.

Segundo Marcelli e Broconnier (2007), denomina-se suicídio a vontade ou desejo consciente e deliberado que o individuo tem de se matar. O termo suicida designa comportamentos que põem em perigo a vida do sujeito ou a sua integridade física, sem o desejo ou a vontade consciente de se matar.

O sociólogo Durkheim, progenitor das teorias sociais acerca do suicídio, considera-o uma manifestação de um acto individual que na sua essência seria social. Define-o como “todo caso de morte que resulta directa ou indirectamente de um acto positivo ou negativo, praticado pela própria vítima, desde que a mesma saiba produzir esse resultado”. O autor, refere que cada sociedade, em cada momento de sua história, tem uma aptidão definida para o suicídio (Durkheim, 1996).

De acordo com Rodrigues (s/d), chama-se suicídio todo o caso de morte que resulta, directa ou indirectamente, de um acto, posetivo ou negativo, executado pela própria vítima e que ela sabia que deveria produzir esse resultado.

Dados estatísticos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1 milhão o número de suicídios em 2000. De acordo com a organização, a média anual de suicídios no mundo passou de 10,1 a cada 100.000 habitantes, em 1950, para 16 casos no mesmo universo de pessoas em 1995, o que corresponde a um aumento de 60%. A China lidera as estatísticas, foram 195 mil suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil, os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil.
Na Ásia e Oriente a taxa de suicídio por 100.000 habitantes é mais do que 16, na América do Norte situa-se entre 8 e 16, na América do Sul apresenta-se com menos de 8. Por cada suicídio completado há 10 tentativas. Os homens tendem a se suicidar de modo violento; as mulheres de modo suave e em menor proporção (Gregório, 2009).

Em Moçambique não existem análises estatísticas a nível nacional sobre a prevalência do suicídio. Existem somente poucos casos registados oficialmente nos hospitais ou postos de saúde provinciais. As pessoas que cometem ou tentam cometer o suicídio possuem idades compreendidas entre os 13 aos 25 anos. As causas mais comuns do suicídio no país são problemas sociais ligados ao namoro e falta de aceitação do individuo na sociedade as vezes por estes contrairem certas doenças como o caso de HIV sida.
Causas do suicídio
Nota-se a preocupação em caracterizar os factores que influenciam a ocorrência do suicídio, sejam eles psicológicos, sócio-econômicos, religiosos ou patológicos. Alguns autores enfocaram a aceitação do suicídio pela sociedade e pela família e também sua aceitação como cultura e tradição. (Martins & Boemer, 2001).
Kastenbaum & Aisenberg (1983), descrevem alguns factores que podem levar uma pessoa a cometer suicídio. Ressaltam que as causas fundamentais devem ser procuradas na contextura psicobiológica do próprio indivíduo. Marcelli e Broconnier (2007), partilham a mesma ideia com os autores, dividindo as causas do suicídio em dois tipos fundamentais que são: individuais (psicobiológicos) e sociais.
Os factores individuais destacam-se: problemas de saúde (cansaço, dores de cabeça, pesadelos); doenças crónicas (asma, insuficiencia renal); comportamentos agressivos e pré-deliquentes (roubo, extorsão); fugas; consumo de produtos (drogas); pensamentos tristes; percepção negativa de si mesmo; depressão; ideias de morte; transtorno de humor; transtornos ansiosos; transtorno de conduta; transtorno de personalidade; homossexualidade e transtorno de identidade sexual; esquizofrenia e episódios psicóticos agudos (Marcelli e Broconnier, 2007). Para Silva & Boemer(2004), o suicida é caracterizado por apresentar certa carência como: carência afetiva, emocional, enfim, é uma pessoa que precisa de atenção, de apoio e afecto.
Na optica dos autores Marcelli e Broconnier (2007), os factores sociais causadores do suicídio podem se destacar os seguintes: familias dissociadas e separadas na população de adolescentes notando-se ausência do pai ou de qualquer autoridade paterna; existência de alcoolismo no seio familiar; existência de suicídio ou de tentativa de suicídio na familia; frequência de incestos ou de um clima incestuoso e mudanças de casa, bairro ou mesmo de uma região para outra que possui cultura diferente causando choques culturais.
De acordo com Gregório (s/d), as causas do suicídio são numerosas e complexas, elas são analisadas sob três aspectos: biológicos, psicológicos e sociais.

Perspectiva biológica
Pesquisas indicam que o comportamento suicida acontece em famílias, sugerindo que factores biológicos e genéticos desempenham papel de risco. Algumas pessoas nascem com certas desordens psiquiátricas tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio.

Teorias psicológicas
Em princípio o suicídio é comparado por muitos psicológicos com os casos de neurose. A psicanálise explica que o suicídio resulta de uma situação psicótica. A tentativa geralmente está associada às fantasias que cada pessoa tem com relação à morte: busca de uma outra vida, desejo de ressurreição, reencontro com mortos, volta ao seio materno e retorno à vida intra-uterina, agressão e punição ao ambiente (Cassorla, 1991). Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, obsessões, delírios crônicos, e outros. O psiquiatra americano Karl Menninger sugeriu que todos os suicidas tem três dimensões inconscientes interrelacionadas: vingança/ódio (desejo de matar); depressão/desespero (desejo de morrer); culpa (Gregório, 2009).

Sentido sociológico
Socialmente o suicídio é um acto que se produz no marco de situações anômicas (desorganizadas) em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis. Para Émile Durkheim, a causa do suicídio só pode ser sociológica. Em seu estudo caracterizou três tipos de suicidas: suicida egoísta, suicida altruísta, suicida anômico (Durkheim, 1996).

Tipos de suicídio e suas caracteristicas
De acordo com Rodrigues (2009) citando Durkheim, existem três tipos de suicídio que são: egoista, altruísta e anômico.

Suicídio egoísta
Resulta de um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na sociedade são fracos. Uma vez que o indivíduo está fracamente ligado à sociedade, terminar sua vida terá pouco impacto no resto da sociedade. Em outras palavras, existem poucos laços sociais para impedir que o indivíduo se mate.

Suicídio altruísta
É o oposto do egoísta, onde um indivíduo está extremamente ligado à sociedade, de forma que não tem vida própria. Indivíduos que cometem suicídio baseado no altruísmo morrem porque acreditam que sua morte pode trazer uma espécie de benefício para a sociedade. Este tipo é muito frequente entre os povos primitivos. Ex: Suicídio de homens que chegaram ao limiar da velhice ou foram atingidos por doença; Suicídios de mulheres por ocasião da morte do marido; Suicídios de fiéis ou de servidores por ocasião da morte de seus chefes.

Suicídio anômico
Resulta de um estado onde existe uma fraca regulação social entre as normas da sociedade e o indivíduo, mais freqüentemente trazidas por mudanças dramáticas nas circunstâncias econômicas e/ou sociais. Este tipo de suicídio acontece quando as normas sociais e leis que governam a sociedade não correspondem com os objetivos de vida do indivíduo. Uma vez que o indivíduo não se identifica com as normas da sociedade, o suicídio passa a ser uma alternativa de escapar.

Métodos de suicídio
Há uma variedade de métodos usados no acto do suicídio. A absorção oral de medicamentos é o mais utilizado. As mulheres recorrem mais a esses métodos mais do que os homens. Para Marcelli e Broconnier (2007), os outros meios de tentativas de suicídio são mais raros, ao contrário do que se observa em outras idades da vida. Em primeiro lugar aparece a flebotomia, que se situa no limite entre o gesto automutilador localizado e a intenção suicida. Bem atrás dos métodos anteriores, vêm as vezes, defenestração, afogamento, precipitação sob um veículo, enforcamento e o uso de arma de fogo. Os métodos que buscam desorganizar ou mutilar o corpo, tais como a defenestação ou, a precipitação sob um veículo, fazem parte quase sempre de uma organização psicopatológica na qual o esquema corporal e a própria constituição da individualidade estão em questão. Os métodos mais traumáticos e mais desorganizantes parecem ser mais caracteristicos de adolescentes profundamente perturbados (psicose em particular).

Implicações psicológicas e sociais
O suicídio traz consequências drásticas a sociedade não somente do ponto de vista afectivo, mas também econômico. Estas consequências podem se manifestar a nível individual, familiar e da comunidade. A nível individual, familiar e da comunidade podem se notar manifestações como sentimentos de tristeza, choros, raiva, culpa, choque, ansiedade, solidão; sensações físicas como vazio, hipersensibilidade ao barulho, fraquezas; cognições como discrença, alucinações e comportamentos patológicos como certos tipos de disturbios de personalidade. A nível econômico poderão surgir grandes desequilíbrios econômicos como conseqüência das perdas dos diferentes individuos que compõem a sociedade. O suicídio também poderá causar mais suicídios na própria sociedade levando a gastos financeiros para prevenção e para cuidados a se ter nestas situações de mortes.

Formas de intervenção
São necessários esforços redobrados para melhorar o conhecimento dos clínicos e outros profissionais médicos, profissionais da saúde e o público geral para encorajar o reconhecimento precoce e necessidade de tratamento oportuno da depressão, do transtorno psicótico e do abuso de drogas, a fim de evitar o suicídio (Psiqweb, 2002).
Além das recomendações acima mencionadas, há necessidade de se ter atendimento ágil dos sobreviventes do suicídio com ênfase no fortalecimento e ampliação da rede social ou encaminhamento de qualidade; deve-se fazer o diagnóstico e tratamento dos transtornos e patologias psiquiátricas com maior risco de suicídio, incluindo a depressão do idoso e dos dependentes químicos. De acordo com Psiqweb (2002), programas de educação clínica e avaliações devem ser incentivadas, com o treinamento adequado e o suporte profissional para programas que tenham o objectivo de prevenir o suicídio na população geral. São essenciais os esforços para determinar o papel do fácil acesso e a disponibilidade de meios altamente letais de suicídio, incluindo, entre outros, as armas de fogo e o álcool.

Suicídio e inadaptação social
Nas semanas que antecedem o gesto suicida, é comum uma ou mais consultas com o médico generalista. O individuo costuma relatar queixas somáticas muito vagas (cansaço, dores, etc), um mal estar geral, mas não menciona necessariamente suas ideias suicidas se não for indagado directamente a esse respeito. Quando se pesquisa o caso, o individuo apresenta uma sintomatologia depressiva, em particular com um declinio sencível no plano dos resultados escolares/profissionais, um recolhimento em si mesmo, transtornos de sono ou uma tendência aos acidentes repetidos. Nos dias ou horas que precedem a tentativa de suicídio, é comum observar-se um aumento de angústia: o individuo expressa o temor de não resistir as pressões, o medo de desabafar. Ele não consegue resolver esse aumento de tensão por meios mais simbolizados ou mentalizados, e passa ao acto sobre o seu corpo (Poland, 2009).

O suicídio é considerado uma tragédia familiar e pessoal, causando sofrimento naqueles envolvidos com a vítima. O motivo que desencadeia uma crise suicída não é definido por uma situação única ou por um conjunto de circunstâncias, mas sim pela percepção do individuo do acontecimento e de sua capacidade ou incapacidade para conseguir enfrentar aquela situação. Quando um individuo não consegue apoiar-se na rede de contacto social, seus recursos pessoais estão em falta e a situação de crise para ele é insuportável, é possível que ele veja a morte como única saída (Slaikeu, 2000).

Uma pessoa que não tem recursos para superar as reacções e as adversidades pelas quais está passando, poderá escolher acabar com a própria vida como forma de superar esses problemas. Há uma relação directa entre o suicídio e a psicologia das inadaptações sociais, uma vez que esta procura estudar comportamento de individuos inadaptados a um determinado contexto de modo a facilitar a sua adaptação, é importante ressaltar que o individuo que comete suicídio é uma pessoa que está desadaptada a aquele contexto ou situação em que não suporta mais o sofrimento e vê na morte o único descanso, a única saída para aliviar a tensão. A psicologia das inadaptações sociais tem o seu papel bastante importante nesta situação porque visa agir de modo a ajudar o individuo a se adaptar aquela situação evitando o acto suicída.

Conclusão
Em algumas vezes o suicídio se mostra como um pedido de ajuda, um pedido de socorro, algo que ocorre num momento de muito desespero. De uma forma geral, o acto suicida surge como tentativa de fuga de uma situação de sofrimento que chega aos limites insuportáveis para o individuo. Por outro lado, é uma forma que as pessoas encontram para chamar atenção.
Há uma grande interação entre os factores individuais e sociais quando se trata da origem do suićidio. O suicídio ocorre por causa dos problemas sociais (da violência, da falta de estrutura, problemas familiares, financeiros, pressão no trabalho) e cognitivos (stress, depressão, desespero e outros), enfim, por estressores do cotidiano. Durkheim defende que a pessoa faz isso pelo facto de vivenciar a percepção de que ela não tem peso na sociedade em que vive, uma sensação de menos valia. Sua estrutura emocional ou estrutura psíquica está mal adaptada à realidade em que vive. O suicídio traz consequências drásticas a sociedade não somente do ponto de vista afectivo, mas também econômico.
Contudo, a prevenção do suicídio é uma tarefa muito desafiadora para os médicos, profissionais de psicologia e a sociedade em geral, onde estes, devem juntos trabalhar de modo a ajudar o individuo a melhor resolver os seus conflitos facilitando sua melhor integração social evitando o acto suicída.






Referências bibliográficas

Cassorla, S. (1991). Do Suicídio – Estudo Brasileiros. Campinas: Papirus.

Durkheim, E. (1996). O Suicídio. Lisboa: Presença.

Gogh, V. (2010). Suicídio. Acessado no dia 29 de Agosto de 2010 em http://www.spectrumgothic.com.br/gothic/suicidio.htm.

Gregório, S. (2009). Portal do Espírito: Suicídio. Acessado no dia 29 de Setembro de 2010 em http://www.espirito.com.br/portal/artigos/sergio-biagi/ensaio-suicidio.html.

Kastenbaum, R. & Aisenberg, R. (1983). Psicologia da Morte. São Paulo: Pioneira.

Martins, M.; Boemer, R. (2001). Produção científica sobre o tema da morte e do morrer: estudo de um periódico. Gaúcha.

Marcelli, D. & Braconnier, A. (2007). Adolescência e psicopatologia. Porto Alegre: artmed.

Psiqweb (2002). Resumos do simpósio sobre suicídio 1999. acessado no dia 29 de Setembro de 2010 em http://gballone.sites.uol.com.br/acad/suicidio.htm.

Poland, S. (2009). O papel dos médicos na prevenção do suicídio entre os jovens: relato de uma experiência. Acessado no dia 4 de Setembro de 2010 em http://conhecerparaprevenir.blogspot.com/2009_07_01_archive.html.

Rodrigues, A. (s/d). Durkheim: Sociologia. São Paulo: Ática.

Silva, P. & Boemer, R. (2004). O suicídio em seu mostrar-se a profissionais de saúde. Acessado no dia 4 de Setembro de 2010 em www.fen.ufg.br.

Slaikeu, A. (2000). Intervencion en Crises: manual para prática e investigacion. México: Manual Moderno.