terça-feira, 5 de abril de 2011

Stress, conceitos e modelos teóricos

Autor: Fernando Marrengula


As transformações do mundo moderno promoveram um grande impacto na sociedade. Considerando a agilidade destas mudanças que foram ocorrendo ao longo do tempo, não foi possível ao ser humano se adaptar rapidamente a nova realidade. A alta compectitividade no mercado de trabalho, o elevado “desejo” de consumo, o medo de estabelecer um relacionamento com as outras pessoas e a auto- exigência tem gerado insegurança que interfere na saúde mental das pessoas, pois a maneira como estão vivendo está distante do que haviam planeado para as suas vidas. Estas situações causam desconforto, propiciando o estado de stress, que exige do indivíduo o desenvolvimento de habilidades para enfrentá-las, a fim de evitar o adoecimento.

O stress é uma resposta complexa do organismo, que envolve reações físicas, psicológicas, mentais e hormonais frente a qualquer evento que seja interpretado pela pessoa como desafiante.

O presente trabalho surge no âmbito da disciplina de Psicologia da Emoção, Stress e Comunicação convista a comprender e explorar conceitos e modelos teóricos inerentes ao Stress.

O trabalho apresenta a seguinte estrutura: introdução, discussão de conceito de stress, modelos teoricos, teoria de temas de vida do stress recorrente e crônico, modelos transacional de Lazarus, Teoria de síndrome geral de adaptação de Hans Selye, modelo da conservação de recursos de Hobfool e Freedy, reação de emergência Cannon-Bard e a conclusão.

Para a elaboração do trabalho recorreu-se a revisão bibliográfica do material que aborda assuntos sobre o Stress.




2. Discussão do conceito de Stress
A palavra "Stress" etmologicamente é de origem inglesa que significa esforço de adaptação do organismo para fazer face a situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno ( Vieira, 2009).

Stress como processo é a tensão diante de uma situação de desafio: por ameaça ou conquista. O stress como estado é o resultado positivo ou negativo da tensão realizada pela pessoa (França & Rodrigues, 2005 citados por Vieira, 2009).

Reação psicofisiológica muito complexa, que tem, em sua gênese, a necessidade de o organismo lidar com algo que ameaça sua homeostase ou equilíbrio interno (Lipp 2004, citado por Vieira, 2009 ).

Stress pode ser entendido como uma tensão física, psíquica, social, positiva ou negativa, que decorre de um esforço desmedido do indivíduo para responder a determinadas exigências externas (Mendes & Cruz, 2004 citados por Vieira, 2009).

Apesar da existência diversos conceitos para a compreensão do stress, existem pontos em comum entre eles, que definem o stress envolvendo sempre: um estímulo externo, produzido a partir das situações do quotidiano; repostas psicológicas frente àquele estímulo e uma gama de consequências, nas quais o bem–estar do indivíduo está envolvido, como também, a compreensão de que a relação destes estímulos externos com o stress pode estar moderada por características do indivíduo e da situação.

O stress não deve ser considerado apenas como algo negativo, pois muitas pessoas ao buscarem a superação de seus limites optam por vivenciar situações de stress em diversos momentos de sua vida, como por exemplo, na escolha do desporto e ou da profissão. Sendo assim, o stress pode ser considerado como um mecanismo de adaptação utilizado pelas pessoas para responder as “exigências do meio externo, ou para responderem as metas que elas próprias se fixam”. O estímulo stressor, quando é interpretado como desafiador, provoca um quebra na homeostase do funcionamento interno que, por sua vez, cria uma necessidade de adaptação para preservar o bem-estar e a vida. A necessidade de adaptação exige a emissão de vários comportamentos adaptativos que se constituem na forma como a pessoa lida com o stress, ou seja, suas estratégias, adequadas ou não de enfrentamento.


Definiçôes do stress pelo senso comum
A palavra stress se refere-se a uma tensão mental ou física que os individuo experiencia no quotidiano, e é provocado por estimulos que ameaçam o bem-estar dos individuos.

É o desgaste mental que depois de uma grande e intensa actividade num curto espaço de tempo, culminando numa fadiga de espirito e corpo.

É a sensação ou estado de tensão, fadiga mental e/ou psicológico causado por estimulo tão repetitivo e desagradável.

É um estado de tensão, desgaste provocado pela descarga mental e fisica do individuo.


3.Modelos teóricos do stress

3.1. Teoria de temas de vida do stress recorrente e crônico

Os temas de vida funcionam como um referencial emocional que leva a pessoa a seleccionar, embora não intencionalmente, determinadas situações, parceiros e oportunidades semelhantes a situações do passado e que ofereçam repetição de sentimentos, atitudes e papéis. Os temas, que se repetem inúmeras vezes na vida dessas
pessoas, geram um nível de stress excessivo e contribuem para uma sensação crônica de fragilidade. É como se essas pessoas procurassem reviver os temas que são característicos de suas vidas. Esses temas agiriam como verdadeiros cenários nos quais a vida desenrola-se e onde elas parecem contracenar com pessoas diferentes, mas sempre mantendo o mesmo script ( Lipp, 2006).




3.2. Modelos transacional de Lazarus

Esse modelo, também chamado de modelo cognitivo, sublinha a importância de processos mentais de juízo para o stress: segundo ele, as reações de stress resultam da relação entre exigência e meios disponíveis. Essa relação é, no entanto, mediada por processos cognitivos (juízos de valor e outros). Assim, não apenas factores externos podem agir como stressores, mas também factores internos, como valores, objectivos (Telles-Correia & Barbosa, 2009).

Esta teoria realça a interdependência entre as cognições, as emoções e os comportamentos. Trata-se duma perspectiva na qual se destacam dois tipos de processos, a avaliação e o coping, os quais se referem à relação que se estabelece entre o indivíduo e o seu meio ambiente (Martins, s/d).

De acordo com Martins (s/d), a avaliação inclui a avaliação primária (mediante a qual a pessoa avalia a importância do acontecimento para o seu bem-estar) e a avaliação secundária (em que a pessoa avalia a sua capacidade para lidar com a situação).

O coping refere-se ao processo de lidar com as exigências internas e/ou externas que excedem os recursos da pessoa. A avaliação e o coping são processos transaccionais, na medida em consideram não o meio ou a pessoa considerados isoladamente, mas sim a integração de ambos numa determinada transação. A avaliação (por ex. a avaliação duma situação ameaçadora) implica um conjunto de condições do meio que são avaliados pela pessoa que tem características psicológicas particulares. O coping, por sua vez, inclui pensamentos e comportamentos que a pessoa utiliza para lidar com as exigências das transações indivíduo – meio que têm relevância para o seu bem estar (Martins, s/d).

Por outro lado, as avaliações das relações indivíduo-meio são influenciadas pelas características pessoais antecedentes como padrões de motivação (valores, objectivos), crenças acerca de si próprio e do mundo que o rodeia, e recursos pessoais de coping. A avaliação é também influenciada por variáveis do meio como, por exemplo, a natureza do perigo, a sua eminência, a duração, a existência e qualidade dos recursos de apoio social, que facilitam o processo de coping (Martins, s/d).
As variáveis cognitivas medeiam a resposta de coping, no sentido em que a pessoa tem tendência a evitar as situações avaliadas como ameaçadoras, para se confrontar com os desafios e para tentar aceitar as situações de dano ou de perda (Martins, s/d).


3.3.Teoria de Síndrome Geral de Adaptação de Hans Selye

Stress não é o factor que actua sobre o organismo, mas sim o sofrimento do organismo provocado pela acção desse factor - ou alarme (Romanach, s/d).

Hans Selye citado por Romanach (s/d) enunciou três premissas relacionadas ao stress:
1 - Qualquer stress desenvolve uma síndrome constituída de manifestações gerais essencialmente similares.
2 - Esta síndrome contribui para a adaptação.
3 - A adaptação pode causar doença.

A síndrome geral de adaptação consiste em um conjunto de reações inespecíficas e gerais do organismo contra estímulos persistentes causadores de stress. As alterações desta síndrome, sejam funcionais, bioquímicas, humorais ou morfológicas, são sempre as mesmas, gerais e não específicas, qualquer que seja a natureza da causa que as provocou (Romanach, s/d).

De acordo com Romanach (s/d), o termo síndrome advém do facto das manifestações, embora parcialmente independentes, estarem coordenadas entre si. A síndrome é geral porque condiciona fenómenos generalizados de defesa. Adaptação indica aquisição e manutenção de estado de resistência ou equilíbrio.

Esta síndrome torna-se patológica quando as reações fisiológicas de defesa se ampliam e intensificam em excesso, quando assumem curso anormal devido a interferências patológicas ou quando perdem a relação com a intensidade do alarme. A rotura da síndrome de adaptação produz morte orgânica (Romanach, s/d).

Quando um indivíduo é exposto continuamente a uma sobrecarga, a síndrome geral de adaptação resultante passa por três períodos distintos:

1. Alarme >>>>>>REACÇÃO DE ALARME>>>> CHOQUE >>>>CONTRA-CHOQUE

2. Fase de resistência

3. Fase da exaustão

Segundo Romanach (s/d), o alarme repetitivo ou excessivo está na base da doença de adaptação. Os alarmes representam factores de qualquer natureza que actuam sobre o organismo e o desviam do estado normal ou de repouso, mediante conjunto de modificações que constituem o stress.
O alarme vinculado ao fenómeno de stress induz no organismo:
uma reação fisiológica ou adaptação satisfatória;
ou uma reação patológica, por excesso, insuficiência ou anormalidade, dando origem às doenças de adaptação.

O estado de stress produz no organismo consequências específicas dependentes da natureza do alarme, com simultâneas consequências inespecíficas comuns a outros alarmes, constituindo estas últimas a finalidade do estudo da síndrome geral de adaptação (Romanach, s/d).


3.4.Modelo da Conservação de Recursos de Hobfool e Freedy (1993)

O Modelo da Conservação de Recursos de Hobfoll e Freedy (1993) foi originalmente desenvolvido para explicar o desenvolvimento do Stresse; sendo uma formulação teórica de carácter motivacional, essa abordagem postula que o stress surge quando aquilo que motiva o individuo é subtraído ou frustrado. Os elementos motivadores são considerados recursos de que se vale o individuo para cumprir sua tarefa; já os agentes stressores do quotidiano minam esses recursos e geram insegurança sobre sua capacidade para alcançar o êxito pessoal ( Leite, 2007).

Assim, segundo essa abordagem, a síndrome se instala quando falham as estratégias de enfrentamento de caráter activo. Assinala, ainda, que a sua prevenção deve enfatizar a consecução de recursos que permitam um desempenho eficaz nas tarefas quotidianas e mudar as percepções e cognições dos indivíduos. Se esses indivíduos conseguem evitar a perda de recursos ou aumentar aqueles já disponíveis, mudarão suas percepções e cognições de maneira positiva e consequentemente diminuirão os níveis de stress percebido ( Leite, 2007).


3.5.Reacção de Emergência Cannon-Bard

Em 1932, Walter B. Cannon em seu livro "A Sabedoria do Corpo", utilizou o termo "reação de emergência", para descrever que o ser humano ao reagir de maneira inadequada às exigências psíquicas no seu ambiente de vida, psicologicamente despreparado, poderá desenvolver um desgaste anormal no seu organismo e, apresentar uma incapacidade crônica de tolerar, superar ou se adaptar, apresentando lesões, desde intranquilidade até esgotamento ou embotamento mental, dependendo da sua estrutura psíquica (Fiamoncini e Fiamoncini, 2003).

Cannon suscitou o conceito “reacção de emergência”. Segundo supunha, em uma situação de emergência, o fluxo sanguíneo é redistribuído para os músculos e órgãos activados de modo que o suprimento de energia chegue em tais áreas do corpo. Sendo assim, a reacção de emergência ou “reacção de luta-ou-fuga” é uma resposta adaptativa que vem antes dos estados emocionais, favorecendo o consumo de energia necessitado. As situações de perigo activam o sistema nervoso autônomo e a medula supra-renal, que preparam o corpo para a luta ou fuga (Okabe, s/d ).

As respostas fisiológicas do organismo ao stress que foi filtrado através da percepção e dos mecanismos psicossociais de defesa e a seguir modificado pelos apoios e gratificações que a pessoa obtém na sua vida, são necessários para a regulação da constância do meio interno . Cannon conceituou essa regulação como sendo uma função que chamou de homeostasia, que é a tendência do organismo vivo de reparar o dano causado por estímulos de qualquer tipo (Okabe, s/d ).



4. Conclusão
Contudo, pode-se referir que, stress não é necessariamente uma patologia, mas pode torna-se uma patologia dependendo de como o indivíduo vivencia os agentes stressores ou da frequência dos mesmos.
A vulnerabilidade individual e a capacidade de adaptação são muito importantes na ocorrência e na gravidade das reacções ao processo de stress. O desenvolvimento do processo de stress depende tanto da personalidade do indivíduo como do estado de saúde em que este se encontra (equilíbrio orgânico e mental), por isso nem todos desenvolvem o mesmo tipo de resposta diante dos mesmos estímulos.
A teoria de Reação de Emergência Cannon-Bard, fala da adaptabilidade e o desenvolvimento da resistência aos efeitos do stress e dos estímulos nocivos são pré-condições para a vida e a sobrevivência. Tal adaptação pode envolver reações específicas de defesa, como o desenvolvimento de anticorpos para vírus, ou mecanismos envolvidos na adaptação ao frio ou à vida em grandes altitudes ou a hipertrofia muscular por trabalho pesado e prolongado.
O Modelo da Conservação de Recursos de Hobfoll e Freedy, enfatiza a motivação do individuo, refere que, se o que motiva o individuo é subtraido ou frustrado ele pode entrar em stress. Portanto o stress é provocado pela falta ou retirada de algo que possibilite ao individuo alcançar o êxito pessoal ou realizar as tarefas do quotidiano.

O Modelo transacional de Lazarus dá ênfase aos processos mentais de juízo para a ocorrência do stress, segundo o mesmo, as reações de stress resultam da relação entre exigência e meios disponíveis. Essa relação é, no entanto, mediada por processos cognitivos. Portanto, não só os factores externos podem agir como stressores, mas também factores internos, como valores, objectivos.

A síndrome geral de adaptação referem que o stress pode conduzir à infecção, à doença e à morte. Este modelo descreve três estádios na ocorrência do stress: Alarme - quando os individuos são surpreendidos ou ameaçados, eles tem uma reacção física imediata chamada, frequentemente, de reação de Luta-ou-Vôo. Isto prepara o corpo para situações ameaça de vida, canalizando recursos ausentes como o do sistema digestivo e imunitário, a umas necessidades musculares e emocionais mais imediatas. Isto conduz a
uma supressão do sistema imune que está sendo comprimido, fazendo-nos suscetíveis à doença; Resistência - quando os individuos experienciam os níveis do stress, eles ficam inicialmente mais resistentes a doenças, que os conduz acreditar que eles podem facilmente se adaptar a estas situações mais stressantes; exaustão -
eventualmente os pontapés da realidade dentro de nossos corpos persistem em tentar manter uma elevação, em virtude do stress. As partes do corpo começam literalmente a ficarem exaustas e os individuos se transformam num puro mal-estar. Se eles continuarem a lutar contra esta situação, podem até morrer.



5. Referências bibliográficas

Fiamoncini R. L. & Fiamoncini, R. E (2003). Reação de emergência Cannon-Bard. Desponível em http://www.efdeportes.com/efd66/fadiga.htm acessado a 26 de Março de 2011.

Leite, N. ( 2007). Sindrome de burnout e relações sociais no trabalho. Disponível em
http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3261/1/2007_NadiaMariaBeserraLeite.PDF acessado a 26 de Março de 2011.

Lipp, M., (2006). Teoria de temas de vida recorrente e crônico. Disponível em http://redalyc.uaemex.mx/pdf/946/94626311.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Martins, M. (s/d). Factores de riscos psicossociais para saúde mental. Desponível em
http://www.ipv.pt/millenium/Millenium29/33.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Okabe, C.(s/d). Estilo de Vida e Estresse. Disponível em http://www.psicossomatica-sp.org.br/artigos5.html acessado a 26 de Março de 2011.

Romanach, A. (s/d).Teoria de Síndrome geral de adaptação de Hans Selye (1907-1982). desponível em http://www.homeopatiaexplicada.com.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=98&Itemid=17 acessado a 26 de Março de 2011.

Telles-Correia, & Barbosa, A. (2009). Ansiedade e depressão em medicina modelos teóricos e avaliação. Desponível em http://www.actamedicaportuguesa.com/pdf/2009-22/1/089-098.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

Vieira, P. (2009). Estresse no trabalho: A percepção de vendedores de uma empresa. Desponível em http://inf.unisul.br/~psicologia/wpcontent/uploads/2009/07/PatriciaCorrea.pdf acessado a 26 de Março de 2011.

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